quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Ecos

Uma música para ouvir no feriado. Ou em qualquer altura. É que vale mesmo a pena.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Conhecidos do Brantuas

Sobre um tema que nos interessa. E com o brilhantismo de sempre. Resta saber se Crato vai olhar para a epístola como uma irrelevância impertinente de uns fala barato adestrados em retóricas a-científicas ou se continua a justificar-se com a crise (embora seja velha a sua pretensão de acabar com a alegada dispersão curricular) para limpar a escola de disciplinas idiográficas. Sabemos porquê.

Ceifando em seara alheia...

... Com a devida vénia à Gui Castro Felga.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

O camarada Bruno

O ano lectivo 2010/2011 foi provavelmente o último em que dei aulas. Realisticamente tenho de o dizer (já o admiti há muito) com toda a amargura que uma brutalidade destas despeja sobre quem o sente. Estive em Alvalade-Sado, Santiago do Cacém, com uma horrenda turma: um PIEF daqueles que...
O Tiago, que ficou em Ourique, a quarenta quilómetros a sul de mim, já glosou o Alentejo e, embora tenha as minhas próprias razões para me deslumbrar com a doce melancolia alentejana bastam-me, por ora, as sentidas palavras do Tiago sobre a sua experiência de além Tejo expressadas no início do Verão.
Em termos de estímulo profissional foi, devo reconhecê-lo, um ano para esquecer, o que não quer dizer que não tenham acontecido coisas interessantes. Uma delas foi, sem dúvida, a visita (estará a fazer um ano) que o deputado Bruno Dias, do PCP, fez aos seus «camaradas» de Alvalade, na altura para falar sobre os PEC's (ainda se lembram?) que o governo de Sócrates ia apresentando, fazendo lembrar aquela coreografia das gaivotas a voar contra o vento forte. Resolvi ir (fazer o quê, naqueles fins-de-semana?).
Para além do próprio Bruno Dias e do presidente da junta , eu era a única pessoa com menos de 70 anos na sala. Talvez por isso (e por ser desconhecido), fui abordado pelo líder concelhio do PCP e pelo próprio Bruno Dias. Embora eu percebesse o alcance da eficácia «organizacional» do aparelho de um velho partido inerente à abordagem que me fizeram, gostei de falar com o Bruno Dias. Simpático e inteligente, impressão que a sua exposição à envelhecida audiência de Alvalade confirmou. Julgo aliás que são assim os deputados do PCP: preparados e aplicados, levam a aua tarefa política a sério, raramente se confundindo com os arrivistas que vão para a política fazer negócio ou encher as fileiras clientelares de algum padrinho.
Mas tanto encómio poderá deixar uma impressão errada: que sou do PCP. Não sou. Não quero ser. Admiro à distância este partido, mas sabem como é: há o Lenine, o Estaline, o Mao, os Kim's da Coreia do Norte (ai O Bernardino Soares!) e coiso. E deixando de lado os facínoras, poderíamos ir para o lado cabotino, referindo Enver Hoxha... Sou de esquerda, mas de outras inspirações... (e não estou a colar irremediavelmente o PCP a estes personagens).
Seja como for, Bruno Dias é um bom deputado e, há uns tempos, fez a cabeça em água ao Ministro Álvaro (coitado dele e de nós que o temos no mando). Entre uns quantos mitos quebrados, fica a cara embaraçada do Álvaro neste vídeo, via Arrastão.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Um relato para ler e reler

Não costumo ser muito lamechas, no entanto a cada dia que passa apercebo-me de situações que me admiram. Já leccionei em 6 escolas nos últimos três anos, pude compartilhar sentimentos com crianças e perceber situações que me deixaram perplexo. Por vezes é admirável perceber o quão boa é uma criança, após perceber a sua realidade familiar. Não é meu timbre descrever Histórias relatadas por outrém no blogue, no entanto, não resisto a contar esta que me foi enviada por mail:

