sábado, 31 de dezembro de 2011

Bom Ano

Desejo a todos um Bom Ano novo, com um abraço.

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Divagações arbitrárias no culminar de 2011

Com o  ano a terminar são inevitáveis as memórias deste final de ano onde a palavra esperança se foi perdendo, à medida que as medidas de austeridade foram crescendo.
Lembro-me, com saudade, das bondosas palavras do povo alentejano e todos os bons momentos passados a exercer a minha actividade profissional. Aprendi muito este ano e apesar de tudo não posso deixar de o realçar.
No entanto arrepiam-me todas estas mudanças drásticas e brutais sentidas na pele pelo comum cidadão, que, com o suor do seu trabalho, se esmera por uma merecida retribuição ao fim do mês. Infelizmente esse prémio mensal penaliza cada vez mais o humilde trabalhador através de sucessivos cortes nos salários, ou mesmo,  no incumprimento dos patrões nas suas obrigações, aumentando em catadupa os casos de salários em atraso ou os lay off.
Apercebo-me, com um sentimento de frustração e inconformismo, daqueles que se vangloriam por terem conseguido enganar o Estado, fugindo aos impostos. Irrita-me as pessoas fazerem de mim burro simplesmente porque não me passa pela cabeça o não cumprimento da lei.
A idade deixou de ser um posto e ao mínimo deslize temos o nosso posto de trabalho em risco. Se tivermos em conta que o deslize pode ser apenas não concordar com uma opinião influente, pergunto será tudo isto democracia.
As leis mudam a um ritmo frenético. Ontem fui com a minha irmã a uma superfície comercial e ela tencionava comprar o código de trabalho, o que eu achei positivo. No entanto aquando da sua tomada de decisão  interrogou-se, sobre se deveria ou não comprar, pois o mesmo era de 2011 e estando a chegar a 2012 as regras do jogo poderiam mudar e já não seria vantajoso comprar o dito livro. Não comprou!!!
A rapidez das mudanças assusta-me, muito mesmo. Arrepia-me saber que os direitos adquiridos dos trabalhadores estão, progressivamente, a ser perdidos, em detrimento de políticas económicas dúbias e pouco transparentes.A política neoliberal do governo imprimida pela troika está a afundar o país tornando-o menos competitivo economicamente com uma consequente perda da sua soberania.

Numa fase onde as notícias não são as melhores salienta-se, pela positiva o crescimento do blogue no respeitante ao número, qualidade dos textos produzidos assim como no número de visitas.  No final de 2011 não podia deixar de realçar o trabalho desenvolvido pelos responsáveis dos textos transcritos salientando,  merecidamente, o Sérgio, pois sem a sua presença nada do que foi construído seria possível.

Para 2012 aguardo que seja tão bom ou melhor que 2011, que me traga trabalho e saúde para mim e para as pessoas que me estão próximas.

Feliz 2012 para todos!!!

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Lixo em directo

na sic, onde há uma exposição live feed de uma acusação com todos os detalhes sobre a expulsão de um dos concorrentes do «Peso Pesado», um formato tele lixo que tem merecido a simpatia de muita gente. Há escândalo de frivolidades? liguem as câmaras e mostrem ao tuga, talvez o parvo não pense na vida.

Arroto de Natal

O tipo arrotou. E houve quem se tivesse dado ao trabalho de ouvir. Ainda bem: escreveram isto. E isto.

Textos sugeridos por Sérgio Vieira.

Mensagem do Coveiro aos tontos.

Explicando o que quer dizer com democratização da economia, o primeiro-ministro utilizou a mensagem de Natal para afirmar que quer “colocar as pessoas, as pessoas comuns com as suas actividades, com os seus projectos, com os seus sonhos, no centro da transformação do país”. E “que o crescimento, a inovação social e a renovação da sociedade portuguesa venha de todas as pessoas, e não só de quem tem acesso privilegiado ao poder ou de quem teve a boa fortuna de nascer na protecção do conforto económico”. Traduzindo a treta de Natal por miúdos, a “democratização da economia” de Passos Coelho é a concretização do sonho de fazer de cada português um precário sem direito a protecção no desemprego, de nos pôr a trabalhar mais de um mês à borla e subtrair-nos mais de dois salários por ano, de aumentar os impostos e os preços de serviços públicos essenciais como nunca ninguém aumentou, não se importar que isso traga atrás de si encerramentos de empresas em barda, uma aceleração record do desemprego e um recuo histórico do PIB, de vender empresas públicas ao desbarato e pôr-nos a pagar uma renda a quem as compre durante as próximas gerações, desmantelar os nossos serviços públicos para abrir negócios aos privados e, democracia das democracias, manter as grandes fortunas e o sector financeiro à margem de qualquer sacrifício, ao mesmo tempo que insulta quem sacrifica dizendo-nos para nos irmos embora do país e lembrando-nos que vivemos acima das possibilidades de uma riqueza que nunca provámos. Prefiro não escrever mais nada. Sinto-me insultado sempre que este tipo abre aquela boca.

Actualização: na meia hora a seguir a escrever este post, no facebook, recebi mais dois pedidos na aplicação Castle Ville e um noutra palermice do género. Afinal, deve estar tudo bem.

Texto retirado do blogue O país do Burro em 25 de Dezembro de 2011


PROLETARIZAÇÃO, PERDÃO, DEMOCRATIZAÇÃO DA ECONOMIA

O Primeiro-ministro enfatizou duas ideias na comunicação natalícia e de ano novo, 2012 será um ano de mudança e de “democratização da economia”.

Relativamente à mudança não restarão grandes dúvidas face ao que já conhecemos e ao que se espera conhecer. Os aumentos já decididos em vários serviços e bens, os cortes nos apoios sociais envolvendo diferentes áreas, o aumento de impostos, etc., etc., mostram com de facto 2012 vai ser um ano de mudança, na linha, aliás, do muito que na vida de muitas pessoas já aconteceu, cito, só como exemplo, o aumento já verificado e ainda previsto no número de desempregados.

Por outro lado e relativamente à “democratização da economia”, a perspectiva, até de acordo com gente insuspeita, creio podermos esperar é mais provavelmente uma via de proletarização da economia, aliás, o próprio Primeiro-ministro já enunciou que o caminho é o empobrecimento.

Aumento da carga horária sem alteração de vencimento, corte de dois vencimentos em toda a administração e nas pensões e reformas, flexibilização do emprego, abaixamento do tempo e montante dos subsídios de desemprego, entre outras medidas anunciadas ou previstas que assentam, sobretudo no abaixamento dos custos do trabalho como forma de financiar a economia, ao abrigo da incontornável competitividade, conduzirão, é reconhecido pelo próprio governo, a uma fase recessiva grave que não se percebe com sustentará uma “democratização da democracia”.

Provavelmente, ”democratização da economia” quererá dizer que o acesso à pobreza e às dificuldades é mais equitativo, ou seja, franjas como a chamada “classe média” podem agora aceder à pobreza em situações de maior democratização.

A pobreza já não é uma condição só acessível a alguns, agora e em 2012 muitos de nós já vamos poder ser pobres.

Gostava de estar errado.


Texto escrito por Zé Morgado no Blogue Atenta Inquietude. no dia 25 de Dezembro.

sábado, 24 de dezembro de 2011

E é Natal

Feliz Natal a todos.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Lard can

Sebosidades num grande (como sempre) texto de Manuel António Pina.

O rapaz da fogueira

Esta noite, as luzes apagaram-se mais cedo e a aldeia encerrou-se precocemente na escuridão. Deambulas pelas ruas sem destino marcado e vais sentindo as gargalhadas que atravessam as paredes das casas, enquanto imaginas o que estará para além do que nunca te deixaram ver ou sentir.

Ano após ano, desde que te lembras existir, aquela era sem dúvida a noite mais triste da tua vida. Talvez por isso, nunca deixavas de caminhar, como se tivesses um lugar a alcançar e existisse mesmo alguém à tua espera, ao fundo de cada esquina que vias aparecer à distância da imaginação.

Hoje, à medida que a noite avança, os teus passos ecoam na calçada e isso é o mais próximo do que podes saber sobre a porta de uma casa. Agora que te lembras, já lá vão muitos anos desde a tua chegada à rua. Verdadeiramente, foi ali que nasceste e também ali cresceste. Tudo o que conheces tem o sabor daquelas pedras.

No vazio da escuridão, continuas a avançar, até que, subitamente, do outro lado da rua há uma luz que se acende. Tens pressa em esconder-te, mas as pernas tremem-te e quanto mais tentas correr, mais o teu corpo balança descoordenadamente de um lado para o outro. Nunca confiaste em ninguém e nunca ninguém confiou em ti e, por isso, a tua vida é a solidão.

