domingo, 3 de abril de 2022

Reflexões no fim do segundo período.

 As lágrimas por vezes caem-me sem avisar.  A pressão e o medo de falhar por vezes bloqueiam-me e impedem-me de seguir pelo caminho mais fácil. Insisto em não acreditar em mim e sigo a medo, com hesitações. O trabalho inevitavelmente não corre bem. Insisto, procuro focar-me nas tarefas imediatas e esquecer o que correu menos bem. Aos poucos vou-me erguendo, procurando ganhar energia em momentos de sucesso por mais pequenos que sejam. Vou levantando a cabeça.  Em consequência do meu passado adquiri um medo de olhar as pessoas nos olhos. Lembro-me da saudosa "France" que me associou a uma avestruz por estar sempre de cabeça baixa. Sempre que levanto a cabeça e encaro um problema cara a cara lembro-me dela e de muitos alunos que se queixaram dizendo "o professor não nos olha nos olhos". Aos poucos e ao longo do meu percurso profissional procurei ganhar confiança naquilo que fazia. Não é fácil resistir aos sucessivos fracassos. A palavra desistir foi a palavra que predominou no léxico do meu percurso de vida. Apercebo-me muitas vezes que não consigo cumprir os meus objetivos, atingir uma meta. Penso nos sucessivos obstáculos que tenho de ultrapassar e das minhas limitações enquanto ser humano. Não pensei chegasse onde cheguei num tão curto espaço de tempo. Ainda cometo tantos erros no desempenho da minha profissão, sou olhado de lado por colegas, ou será a minha cabeça a julgar o comportamento dos outros? São tudo incógnitas de uma personalidade que privilegia mais em agradar aos outros que agradar a mim mesmo. Caminho muitas vezes sozinho, centenas de quilómetros de estrada. Recordo-me quando fui carteiro que dizia apesar da dureza do trabalho " tu consegues, não desistas". Senti que nessa altura trabalhava 12 hora por dia por estrada de terra no aldeia e lugares mais recônditas do concelho Seia. Sei que nessa altura fui criticado por muita gente pela incompetência no desempenho da minha função. Dessa experiência prefiro recordar uma conversa que mantive com um dos representantes da junta da Vide onde expus a minha preocupação pela impossibilidade do desempenho da profissão de carteiro devido à grande extensão do percurso. Foi um trabalho muito mal pago, lembro-me que ganhava o ordenado mínimo. Sempre privilegiei o trabalho ao ar livre, o contacto na rua com pessoas. Adorei o trabalho que desempenhei aquando da participação do cadastro de Oliveira do Hospital. Fiz levantamentos GPS de prédios rústicos e urbanos. Uma vez que entrei com o comboio já em andamento a formação teve que ser feita no terreno. Desenvolvi competências sociais através do contacto com as pessoas, conquistei o respeito das pessoas e de quem trabalhou comigo. Trabalhei arduamente no desempenho de funções que adorei fazer. Ainda hoje e já passaram quase dez anos sou recordados pelos moradores. Orgulho-me disso! O ensino regressou em consequência de um período de largos meses sem conseguir qualquer trabalho. Ao longo destes quatros anos no ensino, observei a dureza da vida de professor. Cresci muto e aprendi a gostar daquilo que fazia. Ser professor hoje é muito mais difícil que há 10 anos atrás. Os alunos estão mais desmotivados  e é necessário estratégias diferentes para os cativar. Hoje há uma maior diversidade de alunos dentro da sala de aulas. Numa turma observam-se alunos com muitas dificuldades até alunos de excelência, passando por uma grande diversidade de culturas. Este ano letivo trabalho com alunos indianos, uma aluna do leste europeu( não me recordo do país), brasileiros e a partir da passada sexta feira de alunos ucranianos oriundos de uma Guerra sem fim à vista.   Apercebo-me que os professores têm de estar constantemente a formar-se e adaptar-se . Uma batalha para os professores sobreviverem num mundo global de hoje. Uma profissão nobre que presta um grande serviço ao país e ao mundo.  Para ser professor é preciso ter estofo e gostar mesmo daquilo que fazemos. Sinto que ainda tenho um caminho a percorrer. Adaptar.me às novas exigência e não desistir!