O menino do restaurante
Entrei apressado e com muita fome no restaurante. Escolhi uma mesa bem afastada do movimento, porque queria aproveitar os poucos minutos que dispunha naquele dia, para comer e acertar alguns bugs de programação num sistema que estava a desenvolver, além de planear a minha viagem de férias, coisa que há tempos que não sei o que são. Pedi um filete de salmão com alcaparras em manteiga, uma salada e um sumo de laranja, afinal de contas fome é fome, mas regime é regime não é?
Abri o meu portátil e apanhei um susto com aquela voz baixinha atrás de mim:
- Senhor, não tem umas moedinhas?
- Não tenho, menino.
- Só uma moedinha para comprar um pão.
- Está bem, eu compro um.
Para variar, a minha caixa de entrada está cheia de e-mail.
Fico distraído a ver poesias, as formatações lindas, rindo com as piadas malucas.
Ah! Essa música leva-me até Londres e às boas lembranças de tempos áureos.
- Senhor, peça para colocar margarina e queijo.
Percebo nessa altura que o menino tinha ficado ali.
- Ok. Vou pedir, mas depois deixas-me trabalhar, estou muito ocupado, está bem?
Chega a minha refeição e com ela o meu mal-estar. Faço o pedido do menino, e o empregado pergunta-me se quero que mande o menino ir embora.
O peso na consciência, impede-me de o dizer.
Digo que está tudo bem. Deixe-o ficar. Que traga o pão e, mais uma refeição decente para ele.
Então sentou-se à minha frente e perguntou:
- Senhor o que está fazer?
- Estou a ler uns e-mail.
- O que são e-mail?
- São mensagens electrónicas mandadas por pessoas via Internet (sabia que ele não ia entender nada, mas, a título de livrar-me de questionários desses):
- É como se fosse uma carta, só que via Internet.
- Senhor você tem Internet?
- Tenho sim, essencial no mundo de hoje.
- O que é Internet ?
- É um local no computador, onde podemos ver e ouvir muitas coisas, notícias, músicas, conhecer pessoas, ler, escrever, sonhar, trabalhar, aprender. Tem de tudo no mundo virtual.
- E o que é virtual?
Resolvo dar uma explicação simplificada, sabendo com certeza que ele pouco vai entender e deixar-me-ia almoçar, sem culpas.
- Virtual é um local que imaginamos, algo que não podemos tocar, apanhar, pegar... é lá que criamos um monte de coisas que gostaríamos de fazer.
Criamos as nossas fantasias, transformamos o mundo em quase como queríamos que fosse.
- Que bom isso. Gostei!
- Menino, entendeste o significado da palavra virtual?
- Sim, também vivo neste mundo virtual.
- Tens computador?! - Exclamo eu!!!
- Não, mas o meu mundo também é vivido dessa maneira...Virtual.
A minha mãe fica todo dia fora, chega muito tarde, quase não a vejo, enquanto eu fico a cuidar do meu irmão pequeno que vive a chorar de fome e eu dou-lhe água para ele pensar que é sopa, a minha irmã mais velha sai todo dia também, diz que vai vender o corpo, mas não entendo, porque ela volta sempre com o corpo, o meu pai está na cadeia há muito tempo, mas imagino sempre a nossa família toda junta em casa, muita comida, muitos brinquedos de natal e eu a estudar na escola para vir a ser um médico um dia.
Isto é virtual não é senhor???
Fechei o portátil, mas não fui a tempo de impedir que as lágrimas caíssem sobre o teclado.
Esperei que o menino acabasse de literalmente 'devorar' o prato dele, paguei, e dei-lhe o troco, que me retribuiu com um dos mais belos e sinceros sorrisos que já recebi na vida e com um
'Brigado senhor, você é muito simpático!'.
Ali, naquele instante, tive a maior prova do virtualismo insensato em que vivemos todos os dias, enquanto a realidade cruel nos rodeia de verdade e fazemos de conta que não percebemos!

É por estas situações que concluímos que grande parte das nossas incertezas e problemas são irrelevantes!!!