Pouco depois, quando a luz se apaga, regressas ao trilho desejado. Na próxima esquina, lembras-te, quando derem as onze badaladas, haverá muita comida no lixo, trazida pelos homens da casa amarela. E dás por ti a caminhar mais rapidamente, desejoso de forrar os sentidos com alguma segurança.

Não tarda para que percebas que tudo será como nos anos anteriores. Estranhamente ou talvez não, dás por ti a pensar como é curiosa esta época, em que os homens repetem, ano após ano, um conjunto de rituais, como se temessem a mudança e as partidas que o futuro, inevitavelmente, anuncia. Talvez por isso, logo a seguir, exactamente às onze badaladas em ponto, a casa amarela abrirá as suas portas e os caixotes com os produtos enjeitados estarão à tua espera. Agora mesmo, a primeira refeição do dia reclama a tua presença.

Já com a barriga cheia, poderás novamente avançar. Ouvirás as doze badaladas junto à porta da casa de pedra e os sorrisos dos meninos chegarão até ti, como se te embalassem e convidassem a entrar.

Mas tu estás sempre de partida e a próxima casa já está ali mesmo à frente, a escassos metros da tua presença. À distância, qualquer observador atento poderia perceber que a noite avança em sintonia com os teus passos a ecoar na calçada. Dentro de ti, há risos e barulhos constantes que tentas entender à luz do silêncio da tua sombra, a perseguir-te. Mas as escalas são muito diferentes e existem mundos difíceis de equilibrar, até mesmo no pensamento…

Ao fundo da rua, vês um vulto negro a correr para o caixote da casa mais pobre da aldeia. Serão talvez quatro da madrugada e sabes que dali não haverá muito a esperar, mas, ainda assim, avanças com a mesma ansiedade com que sempre o fizeste anteriormente. Quando estás quase a chegar, um barulho estranho desperta-te a atenção e paralisa-te os movimentos.

Finalmente, quando ganhas coragem e tocas o saco preto atirado para o lixo ouves um leve choro que te toca a alma, como nunca ninguém havia conseguido. Tomas aquele embrulho nas mãos e ao depositá-lo no chão compreendes que existe ali uma criança, muito pequenina, como todas as crianças.

Ao olhar aquele rosto desprotegido quase podes jurar estar perante um espelho do tempo, em todos os sentidos. Também tu, um dia, tinhas sido abandonado, para não mais ser lembrado. Tu poderias ser aquela criança – e ali mesmo, em frente à casa mais pobre da aldeia, o teu pensamento foge para junto daqueles que um dia terão partido depois de te deixar. Talvez as pedras duras encimadas pelas janelas com vidros partidos te ajudem a explicar o que nunca poderias perdoar.

As lágrimas caem-te pelo rosto, como nunca pensaste poder acontecer. Retiras o casaco de serapilheira, único abrigo que ainda te resta e com dificuldade consegues estendê-lo no chão. Depois, a tremer por todos os lados, embalas o tenro rebento em todas as roupas que encontras e deposita-lo no teu casaco, enquanto procuras nos bolsos um fósforo que te apressas a acender.

No chão, mesmo ao lado daquela criança, começam a arder os papéis que acumulaste ao vasculhar os restos dos outros. Aquele calor não durará muito, pensas para ti próprio. E então, deixas-te cair sobre o chão, ergues as mãos e arrancas cada uma das pernas de pau que um dia uma alma caridosa te havia colocado e que o próprio ventre te havia recusado. Ali aprisionado, consentes que o fogo, lentamente, as consuma, uma a uma. E sentes o calor a crescer por fora.

No seu berço improvisado no meio do nada, a criança fascinada pelo inesperado calor da fogueira balbucia um sorriso e deixa-se adormecer. Está tranquila. Talvez sonhe.

Algumas horas depois, quando várias pessoas foram atraídas por aquela chama intensa, já ardia a última perna de pau daquele rapaz abandonado, que, para sobreviver, passara a vida a vaguear pelas ruas.

Sobre o que se passou a seguir nada poderei dizer ao certo, que a memória é curta e as minhas fontes, infelizmente, foram-se apagando com a passagem dos anos. Recordo que durante a meninice, perguntei muitas vezes à minha avó se aquela criança encontrada no meio do lixo tinha ou não sido salva, mas a resposta chegou sempre atrelada ao mesmo sorriso: Isso, meu netinho, ainda está por escrever... Talvez um dia, talvez um dia possas compreender…

Ainda hoje, naquela aldeia embalada no meio das serranias, por onde deambula o autor destas palavras, se diz que, uma vez por ano, no velho adro da igreja, a fogueira se acende no exacto local onde há muitos, muitos anos aquele rapaz abandonado também o tinha feito, para abrir as portas a uma nova vida, quando todas as outras já tinham sido fechadas.

Tal como me recorda o eterno sorriso da minha avó, a resposta à velha pergunta ainda está por construir; depende apenas de nós. Afinal, sempre que a porta se abre, o Natal acontece. E a distância desaparece.

Este “conto” é particularmente dedicado a todos aqueles que, pelos mais variados motivos, um dia tiveram de partir (ou ver partir…) e viver o Natal à distância.
Renato Nunes

domingo, 18 de dezembro de 2011

Reacções

Zonas de conforto II. Vá bardamerda, ó cabotino!

  http://educar.wordpress.com/2011/12/18/emigra-tu/

Textos sugerido por Sérgio Vieira

Emigra Tu!


E pronto, as contemplações terminam aqui e não há boa impressão pessoal que resista a isto.

Passos Coelho sugere a emigração a professores desempregados

O primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, sugere que os professores desempregados emigrem para países lusófonos, realçando as necessidades do Brasil.

Questionado sobre se aconselharia os “professores excedentários que temos” a “abandonarem a sua zona de conforto e a “procurarem emprego noutro sítio”, Passos Coelho respondeu: “Em Angola e não só. O Brasil tem também uma grande necessidade ao nível do ensino básico e secundário”, disse durante uma entrevista com o Correio da Manhã, que foi publicada hoje.

Pedro Passos Coelho deu esta resposta depois de ter referido as capacidades de Angola para absorver mão-de-obra portuguesa em sectores com “tudo o que tem a ver com tecnologias de informação e do conhecimento, e ainda em áreas muito relacionadas com a saúde, com a educação, com a área ambiental, com comunicações”.

Caro PM, faça o favor de calar-se ou então, caso não o consiga, deixe a conversa de merd@ apenas para o relvas, os secretários de estado ou os duques que nomeia para grupos de trabalho?

Temos mais ou menos a mesma idade, certamente que aceitará a familiaridade de lhe dizer que entre o seu trajecto e o de muitos professores com a nossa idade, a principal diferença foi a jotice, o agachanço ao padrinho ângelo e o ter aceite abdicar das suas convicções que um dia afirmou serem sociais.

Entre um professor com médio desempenho e um PM desorientado, não há dúvidas quanto a quem escolher. Se não consegue fazer mais do que um qualquer governante do Estado Novo que, perante a incapacidade para gerar riqueza e desenvolvimento, estimula a população (neste caso até qualificada) a emigrar, então é porque está a ocupar o cargo errado e, no seu caso sim, está a mais entre nós.

Bute nisso!

Texto Publicado no Blogue do  Educação no dia 18 de Dezembro


Expulsem-se os professores.

E afundem-se-lhes os barcos, descarrilem-se-lhes os comboios, despistem-se-lhes os carros e expludam-se-lhes os aviões mal saiam!

Texto Publicado na Educação do meu Umbigo no dia 18 de Dezembro de 2011



Hannibal ad portas

Normalmente é em cenários de guerra.

Texto sugerido por Sérgio Vieira


Reino Unido prepara plano para retirar britânicos de Portugal em caso de bancarrota

As autoridades do Reino Unido estão a preparar-se para a eventualidade de retirarem cidadãos britânicos de Portugal e de Espanha, num cenário em que fiquem sem acesso às suas contas bancárias nos países ibéricos, em caso de colapso dos bancos, noticiou hoje a imprensa inglesa.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros (Foreign Office) britânico está preocupado com esta eventualidade e o Governo está a considerar fretar aviões, barcos e autocarros para poder fazer os expatriados nestes países regressarem ao país, segundo o Daily Telegraph de hoje, que faz manchete com a notícia, citando uma fonte não identificada daquele ministério. O Sunday Times também deu a mesma notícia.

Existem cerca de 55 mil cidadãos britânicos em Portugal e perto de um milhão em Espanha, segundo aquele jornal, que diz tratar-se sobretudo de reformados que vivem de pequenos rendimentos, a quem poderia ser enviada também ajuda em dinheiro.

Este cenário está a ser considerado no âmbito de um eventual agravamento da crise do euro, que os britânicos consideram que pode fazer entrar em colapso os bancos dos dois países – apesar de Portugal estar a ter assistência financeira da troika.

Um porta voz do Ministério das Finanças disse apenas, citado também pelo Telegraph: “Claro que planeamos um leque de contingências. Mas não vamos especificar o que é que estamos planear.”
Entretanto, fonte oficial do Ministério dos Negócios Estrangeiros britânico disse à Lusa que o país tem planos de contingência para qualquer eventual cenário, após serem conhecidas as notícias daqueles dois jornais. A mesma fonte adiantou que as declarações publicadas no Sunday Times não são oficiais.
No mês passado, foi noticiado que o Foreign Office estava a pedir às embaixadas e consulados planos de contingência para motins e agitação social nos países mais afectados pela crise da zona euro.

Texto escrito no jornal Público no dia 18 e Dezembro de 2011



quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Biodiversidade

E que tal passar esta informação à comunicação social portuguesa? Talvez a fauna que por lá aparece variasse um pouco...

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Entretanto

... a UE deu uma monumental cacetada no sentido da democracia ao aprovar (26 Estados!) o exame prévio de burocracia de Bruxelas de latos poderes sobre os orçamentos nacionais. Sendo o orçamento o grande instumento de qualquer país para executar uma determinada política, a possibilidade de alternativa fica fora da equação. Eleições para quê? Pior mesmo é que isto não tenha merecido uma comoção colectiva. Enfim... tempos de vil decadência.

Reforma Curricular

Dando a voz a quem pode falar sobre o assunto.

Texto sugerido por Sérgio Vieira.

Revisão da Estrutura Curricular: gato escondido com rabo de fora

Foi ontem apresentada, publicamente, e profusamente divulgada pela comunicação social, mais “uma etapa” do processo tendente à poupança de largas centenas de milhões de euros à custa das condições laborais e da estabilidade profissional de largos milhares de docentes. Não adianta sequer avançar aqui com a demonstração de tal facto, bastando para tal a consulta aos quadros com as cargas horárias totais, nos diversos ciclos de ensino, constante no documento de Revisão da Estrutura Curricular. Para além das reduções de carga horária que irão sofrer estas ou aquelas disciplinas, da eliminação disto ou daquilo e do sentido e coerência destas “reformas”, situações já largamente debatidas na blogosfera, importa sublinhar dois aspetos preocupantes e desconstruir o mito do reforço da carga horária da disciplina de História, no 3º ciclo. Vejamos:

– A simples eliminação da Formação Cívica, vai certamente contribuir para a redução global de horários letivos (numa escola de 2º e 3º ciclo poderá significar um corte de 2 horários completos, ou próximo disso) e obrigar a horários com maior número de turmas, a par das nefastas consequências daí decorrentes. Por outro lado, não se percebe bem em que momento e circunstâncias os diretores de turma irão poder tratar das questões disciplinares e burocráticas com os seus alunos. Finalmente, mas não menos importante, importa  saber como e de que forma os Conselhos de Turma irão conseguir desenvolver, de forma transversal, as atividades que visam a formação integral do aluno e a prática de uma cidadania ativa, informada e responsável.

– Facto da maior gravidade e a obrigar a uma grande atenção por quem de direito (leia-se, sindicatos… completamente cilindrados e mesmo ignorados neste processo): para além de tudo o que ficou referido no ponto 1, a eliminação da Formação Cívica pode muito bem abrir o caminho para a passagem das 2 horas de reduçao da direção de turma, da componente letiva para a não letiva. Sobre isto Nuno Crato nada disse. O silêncio é de ouro para o MEC… mas seria bom que não se esperasse pelo documento de lançamento do ano letivo 2012-13 com o facto eventualmente consumado.

– Ao contrário do que a comunicação social apressadamente veiculou, e que o próprio Nuno Crato se encarregou de reforçar no “Prós e Contras”, de ontem à noite, é falso que esta Revisão Curricular, tenha vindo reforçar a carga horária da disciplina de História, no 3º ciclo. O que agora se anuncia não é propriamente um reforço, mas sim uma simples reposição do meio bloco letivo que a esmagadora maioria das escolas já atribuía à disciplina de História, na gestão dos tempos a atribuir pela escola, tempos esses que, este ano letivo, foram suprimidos. Ainda assim, a História continuará a ser uma disciplina sacrificada e depauperada na sua carga horária. Basta recordar que, no passado, e sem alteração dos programas, a História, no 3º ciclo, dispunha de 400 minutos (3+3+2 tempos de 50 minutos) e para o próximo ano letivo (já incorporando este meio bloco agora reposto), na maioria das escolas, passará a ter 360 minutos (1+1,5+1,5 blocos de 90 minutos) se se mantiver a paridade da distribuição de tempos com a Geografia. E esta é, precisamente, outra questão lamentável que o MEC continua a não querer assumir e resolver: a divisão dos tempos letivos entre a História e a Geografia tem provocado conflitos e decisões opostas, de escola para escola, sendo que nuns casos se respeita a paridade e noutros, tanto quanto sabemos, a História tem tido maior carga letiva. Como ficarão as coisas agora? E o MEC o que tem a dizer sobre isto? Ahhh já se sabe: autonomia. Que pena que não dê também autonomia para que as escolas possam decidir qual o modelo de gestão que preferem.

P.S. – O pior ainda poderá estar para vir. Mas não vamos falar aqui do artigo 79 do ECD…

Adenda: Importa aqui agradecer o contributo do António Duarte (na caixa de comentários) que recordou que a História teve um período intercalar em que dispôs de 3+3+3 tempos de 50 minutos (até 2003, altura da introdução das aulas de 90m), o que perfazia um total de 450 minutos face aos 360 que se anunciam para 2012-13. Se dúvidas restassem… aqui está a demonstração cabal da significativa perda de tempo letivo que a História sofreu nos últimos anos.

Publicado no Blogue da Associação de Professores e Educadores em Defesa do Ensino

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Carta aberta assinada pelos professores de História e de Geografia

Tempos idos e agrestes sucumbem um país que deixou de acreditar nos seus governantes. Entre as diversas políticas que têm atormentado os portugueses, a Educação é sem dúvida, uma das suas machadadas mais fundas. A História e a Geografia, são dois exemplos claros das políticas erradas do actual governo, que em consequência da alegada necessidade de roubar, esquecem-se de parâmetros importantes como a qualidade e a formação dos nossos futuros cidadãos.

Em consequência da sua gravidade, reafirmo um assunto já referido pelo Sérgio no dia 29 de Novembro. Exponho novamente referindo a carta ao Ministro da Educação exposta  pelos professores de História e Geografia da Escola Secundária de Oliveira do Hospital, pois considero a situação grave, e necessita por isso ser referida com a expressiva que merece:

Exmo. Sr.