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Em dia de Greve Geral

deixo estes três links. http://apede08.wordpress.com/2011/11/24/e-amanha/#comments http://apede08.wordpress.com/2011/11/24/reflexao-em-dia-de-greve-geral/ http://www.youtube.com/watch?v=cX8szNPgrEs (Desculpem a falta de criatividade mas isto de ser desempregado até que inibe a aventura petulante em escritos mais ou menos cívicos...)

Texto sugeridos por Sérgio Vieira

E amanhã?
Tal como um dos nossos últimos “posts” recordavam o texto que publicámos aqui há um ano atrás, relembramos agora o que escrevemos em 24 de Novembro de 2010. Com a percepção de que nada mudou e com a convicção (dolorosa) de que nada mudará nos tempos mais próximos. Mesmo que os “donos” da “luta” proclamem, demagogicamente, o contrário.
Hoje realizou-se uma greve geral. Ou seja: uma daquelas formas de luta que, pela sua amplitude, deveria ser muito mais do que um protesto, pensada numa perspectiva de continuidade e usada para fazer avançar, de forma eficaz e contundente, um caderno reivindicativo bem claro.
E agora?
E amanhã?
Amanhã os grevistas de hoje (todos nós) voltarão ao trabalho, para serem apascentados na ignomínia quotidiana em que se transformou boa parte das relações laborais.
Amanhã os grevistas de hoje estarão a deitar contas à vida, à espera do Janeiro que trará o Inverno e as reduções salariais.
Amanhã os grevistas de hoje vão ranger os dentes sem saberem o que fazer a seguir para se libertarem do buraco social onde foram enfiados.
Amanhã os grevistas de hoje vão regressar ao desespero manso de quem quer recusar a fatalidade do empobrecimento como horizonte, sem que, ao mesmo tempo, lhe consiga vislumbrar uma saída.
A menos que…
E, já agora, acrescentamos um “post” de João Lisboa, crítico musical no Expresso e blogger nas horas livres, que diz o mesmo que nós por outras palavras:
ORDEIRAMENTE ENQUADRADO O “DESCONTENTAMENTO”, DEVIDAMENTE ACTIVADAS AS VÁLVULAS DE ESCAPE PARA A “INDIGNAÇÃO”, ENTREGUE UM DIA DE SALÁRIO A BEM DA NAÇÃO E ASSEGURADA MAIS UMA ALÍNEA NO CV DOS MANDARINS SINDICAIS, SEXTA-FEIRA 25.11.11 SERÁ APENAS UM DIA IGUAL AOS OUTROS

Blogue APEDE em 24 de Novembro de 2011

Reflexão em dia de greve geral
Vivemos hoje uma fase que é, talvez, única e inédita na história da luta dos povos pela sua emancipação e pelos direitos sociais.
O seu carácter novo reside nisto: enquanto toda a história anterior foi feita num crescendo de conquista de direitos que não estavam, antes disso, nem pensados nem consagrados, agora assistimos ao processo inverso: o da demolição e da retirada gradual desses direitos. Com uma agravante: o que dantes foi concebido como um direito é agora reescrito, no discurso hegemónico, como um privilégio ou uma regalia injustificada. E este último aspecto no ataque aos direitos sociais é, porventura, o mais terrível de todos. Porque desqualifica os direitos na cabeça de quem deles se vê privado, impedindo que as pessoas reconheçam essa privação e lutem contra ela. Porque torna muito mais difícil, se não mesmo impossível, reconhecer a necessidade desses direitos e a ilegitimidade da sua ausência.
A regressão que estamos hoje a sofrer não se dá apenas no usufruto dos direitos sociais. Dá-se também na capacidade colectiva de pensá-los e de exigi-los.
Chama-se a isto ideologia dominante.
Em Portugal, ela está a ter uma tremenda eficácia.

Blogue APEDE em 24 de Novembro de 2011


HDR/DRH

Na sequência do importante post do Tiago, deixo aqui o link para o Relatório de Desenvolvimento Humano de 2011 elaborado pelas Nações Unidas. É, a quem puder interessar ou servir utilidade, de uma grande valia informativa.
E, para um nível nacional, fica este.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Indicadores demográficos e económicos

O jornal Público na sua edição online publicou, os indicadores demográficos e económicos dos países do Mundo especificando a  Zona Euro. Pode ser interessante para perceber as discrepâncias existentes e tirar ilações reflexivas.