Ministro da Educação, Nuno Crato

Nós, professores de História e de Geografia da Escola Secundária com 3.º ciclo de Oliveira do Hospital, não podemos ignorar as informações — confusas e certamente enganadoras — que todos os dias nos chegam, por diversas vias, a propósito da reforma curricular do ensino básico que está a ser misteriosamente engendrada por V. Exa. numa lógica de «centralismo democrático».
Permita-nos confessar a V. Exa. que algumas dessas presumíveis medidas deixam-nos perplexos. Uma das que mais apreensão nos causou foi justamente a que augura o fim da História e da Geografia como disciplinas autónomas no 3.º ciclo do ensino básico.
Já compreendemos há muito tempo que a Europa neoliberal, tecnocrática e «pós-democrática» (para utilizar a expressão concetual do filósofo Jürgen Habermas) em que vivemos — aliás, tal como as sociedades dos estados autoritários ou totalitários de má memória, que ascenderam e colapsaram no século XX — está dominada pela técnica, as ciências aplicadas ou pelas ciências sociais ou «políticas» enquadradas numa ideologia à sua medida. E foi esta tendência que nos últimos anos conduziu à desvalorização progressiva (para não dizer desprezo) de certas ciências humanas nos currículos dos ensinos básico e secundário.
Pensamos, porém, que estas opções erráticas foram também responsáveis pela situação agónica a que chegámos — um país, uma Europa e um mundo em crise profunda e mesmo em vias de implodir: crise da economia, crise das finanças, crise da política, crise da cultura, crise da ética…
Acreditamos que é possível construir um Portugal, uma Europa e um mundo mais humanista e humanizado. E que o caminho para a refundação dessa pólis passa também, evidentemente, por desenhar uma nova reforma curricular orientada por desideratos cívicos e pedagógicos e não apenas por obscuros e redutores propósitos economicistas.
Uma reforma curricular que, entre outros desígnios, possa devolver a disciplinas e áreas do conhecimento como a História, a Geografia (e até a Filosofia) um maior protagonismo no âmbito dos currículos dos ensinos básico e secundário.
O estudo da disciplina de História permite interpretar o passado e o presente das sociedades humanas. Permite aos jovens conhecer a sua herança histórica e construir a sua identidade individual e coletiva. Permite questionar e rebater de forma argumentada o paradigma económico-social, político e cultural nacional e mundial contemporâneo. Desperta a consciência social dos cidadãos, desmistifica preconceitos e ajuda a lidar com as diferenças. Combate a alienada cultura de massas e o seu absentismo cívico. Contribui, em última análise, para a construção de um mundo mais democrático, solidário e multicultural.
O estudo da disciplina de Geografia permite interpretar as relações recíprocas estabelecidas entre os homens e a Terra. Permite aos jovens localizar e descrever os espaços naturais e humanos do nosso planeta, desenvolver ideias mais claras e fecundas sobre questões de preservação ambiental e de combate aos riscos provocados por fenómenos naturais e humanos. Permite conhecer os fenómenos geomorfológicos, hidrológicos, climáticos e padrões regionais e globais de vegetação, fauna e flora. Ajuda a construir ideias sustentadas e a desenvolver ações concretas sobre a ordenação territorial dos meios urbanos e rurais, bem como sobre a rentabilização racionalizada dos recursos humanos e naturais.
Escusado será dizer que apesar de estas duas ciências fundamentais necessitarem uma da outra, elas exigem diferentes critérios metodológicos/epistemológicos e rigorosas formações específicas que não podem ser desprezados. E este é o motivo elementar pelo qual os professores de História não estão habilitados a lecionar Geografia e os professores de Geografia não estão habilitados a lecionar História.
V. Exa. tem agora a última palavra, pois está na situação privilegiada de usar o poder político que lhe foi confiado para decidir o futuro das próximas gerações, que é como quem diz o futuro do país.
Decidir se, de facto, é «preciso centrar forças nos aspetos essenciais do ensino, ou seja, na formação científica de professores, no ensino das matérias básicas, na avaliação constante e na valorização do conhecimento […]» (Nuno Crato, O «Eduquês» em discurso direto, Gradiva, 2006, p. 116). Decidir se deve contribuir para formar «estudantes críticos» e não «ignorantes fala-barato» (Idem, p. 86). Decidir se deve realmente «dar mais atenção à História e à Geografia» (jornal Público, 31 de outubro de 2011, e Assembleia da República, 17 de novembro de 2011) e não assinar o atestado de óbito destas disciplinas. Enfim, decidir se deve ser coerente com as opções educativas defendidas pelo cidadão Nuno Crato e, afinal, honrar as afirmações proferidas pelo ministro da Educação Nuno Crato. Ou, pelo contrário: se deve fazer «tábua rasa» das suas convicções e declarações e «mandar para as urtigas» a sua honra e coerência.

Por nós, desejamos apenas que a História o absolva.

Subscrevemo-nos com os mais cordiais cumprimentos

Oliveira do Hospital, 21 de novembro de 2011

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

sábado, 3 de dezembro de 2011

Pérolas a porcos

E será para vender baratinha com elevadas comissões. Pérolas a porcos, de facto...

Notícia  sugerida por Sérgio Vieira.

A TAP foi eleita a melhor companhia área da Europa, entre outras 30 companhias de renome internacional, pela revista norte-americana de turismo "Global Traveler".
O prémio foi atribuído em Beverly Hills, nos Estados Unidos, na oitava gala anual da "Global Traveler" e resulta da sondagem designada "GT Tested Reader Survey" da revista realizada a mais de 36 mil passageiros frequentes e passageiros executivos, que fazem em média 16 viagens internacionais e 16 viagens domésticas por ano.
Em comunicado, a TAP lembra que esta sondagem é considerada no sector como os "óscares de viagens" e explica que os passageiros frequentes e executivos são convidados a nomear "os melhores" em várias categorias na área de viagens e turismo.
Estes passageiros têm um rendimento médio anual de 340 mil dólares e passam uma média de 80 noites em viagens ao estrangeiro e 40 noites em viagens domésticas, sendo que 78% viajam em primeira classe ou classe executiva.
"O concurso está desde logo vedado à participação dos trabalhadores da Global Traveler ou dos membros da indústria de viagens e turismo, que por conseguinte não podem concorrer ao mesmo", sublinha a transportadora aérea portuguesa.
O inquérito foi feito aos leitores da revista, entre 1 de Janeiro e 31 de Agosto de 2011.
A TAP recebeu ainda na mesma noite o prémio de "Melhor vinho tinto servido em Classe Executiva Internacional" pela mesma revista no âmbito do concurso '2011 GT Wines on the Wing'.
Texto escrito no Jornal de Notícias no dia 7 de Dezembro de 2011 na secção de Economia.


quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Ecos

Uma música para ouvir no feriado. Ou em qualquer altura. É que vale mesmo a pena.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Conhecidos do Brantuas

Sobre um tema que nos interessa. E com o brilhantismo de sempre. Resta saber se Crato vai olhar para a epístola como uma irrelevância impertinente de uns fala barato adestrados em retóricas a-científicas ou se continua a justificar-se com a crise (embora seja velha a sua pretensão de acabar com a alegada dispersão curricular) para limpar a escola de disciplinas idiográficas. Sabemos porquê.

Ceifando em seara alheia...

... Com a devida vénia à Gui Castro Felga.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

O camarada Bruno

O ano lectivo 2010/2011 foi provavelmente o último em que dei aulas. Realisticamente tenho de o dizer (já o admiti há muito) com toda a amargura que uma brutalidade destas despeja sobre quem o sente. Estive em Alvalade-Sado, Santiago do Cacém, com uma horrenda turma: um PIEF daqueles que...
O Tiago, que ficou em Ourique, a quarenta quilómetros a sul de mim, já glosou o Alentejo e, embora tenha as minhas próprias razões para me deslumbrar com a doce melancolia alentejana bastam-me, por ora, as sentidas palavras do Tiago sobre a sua experiência de além Tejo expressadas no início do Verão.
Em termos de estímulo profissional foi, devo reconhecê-lo, um ano para esquecer, o que não quer dizer que não tenham acontecido coisas interessantes. Uma delas foi, sem dúvida, a visita (estará a fazer um ano) que o deputado Bruno Dias, do PCP, fez aos seus «camaradas» de Alvalade, na altura para falar sobre os PEC's (ainda se lembram?) que o governo de Sócrates ia apresentando, fazendo lembrar aquela coreografia das gaivotas a voar contra o vento forte. Resolvi ir (fazer o quê, naqueles fins-de-semana?).
Para além do próprio Bruno Dias e do presidente da junta , eu era a única pessoa com menos de 70 anos na sala. Talvez por isso (e por ser desconhecido), fui abordado pelo líder concelhio do PCP e pelo próprio Bruno Dias. Embora eu percebesse o alcance da eficácia «organizacional» do aparelho de um velho partido inerente à abordagem que me fizeram, gostei de falar com o Bruno Dias. Simpático e inteligente, impressão que a sua exposição à envelhecida audiência de Alvalade confirmou. Julgo aliás que são assim os deputados do PCP: preparados e aplicados, levam a aua tarefa política a sério, raramente se confundindo com os arrivistas que vão para a política fazer negócio ou encher as fileiras clientelares de algum padrinho.
Mas tanto encómio poderá deixar uma impressão errada: que sou do PCP. Não sou. Não quero ser. Admiro à distância este partido, mas sabem como é: há o Lenine, o Estaline, o Mao, os Kim's da Coreia do Norte (ai O Bernardino Soares!) e coiso. E deixando de lado os facínoras, poderíamos ir para o lado cabotino, referindo Enver Hoxha... Sou de esquerda, mas de outras inspirações... (e não estou a colar irremediavelmente o PCP a estes personagens).
Seja como for, Bruno Dias é um bom deputado e, há uns tempos, fez a cabeça em água ao Ministro Álvaro (coitado dele e de nós que o temos no mando). Entre uns quantos mitos quebrados, fica a cara embaraçada do Álvaro neste vídeo, via Arrastão.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Um relato para ler e reler

Não costumo ser muito lamechas, no entanto a cada dia que passa apercebo-me de situações que me admiram. Já leccionei em 6 escolas nos últimos três anos, pude compartilhar sentimentos com crianças e perceber situações que me deixaram perplexo. Por vezes é admirável perceber o quão boa é uma criança, após perceber a sua realidade familiar. Não é meu timbre descrever Histórias relatadas por outrém no blogue, no entanto, não resisto a contar esta que me foi enviada por mail:

O menino do restaurante
Entrei apressado e com muita fome no restaurante. Escolhi uma mesa bem afastada do movimento, porque queria aproveitar os poucos minutos que dispunha naquele dia, para comer e acertar alguns bugs de programação num sistema que estava a desenvolver, além de planear a minha viagem de férias, coisa que há tempos que não sei o que são. Pedi um filete de salmão com alcaparras em manteiga, uma salada e um sumo de laranja, afinal de contas fome é fome, mas regime é regime não é?
Abri o meu portátil e apanhei um susto com aquela voz baixinha atrás de mim:
- Senhor, não tem umas moedinhas?
- Não tenho, menino.
- Só uma moedinha para comprar um pão.
- Está bem, eu compro um.
Para variar, a minha caixa de entrada está cheia de e-mail.
Fico distraído a ver poesias, as formatações lindas, rindo com as piadas malucas.
Ah! Essa música leva-me até Londres e às boas lembranças de tempos áureos.
- Senhor, peça para colocar margarina e queijo.
Percebo nessa altura que o menino tinha ficado ali.
- Ok. Vou pedir, mas depois deixas-me trabalhar, estou muito ocupado, está bem?
Chega a minha refeição e com ela o meu mal-estar. Faço o pedido do menino, e o empregado pergunta-me se quero que mande o menino ir embora.
O peso na consciência, impede-me de o dizer.
Digo que está tudo bem. Deixe-o ficar. Que traga o pão e, mais uma refeição decente para ele.
Então sentou-se à minha frente e perguntou:
- Senhor o que está fazer?
- Estou a ler uns e-mail.
- O que são e-mail?
- São mensagens electrónicas mandadas por pessoas via Internet (sabia que ele não ia entender nada, mas, a título de livrar-me de questionários desses):
- É como se fosse uma carta, só que via Internet.
- Senhor você tem Internet?
- Tenho sim, essencial no mundo de hoje.
- O que é Internet ?
- É um local no computador, onde podemos ver e ouvir muitas coisas, notícias, músicas, conhecer pessoas, ler, escrever, sonhar, trabalhar, aprender. Tem de tudo no mundo virtual.
- E o que é virtual?
Resolvo dar uma explicação simplificada, sabendo com certeza que ele pouco vai entender e deixar-me-ia almoçar, sem culpas.
- Virtual é um local que imaginamos, algo que não podemos tocar, apanhar, pegar... é lá que criamos um monte de coisas que gostaríamos de fazer.
Criamos as nossas fantasias, transformamos o mundo em quase como queríamos que fosse.
- Que bom isso. Gostei!
- Menino, entendeste o significado da palavra virtual?
- Sim, também vivo neste mundo virtual.
- Tens computador?! - Exclamo eu!!!
- Não, mas o meu mundo também é vivido dessa maneira...Virtual.
A minha mãe fica todo dia fora, chega muito tarde, quase não a vejo, enquanto eu fico a cuidar do meu irmão pequeno que vive a chorar de fome e eu dou-lhe água para ele pensar que é sopa, a minha irmã mais velha sai todo dia também, diz que vai vender o corpo, mas não entendo, porque ela volta sempre com o corpo, o meu pai está na cadeia há muito tempo, mas imagino sempre a nossa família toda junta em casa, muita comida, muitos brinquedos de natal e eu a estudar na escola para vir a ser um médico um dia.
Isto é virtual não é senhor???
Fechei o portátil, mas não fui a tempo de impedir que as lágrimas caíssem sobre o teclado.
Esperei que o menino acabasse de literalmente 'devorar' o prato dele, paguei, e dei-lhe o troco, que me retribuiu com um dos mais belos e sinceros sorrisos que já recebi na vida e com um
'Brigado senhor, você é muito simpático!'.
Ali, naquele instante, tive a maior prova do virtualismo insensato em que vivemos todos os dias, enquanto a realidade cruel nos rodeia de verdade e fazemos de conta que não percebemos!

É por estas situações que concluímos que grande parte das nossas incertezas e problemas são irrelevantes!!!

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Em dia de Greve Geral

deixo estes três links. http://apede08.wordpress.com/2011/11/24/e-amanha/#comments http://apede08.wordpress.com/2011/11/24/reflexao-em-dia-de-greve-geral/ http://www.youtube.com/watch?v=cX8szNPgrEs (Desculpem a falta de criatividade mas isto de ser desempregado até que inibe a aventura petulante em escritos mais ou menos cívicos...)

Texto sugeridos por Sérgio Vieira

E amanhã?
Tal como um dos nossos últimos “posts” recordavam o texto que publicámos aqui há um ano atrás, relembramos agora o que escrevemos em 24 de Novembro de 2010. Com a percepção de que nada mudou e com a convicção (dolorosa) de que nada mudará nos tempos mais próximos. Mesmo que os “donos” da “luta” proclamem, demagogicamente, o contrário.
Hoje realizou-se uma greve geral. Ou seja: uma daquelas formas de luta que, pela sua amplitude, deveria ser muito mais do que um protesto, pensada numa perspectiva de continuidade e usada para fazer avançar, de forma eficaz e contundente, um caderno reivindicativo bem claro.
E agora?
E amanhã?
Amanhã os grevistas de hoje (todos nós) voltarão ao trabalho, para serem apascentados na ignomínia quotidiana em que se transformou boa parte das relações laborais.
Amanhã os grevistas de hoje estarão a deitar contas à vida, à espera do Janeiro que trará o Inverno e as reduções salariais.
Amanhã os grevistas de hoje vão ranger os dentes sem saberem o que fazer a seguir para se libertarem do buraco social onde foram enfiados.
Amanhã os grevistas de hoje vão regressar ao desespero manso de quem quer recusar a fatalidade do empobrecimento como horizonte, sem que, ao mesmo tempo, lhe consiga vislumbrar uma saída.
A menos que…
E, já agora, acrescentamos um “post” de João Lisboa, crítico musical no Expresso e blogger nas horas livres, que diz o mesmo que nós por outras palavras:
ORDEIRAMENTE ENQUADRADO O “DESCONTENTAMENTO”, DEVIDAMENTE ACTIVADAS AS VÁLVULAS DE ESCAPE PARA A “INDIGNAÇÃO”, ENTREGUE UM DIA DE SALÁRIO A BEM DA NAÇÃO E ASSEGURADA MAIS UMA ALÍNEA NO CV DOS MANDARINS SINDICAIS, SEXTA-FEIRA 25.11.11 SERÁ APENAS UM DIA IGUAL AOS OUTROS

Blogue APEDE em 24 de Novembro de 2011

Reflexão em dia de greve geral
Vivemos hoje uma fase que é, talvez, única e inédita na história da luta dos povos pela sua emancipação e pelos direitos sociais.
O seu carácter novo reside nisto: enquanto toda a história anterior foi feita num crescendo de conquista de direitos que não estavam, antes disso, nem pensados nem consagrados, agora assistimos ao processo inverso: o da demolição e da retirada gradual desses direitos. Com uma agravante: o que dantes foi concebido como um direito é agora reescrito, no discurso hegemónico, como um privilégio ou uma regalia injustificada. E este último aspecto no ataque aos direitos sociais é, porventura, o mais terrível de todos. Porque desqualifica os direitos na cabeça de quem deles se vê privado, impedindo que as pessoas reconheçam essa privação e lutem contra ela. Porque torna muito mais difícil, se não mesmo impossível, reconhecer a necessidade desses direitos e a ilegitimidade da sua ausência.
A regressão que estamos hoje a sofrer não se dá apenas no usufruto dos direitos sociais. Dá-se também na capacidade colectiva de pensá-los e de exigi-los.
Chama-se a isto ideologia dominante.
Em Portugal, ela está a ter uma tremenda eficácia.

Blogue APEDE em 24 de Novembro de 2011


HDR/DRH

Na sequência do importante post do Tiago, deixo aqui o link para o Relatório de Desenvolvimento Humano de 2011 elaborado pelas Nações Unidas. É, a quem puder interessar ou servir utilidade, de uma grande valia informativa.
E, para um nível nacional, fica este.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Indicadores demográficos e económicos

O jornal Público na sua edição online publicou, os indicadores demográficos e económicos dos países do Mundo especificando a  Zona Euro. Pode ser interessante para perceber as discrepâncias existentes e tirar ilações reflexivas.

Deixo aqui o link:
http://static.publico.pt/homepage/infografia/mundo/IndiceDesenvolvimento/?mid=536

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Homenagem a Orlando Ribeiro

Na passagem do centenário do nascimento de Orlando Ribeiro, a Academia das Ciências dedicou a sua sessão ordinária ao grande geógrafo cuja actividade e obra marcaram uma época.