Deixo aqui o link:
http://static.publico.pt/homepage/infografia/mundo/IndiceDesenvolvimento/?mid=536

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Homenagem a Orlando Ribeiro

Na passagem do centenário do nascimento de Orlando Ribeiro, a Academia das Ciências dedicou a sua sessão ordinária ao grande geógrafo cuja actividade e obra marcaram uma época.

Apresento aqui o link texto transcrito sobre o tema no Diário as Beiras:


domingo, 13 de novembro de 2011

Sugestão

Coisas que Nuno Crato deveria considerar menos e outras que deveria considerar mais.
É em causa própria mas a vida tem destas coisas de, por exemplo, defendermos os nossos interesses. E porque é uma causa justa.


Numa rua da Alemanha!!!!

Não posso deixar de referir uma imagem colocada no blogue Arrastão, por Daniel Oliveira, que retrata com clareza, a forma como o povo alemão vê os países que se encontram endividados e necessitam recorrer ao FMI. A Alemanha e a França, cegamente não se apercebem do mal que estão a fazer a eles próprios, assim como à própria União Europeia, que tem o seu futuro em Risco.

sábado, 12 de novembro de 2011

A mesma História

O MEC continua seráfico em relação às dúvidas absolutamente legítimas referentes ao conteúdo da anunciada reforma curricular. Preocupa-me, claro, a disciplina que me interessa: História. Crato fala de História como um saber que importa considerar mas não desmentiu (e o silêncio é revelador) as repetidas e aparentemente bem-informadas notícias sobre a sua anunciada fusão com Geografia, o que estaria em óbvia contradição com o sentido das afirmações de Crato autor. Ora, esta medida (a actual carga horária de História e de Geografia é ridícula) confirmaria o destroçar dos saberes humanos e sociais no 3º CEB e contribuiria decisivamente para uma formação ainda mais truncada e idiotizante dos alunos, dito de outra forma, de uma sociedade mais tacanha e acrítica.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Do caraças...

Estas coisas merecem ser lidas e recordadas. E afirmadas. E divulgadas! Porque importam, sim senhor e têm tudo a ver com o caso.

Quem cospe para o ar...

É inacreditável o baixo nível e o rasteirismo xenófobo da "boa Europa" contra a "má Europa". Old habbits die hard, com efeito. Sem querer escamotear certos desvarios gregos, há que reconhecer que os PIIGS que estão a morrer não se limitaram a correr para o matadouro, alguém os levou até lá. E esse alguém foi a própria UE construída à luz dos rígidos princípios do mais fanático monetarismo que transformou o BCE numa perfeita inutilidade que, não só nada resolve, como complica e que impede os Estados de utilizarem políticas monetárias (como a desvalorização cambial) para financiar os défices, antes os prendendo a uma moeda hipervalorizada e que beneficia a Alemanha e mais um punhado de países que acumularam enormes quantias de excedentes que exportam para os endividados. Ora, é precisamente daqueles que vêm os comentários mais badalhocos sobre a situação... mas que ocasionalmente recebem resposta à altura. É caso para dizer: para moralista, moralista e meio.

domingo, 6 de novembro de 2011

Million dollars question

Um aspecto que sempre me fascinou nos temas da UE é a ambiguidade da sua natureza que leva os "cientistas políticos" a falarem de uma entidade política (uma polity no linguajar sofisticado do mundo anglo-saxónico) híbrida, em aberto, um objecto político indeterminado, entre outras possibilidades mais ou menos conceptualmente virtuosas como a de multi-level, de F. Scharpf, ou a de federalismo frustrado, de Villaverde Cabral.
Seja como for, a actual farsa que tomou conta de uma UE há muito à deriva parece ser o lado negro dessa mesma indefinição de natureza e de objectivos agravada por lideranças nacionais absolutamente lamentáveis.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Femme Fatale