Apresento aqui o link texto transcrito sobre o tema no Diário as Beiras:


domingo, 13 de novembro de 2011

Sugestão

Coisas que Nuno Crato deveria considerar menos e outras que deveria considerar mais.
É em causa própria mas a vida tem destas coisas de, por exemplo, defendermos os nossos interesses. E porque é uma causa justa.


Numa rua da Alemanha!!!!

Não posso deixar de referir uma imagem colocada no blogue Arrastão, por Daniel Oliveira, que retrata com clareza, a forma como o povo alemão vê os países que se encontram endividados e necessitam recorrer ao FMI. A Alemanha e a França, cegamente não se apercebem do mal que estão a fazer a eles próprios, assim como à própria União Europeia, que tem o seu futuro em Risco.

sábado, 12 de novembro de 2011

A mesma História

O MEC continua seráfico em relação às dúvidas absolutamente legítimas referentes ao conteúdo da anunciada reforma curricular. Preocupa-me, claro, a disciplina que me interessa: História. Crato fala de História como um saber que importa considerar mas não desmentiu (e o silêncio é revelador) as repetidas e aparentemente bem-informadas notícias sobre a sua anunciada fusão com Geografia, o que estaria em óbvia contradição com o sentido das afirmações de Crato autor. Ora, esta medida (a actual carga horária de História e de Geografia é ridícula) confirmaria o destroçar dos saberes humanos e sociais no 3º CEB e contribuiria decisivamente para uma formação ainda mais truncada e idiotizante dos alunos, dito de outra forma, de uma sociedade mais tacanha e acrítica.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Do caraças...

Estas coisas merecem ser lidas e recordadas. E afirmadas. E divulgadas! Porque importam, sim senhor e têm tudo a ver com o caso.

Quem cospe para o ar...

É inacreditável o baixo nível e o rasteirismo xenófobo da "boa Europa" contra a "má Europa". Old habbits die hard, com efeito. Sem querer escamotear certos desvarios gregos, há que reconhecer que os PIIGS que estão a morrer não se limitaram a correr para o matadouro, alguém os levou até lá. E esse alguém foi a própria UE construída à luz dos rígidos princípios do mais fanático monetarismo que transformou o BCE numa perfeita inutilidade que, não só nada resolve, como complica e que impede os Estados de utilizarem políticas monetárias (como a desvalorização cambial) para financiar os défices, antes os prendendo a uma moeda hipervalorizada e que beneficia a Alemanha e mais um punhado de países que acumularam enormes quantias de excedentes que exportam para os endividados. Ora, é precisamente daqueles que vêm os comentários mais badalhocos sobre a situação... mas que ocasionalmente recebem resposta à altura. É caso para dizer: para moralista, moralista e meio.

domingo, 6 de novembro de 2011

Million dollars question

Um aspecto que sempre me fascinou nos temas da UE é a ambiguidade da sua natureza que leva os "cientistas políticos" a falarem de uma entidade política (uma polity no linguajar sofisticado do mundo anglo-saxónico) híbrida, em aberto, um objecto político indeterminado, entre outras possibilidades mais ou menos conceptualmente virtuosas como a de multi-level, de F. Scharpf, ou a de federalismo frustrado, de Villaverde Cabral.
Seja como for, a actual farsa que tomou conta de uma UE há muito à deriva parece ser o lado negro dessa mesma indefinição de natureza e de objectivos agravada por lideranças nacionais absolutamente lamentáveis.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Femme Fatale

Conforto é a tua tia

Parece que um qualquer sujeito que está Secretário de Estado (da juventude e desporto?) disse que os jovens desempregados devem sair da sua zona de conforto e emigrar.... É mais uma declaração bizarra (mas não necessariamente uma gaffe) desta gente sinistra que nos governa.
Estará o referido incumbente a querer limpar os números do desemprego (já que excedentes demográficos não há) ou à espera de remessas de emigrantes, como antes se fazia? Ou, simplesmente a dizer I just don't give a damn!
Já agora, que conforto é que há no desemprego?
P.S. Já nem refiro a tristeza que é a emigração de quadros valiosíssimos para outros países, mas enfim... fica a nota.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Once upon a time...

Não há nada tão mau que não possa piorar...
Já agora, permito-me uma sugestão de leitura algo saudosista (os tempos eram outros e os problemas também) What's Wrong With European Union and How to Fix It, Simon Hix. Três anos é mesmo muito tempo... Não é só a fruta que é biodegradável...


O desmoronar da Democracia

Escrevi no longínquo mês de Março, no contexto da "Primavera Árabe" um enquadramento da palavra Democracia. Curiosamente começou por ser implementado na Grécia ,o designado berço da civilização, que agora esta a desagregar-se, em resultado da convalescença dos mercados, ou melhor da ascensão meteórica do seu poder e influência.

Após a publicação do referido texto, já ocorreram uma convulsão de acontecimentos, que nos atormentam a todos, principalmente a maior franja da sociedade os "plebeus da sociedade média e baixa", os muito afamados 99%.

Atormenta-me perceber que o caminho traçado pela Europa nas últimas décadas conduziu à progressiva fragmentação da sua União Política, observando-se o descalabro da União Monetária. Observa-se que conquistas dos trabalhadores e do povo, que ocorreram durante décadas, os Subsídios de Férias e de Natal, foram aniquilados, em consequência de políticas descompensadas dos sucessivos governos, que beneficiam consecutivamente os grandes lobbies.

Apraz-me registar todos estes cortes, reflectidos nos salários e impostos inferidos ao portugueses, no entanto não é principalmente isso que me atormenta. Preocupa-me sim, que com o alargamento dos mercados e o ganho de influência do poder financeiro sintamos que a corrupção é cada vez mais declarada e a transparência inexistente. Caso os cortes referidos mostrassem um caminho claro, onde a saída fosse detectável, não veria qualquer problema em fazer sacrifícios, o problema é que não é isso que acontece.

A democracia é poder que foi concebido ao povo, através do voto, no entanto os nossos governantes traem diariamente os seus eleitores, escondendo sucessivamente negócios obscuros, que arruiam(ram) as nossas contas públicas, em favor de interesse económicos.
É por todas estas situações que eu me apercebo que a democracia nos seus trâmites originais , está a desmoronar-se, pois como refere José Saramago, quem Governa não são os governos mas as Grande empresas e interesses económicos. No fundo quem manda, ou neste caso ganha sempre, são os mercados e cada vez menos os cidadãos. 

terça-feira, 1 de novembro de 2011

O fim anunciado da disciplina de História

Para raciocinar criticamente sobre um assunto é preciso começar por conhecê-lo. Pretendendo-se formar «estudantes críticos» sem lhes fornecer a necessária formação e treino, apenas se formam ignorantes fala-barato.
Nuno Crato, O “eduquês” em discurso directo, Gradiva, 2006, p. 86

O ministro da Educação Nuno Crato prepara-se, no âmbito da nebulosa reorganização curricular que se encontra em curso, para extinguir a disciplina de História do terceiro ciclo como área autónoma do saber.
Não admira que este economista e matemático de formação assuma tal responsabilidade, pois parece não convir aos políticos, economistas e gestores que moldaram e controlam o mundo neoliberal deprimido de hoje que este seja interpretado a partir de critérios metodológicos e quadros do conhecimento que só a ciência histórica pode fornecer. Decididamente, não interessa a estes diretores e manipuladores da situação que os jovens e futuros cidadãos desenvolvam uma consciência histórica que lhes permita questionar e rebater de forma argumentada o paradigma económico-social e político nacional e mundial contemporâneo.
Hoje os media estão contaminados por economistas-gestores que opinam sobre tudo e condicionam a opinião pública. Esses mesmos economistas-gestores que nunca foram capazes de antecipar a crise — ou não tiveram o interesse ou a coragem para o fazer — e são agora incapazes de nos apresentarem soluções percetíveis para a superar, mas que, à conta dessa crise, invadiram os meios de comunicação social, dominam o mundo financeiro e empresarial e determinam a ação dos políticos. Os mesmos economistas-gestores que, entretanto, resolveram obnubilar o facto de a crise dos subprimes de 2008 estoirar nos EUA (e depois, por efeito dominó, na Europa) devido às desreguladas e criminosas atividades especulativas do setor privado. E que hoje nos vêm dizer que a culpa de estarmos a descer ao inferno tem de ser somente assacada aos gastos desmedidos que os políticos fizeram no setor público – ou seja, em prol de um Estado-providência que, apesar de ter cometido (intoleráveis) erros de palmatória, é afinal acusado de ter desejado praticar o supremo crime de assegurar uma sociedade mais justa e democrática, em que todos tivessem igual acesso à educação, à saúde e à justiça.
É, no entanto, curioso registar que perante a iminência do fim das disciplinas de História e de Geografia no terceiro ciclo do ensino básico, que se prevê serem fundidas numa disciplina híbrida — a qual, pormenor de somenos importância, será doravante lecionada por professores de História sem formação de Geografia e por professores de Geografia sem formação de História —, toda a gente fique calada. Com efeito, sobre este assunto só os sindicatos dos professores denunciaram com alguma fogosidade o risco de esta medida, estritamente economicista e sem justificação pedagógica e cívica, poder contribuir, a curto ou médio prazo, para o despedimento de muitos professores de História e de Geografia contratados ou mesmo dos quadros de nomeação definitiva das escolas e, portanto, com 10 ou até mais de 15 anos de trabalho.
Onde estão os professores de História do ensino básico e secundário? E por onde andam os professores de História do ensino universitário? E onde está a Associação de Professores de História que, depois de ter apresentado uma petição/manifesto contra tal medida, parece ter-se desinteressado do assunto? E o que pensa sobre este tema a sempre tão interventiva Confederação Nacional de Associação de Pais? E os ex-presidentes da República Mário Soares e Jorge Sampaio? E, ainda que mal pergunte, que justificação pretende dar Nuno Crato para assumir a responsabilidade política desta decisão? Note-se, o mesmo que antes de estar ministro advogou, num livro que pretendeu desconstruir, argutamente, os mitos da pedagogia romântica e construtivista, ser «preciso centrar forças nos aspetos essenciais do ensino, ou seja, na formação científica de professores, no ensino das matérias básicas, na avaliação constante e na valorização do conhecimento […]» (O «Eduquês» em discurso direto, Gradiva, 2006, p. 116).
Se a disciplina de História for mesmo banida dos currículos do terceiro ciclo do ensino básico — registe-se, no exato momento do rescaldo das exuberantes comemorações do centenário da Primeira República (1910-2010) —, então sugiro ao ministro Nuno Crato que mande para as urtigas a «formação científica dos professores» e o «ensino das matérias básicas» que tanto defendeu, e opte por idênticos processos para outras disciplinas. Nomeadamente, que trate de fundir a disciplina de Matemática com a disciplina de Ciências Físico-químicas e a disciplina de Português com a disciplina de Inglês. Desta forma, o Ministério da Educação poderá cumprir os seus crípticos desígnios de contribuir para a formação de alunos «ignorantes fala-barato», instruir cidadãos castrados, despedir professores e, evidentemente, poupar dinheiro. A escola pública e o país agradecem.
Luís Filipe Torgal
Texto publicado no blogue de Paulo Guinote "Educação do meu umbigo"

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Insólito ou talvez não

Aquando das minhas pesquisas rotineiras pela internet, encontrei no blogue do Clube dos Pensadores, este requerimento realizado por um munícipe ao Presidente da Câmara de Marco de Canavezes:

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Mau...

http://ladroesdebicicletas.blogspot.com/2011/10/para-acabar-de-vez-com-os-mitos.html



Texto sugerido por Sérgio Vieira

Para acabar de vez com os mitos da crise

Se nalguma coisa a narrativa austeritária tem sido singularmente bem sucedida, é a disseminar e explorar o mito de que os países da periferia europeia viveriam acima das suas possibilidades por os seus trabalhadores trabalharem de menos e terem regalias a mais. Esta visão hegemónica foi abundantemente vendida aos eleitorados e opiniões públicas dos países do centro europeu, claro, mas tem também exercido grande influência na própria periferia.
Acontece que é, simplesmente, mentira. Este post publicado no blogue da Real World Economics Review, que tem por base um exercício anterior de Kash Mansori, reúne cinco tabelas que mostram isso muito bem. É um conjunto de indicadores a que nós e outros já nos temos referido, mas que aqui se encontram convenientemente reunidos e resumem a questão de forma cristalina.
As figuras falam por si, mostrando que, de uma forma geral, os trabalhadores da periferia europeia…
1) trabalham mais horas;
2) têm taxas de actividade idênticas ou mais elevadas (especialmente Portugal e Espanha);
3) no caso de Portugal e sobretudo da Grécia, apresentaram níveis de crescimento médio anual da produtividade do trabalho, entre 2000 e 2008, idênticos ou superiores aos do centro europeu;
4) registam níveis de despesas sociais per capita bastante mais reduzidos;
e 5) apresentam um nível de despesas com pensões de reforma em percentagem do PIB (isto é, relativamente à capacidade da economia) idênticos aos do centro europeu;
Ou seja, a narrativa hegemónica é uma rematada mentira de consumo fácil, destinada a persuadir as vítimas da espoliação de que "não há alternativa". Quanto à verdadeira história, resume-se nos seguintes pontos:
1) Uma perda de competitividade dos países da periferia europeia ao longo da última década que não se deveu à evolução da produtividade do trabalho mas sim à pertença a uma zona monetária perversa, com um euro sobrevalorizado face ao exterior e, no interior da zona euro, uma competição cerrada ao nível da compressão salarial promovida acima de tudo pela Alemanha...
2) …perda de competitividade essa que, ao longo da última década, provocou o gradual aumento do défice comercial e constrangeu o nível de actividade económica, com consequente perda de receitas fiscais (aumentando o défice orçamental)...
3) …a que se seguiu uma recessão mundial, de 2008 em diante, que implicou uma contracção dos mercados de exportação, com consequente aumento adicional do défice externo e contracção adicional da actividade económica, implicando uma perda adicional de receitas fiscais e um aumento dos gastos do estado por acção dos estabilizadores automáticos (como o subsídio de desemprego)…
4) …recessão mundial essa que incluiu uma crise bancária que esteve na origem da opção política pelo resgate público de bancos falidos em condições desastrosas (somando défice ao défice), aliás na sequência das gigantescas rendas que os estados vêm há muito, e por diversas vias, assegurando à banca…
5) …somando-se ainda ao desperdício obsceno de fundos públicos decorrente da captura do Estado por interesses rentistas, nomeadamente através das ruinosas “parcerias" público-privadas.
Portanto: uma crise cujos fundamentos residem nas estratégias do capital centro-europeu; que foi despoletada por uma recessão mundial também ela decorrente do funcionamento do capitalismo financeirizado; e que se tornou insustentável devido ao desperdício acumulado do erário público em benefício de interesses rentistas nacionais, com a banca e os grandes grupos económicos à cabeça.
E pela qual são os trabalhadores, pensionistas e classes populares a pagar - de uma forma nunca vista e, se não reagirmos à altura, permanente.
Mais do que uma crise, é um gigantesco roubo. E temos todos a obrigação de lutar contra ele nas ruas, nos locais de trabalho… e nas mentes daqueles com quem falarmos.

Escrito no blogue Ladrões de Bicicletas por Alexandre Abreu no dia 25 de Outubro de 2011

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Ódios

De há dois meses a esta parte que detesto deseperada e inutilmente as segundas-feiras.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Ná!

http://economico.sapo.pt/noticias/afinal-o-goldman-sachs-manda-no-mundo_129681.html

Poesia

Troquem a «imprensa portuguesa» pelo que vos parecer mais óbvio. Ou não... Ou as duas coisas. http://arquivopessoa.net/textos/3227

E será que alguem se importa?

Deixo-vos com um texto brilhante, longo mas que merece o esforço. http://antropocoiso.blogspot.com/2011/10/caminho-do-seculo-xix.html

Texto sugerido por Sérgio Vieira

A caminho do Século XIX


Foram agora anunciadas, como medidas integrantes ou anexas ao orçamento de estado para 2012, o aumento do horário de trabalho e, no sector público, a continuidade nos cortes dos salários, somada ao não pagamento dos subsídios de férias e de Natal nos próximos 2 anos - medida que é de esperar tentem eternizar, e que as entidades patronais tentem alargar ao sector privado.

A coberto da crise e do pagamento da dívida, estas decisões do governo são um acerto de contas revanchista com a história dos últimos 100 anos e uma brutal subversão do pacto social que ao longo deles se estabeleceu na Europa. Do que se trata, afinal, é de anular abruptamente os direitos do trabalho tal como os conhecemos (e outros conquistaram para nós), anular um dos pilares da legitimidade do poder político (sustentada na negociação consequente dos termos do trabalho) e aplicar/estimular interesses de classe e as condições de exploração, ao abrigo do discurso hegemónico (à Gramsci) do equilíbrio das contas públicas e do fim-do-mundo do incumprimento.

Desbragado como sempre, Belmiro de Azevedo já tinha explicitado esse programa logo aos primeiros sinais de crise, afirmando, como se de uma fatalidade evidente se tratasse, que os trabalhadores teriam que aceitar salários mais baixos, pois era melhor isso do que ficar sem emprego. É o tempo de utilizarem o "exército industrial de reserva "e a ameaça de a ele passarmos a pertencer, para transformarem o salário, de uma retribuição assimetricamente negociada do trabalho, num leilão invertido entre trabalhadores assustados, num "mercado de oferta e procura" viciado e despótico.

O que esta gente esqueceu é que, nos 60 e tal anos da construção (e posterior minagem) do estado social e de relações menos injustas e despóticas entre capital e trabalho, estas duas coisas não aconteceram por acaso.

Em parte aconteceram, é verdade, por factores que já não existem ou se têm vindo a deteriorar - respectivamente, o medo do comunismo e a capacidade de luta sindical. Mas aconteceram também pela consciência de que o anterior grau avassalador de insegurança e incerteza que caracterizava a vida da massa da população acarretava enormes perigos para as classes possuidoras e para os gestores políticos do capitalismo: o perigo de uma quotidiana desordem pública incontrolável, e o perigo de uma também incontrolável emergência e adesão a alternativas políticas messiânicas, cesaristas e totalitárias (de carácter fascista ou sob novos formatos), prometedoras de ordem, segurança, regras claras e previsibilidade.

Por isso, o estado social foi implementado tanto por governos social-democratas nacionalizadores, como por democratas-cristãos e conservadores. E por isso, em enorme medida, também a paz social foi quase em continuidade assegurada na europa capitalista, restringindo a conflitualidade à negociação laboral - uma conflitualidade no essencial previsível e auto-controlada, dado exercer-se em torno dos termos de uma relação laboral que se pretende manter, mesmo quando (ou mais ainda, então) a negociação desses termos incluia formas de controle dos trabalhadores sobre a gestão das empresas.

Os jovens e velhos lobos do liberalismo radical esquecem que essa predominante paz social que tomam por adquirida não é um dado autónomo e abstractamente característico das "sociedades europeias" mas, precisamente, um resultado e sedimentação desses dois factores - o estado social e a regulação confiável entre capital e trabalho. Sem eles, a brusca generalização da incerteza, insegurança e ameaça à subsistência das pessoas (tão mais violenta e traumática quanto, ao contrário de antes da II Guerra Mundial, não é uma continuidade da situação habitual, mas uma ruptura de tudo o que nos habituámos a considerar como a vida normal) terá previsivelmente efeitos avassaladores. Esses canis lupus ficarão a gerir um circo de feras - e não dessas que se tentam devorar entre si, nos mercados financeiros.

Todo esse panorama recebe uma enorme ajuda e rastilho quando os cidadãos assustados, inseguros e ameaçados não podem descortinar, nas formas de intervenção e mecanismos políticos existentes e habituais, nenhuma possibilidade credível de canalizarem de forma eficaz e consequente o seu protesto. Isso já se passa há anos, para muita gente, mas só é de esperar que esta tentativa de "regresso ao século XIX" alargue essa avaliação a muitas mais.

E, aí, não é só o "regime", a direita e os liberalismos em tons de rosa que têm culpa. A evidente incapacidade dos partidos mais à esquerda para gizarem estratégias prospectivas e eficazes para combater a situação que vivemos é um dos factores dessa descrença, mas também da implausibilidade de que todo sentimento de revolta que existe, e muito irá crescer, possa ser canalizado para uma resistência eficaz e para alternativas essenciais e estruturais.

Porque, perdoem-me os apologistas do "quanto pior, melhor", mas parece-me bem que o "pior" só poderá levar, nas condições presentes, a situações de granel e expressões de revolta que se esgotem em si próprias.

O que me faz desabafar e perguntar:

Quando é que as direcções do PCP e do BE vão autorizar-se a si próprias a perceber que o tempo não é de rivalidades identitárias, pintelhices semânticas e tacticismos eleitoralistas à custa um do outro?

Quando é que vão deixar-se perceber que cada um tem capacidades que o outro não tem, e que sem as de ambos será quase impossível criar alternativas e mobilizar para elas?

Quando é que vão deixar-se lembrar que a unidade se faz com aqueles que são diferentes de nós?

Texto publicado no Blogue Antropocoiso no dia 13 de Outubro de 2011 por Paulo Granjo


Parece que...

http://educar.wordpress.com/2011/10/21/acrescentando-so-um-ou-outro-detalhe-a-noticia-do-diario-economico-de-hoje/


Texto sugerido por Sérgio Vieira

Acrescentando Só Um Ou Outro Detalhe à Notícia Do Diário Económico De Hoje…

… eu diria que o alarme lançado sobre os docentes é, neste momento, absolutamente inaceitável, pois o MEC refugia-se no silêncio da indefinição e da incapacidade de dizer algo que se sinta em condições de manter.
A notícia em causa é esta, follow-up da de ontem.
A reforma curricular do Ensino Básico anuncia-se como amputação e seria muito bom que assim não fosse. A oferta não essencial de que se fala no OE nunca deveria atingir disciplinas do núcleo duro do currículo de qualquer país civilizado ou aspirante a isso.
A verdade é que o medo se instalou e, em conjunto com a promessa de mais autonomia para os directores, a instabilidade está a geminar a níveis insuportáveis. Com consequências extremamente graves que me parece não estarem a ser acauteladas pela tutela, que desbaratou por completo o capital de confiança e credibilidade com que foi recebido o novo ministro nas escolas.
O que é mais complicado é que, se forem continuados os projectos da era Maria de Lurdes Rodrigues/Valter Lemos de definição de dois ciclos de escolaridade de seis anos (há em funcionamento cursos de formação já com essa lógica há alguns anos e a primeira fornada está quase disponível), generalistas para o 1º ciclo e híbridos para o 2º (corresponde ao actual 3º CEB e Secundário), isso implica mexer de forma profunda num documento muito sensível, de vida ou morte (profissional) para muita gente: o das habilitações para a docência.
E essa mexida é tão ou mais estruturante do que a do currículo.
E se aqui falo já nisso é porque convém, desde já, alertar para algo que pode ter consequências brutais no potencial afastamento de professores dos quadros, num tempo em que a estabilidade jurídica e os direitos adquiridos são encarados como coisas sumptuárias. E porque é importante que o MEC esteja consciente que à engenharia social e do sucesso da era Sócrates não deve suceder a engenharia curricular e orçamental da era Passos Coelho/Crato.
Porque o que está em jogo não é apenas uma questão corporativa. Antes o fosse. O que está em causa é a transformação do ensino e do sector da Educação numa questão menor, prejudicando de forma colossal as próximas gerações ao ser-lhes dada uma formação amputada e confusa, digna de um mau curso das Novas Oportunidades, atropelando pelo caminho toda uma classe profissional, da qual se salvam apenas uns nichos.
O eventual esmagamento do 2º CEB, transferindo a sua matriz curricular para o 3º CEB é uma imbecilidade, caso venha a avançar, e uma medida ao serviço da imbecilização da Educação. A pulverização curricular no 3º CEB é uma evidência, mas a redução de 13 ou 14 disciplinas ou áreas disciplinares para 10 (por exemplo) é possível sem grande dificuldade, desde que o objectivo não seja apenas reduzir o peso da carga lectiva de 35-36 horas para 32 ou 30, argumentando que é excessiva e depois colocando o que agora é componente lectiva no horário dos professores em componente não lectiva e opcional para os alunos.
O país está em crise e as finanças públicas em colapso?
A solução é cortar 8-10% no Orçamento da Educação por ano ou moralizar os contratos ruinosos que o Estado estabeleceu com  o Centrão dos Negócios ao longo dos últimos 10-15 anos? E, por exemplo, verificar até que ponto a promiscuidade público-privada nas assessorias e consultadorias técnicas e jurídicas não atinge em todo o país os níveis que se sabem ser prática comum na Madeira?
Ficamos sem História, Educação Visual ou Geografia como saberes autónomos e estruturantes, mas ficamos com florescentes escritórios de advogados, bem relacionados com o poder político?
Até que ponto é Nuno Crato capaz de ser mais do que um operacional, executor de uma política de cortes, retomando toda (relembremos que as NO e a Parque Escolar aí estão para durar) a herança do período que tanto criticou?
Está Nuno Crato convicto que é este o seu contributo para a Educação Nacional?
Para isto chegaria um pequeno grupo de ajudantes de ministro, sem rosto ou identidade.

Texto publicado no blogue Educação do meu Umbigo por Paulo Guinote a 21 de Outubro de 2011