Conforto é a tua tia

Parece que um qualquer sujeito que está Secretário de Estado (da juventude e desporto?) disse que os jovens desempregados devem sair da sua zona de conforto e emigrar.... É mais uma declaração bizarra (mas não necessariamente uma gaffe) desta gente sinistra que nos governa.
Estará o referido incumbente a querer limpar os números do desemprego (já que excedentes demográficos não há) ou à espera de remessas de emigrantes, como antes se fazia? Ou, simplesmente a dizer I just don't give a damn!
Já agora, que conforto é que há no desemprego?
P.S. Já nem refiro a tristeza que é a emigração de quadros valiosíssimos para outros países, mas enfim... fica a nota.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Once upon a time...

Não há nada tão mau que não possa piorar...
Já agora, permito-me uma sugestão de leitura algo saudosista (os tempos eram outros e os problemas também) What's Wrong With European Union and How to Fix It, Simon Hix. Três anos é mesmo muito tempo... Não é só a fruta que é biodegradável...


O desmoronar da Democracia

Escrevi no longínquo mês de Março, no contexto da "Primavera Árabe" um enquadramento da palavra Democracia. Curiosamente começou por ser implementado na Grécia ,o designado berço da civilização, que agora esta a desagregar-se, em resultado da convalescença dos mercados, ou melhor da ascensão meteórica do seu poder e influência.

Após a publicação do referido texto, já ocorreram uma convulsão de acontecimentos, que nos atormentam a todos, principalmente a maior franja da sociedade os "plebeus da sociedade média e baixa", os muito afamados 99%.

Atormenta-me perceber que o caminho traçado pela Europa nas últimas décadas conduziu à progressiva fragmentação da sua União Política, observando-se o descalabro da União Monetária. Observa-se que conquistas dos trabalhadores e do povo, que ocorreram durante décadas, os Subsídios de Férias e de Natal, foram aniquilados, em consequência de políticas descompensadas dos sucessivos governos, que beneficiam consecutivamente os grandes lobbies.

Apraz-me registar todos estes cortes, reflectidos nos salários e impostos inferidos ao portugueses, no entanto não é principalmente isso que me atormenta. Preocupa-me sim, que com o alargamento dos mercados e o ganho de influência do poder financeiro sintamos que a corrupção é cada vez mais declarada e a transparência inexistente. Caso os cortes referidos mostrassem um caminho claro, onde a saída fosse detectável, não veria qualquer problema em fazer sacrifícios, o problema é que não é isso que acontece.

A democracia é poder que foi concebido ao povo, através do voto, no entanto os nossos governantes traem diariamente os seus eleitores, escondendo sucessivamente negócios obscuros, que arruiam(ram) as nossas contas públicas, em favor de interesse económicos.
É por todas estas situações que eu me apercebo que a democracia nos seus trâmites originais , está a desmoronar-se, pois como refere José Saramago, quem Governa não são os governos mas as Grande empresas e interesses económicos. No fundo quem manda, ou neste caso ganha sempre, são os mercados e cada vez menos os cidadãos. 

terça-feira, 1 de novembro de 2011

O fim anunciado da disciplina de História

Para raciocinar criticamente sobre um assunto é preciso começar por conhecê-lo. Pretendendo-se formar «estudantes críticos» sem lhes fornecer a necessária formação e treino, apenas se formam ignorantes fala-barato.
Nuno Crato, O “eduquês” em discurso directo, Gradiva, 2006, p. 86

O ministro da Educação Nuno Crato prepara-se, no âmbito da nebulosa reorganização curricular que se encontra em curso, para extinguir a disciplina de História do terceiro ciclo como área autónoma do saber.
Não admira que este economista e matemático de formação assuma tal responsabilidade, pois parece não convir aos políticos, economistas e gestores que moldaram e controlam o mundo neoliberal deprimido de hoje que este seja interpretado a partir de critérios metodológicos e quadros do conhecimento que só a ciência histórica pode fornecer. Decididamente, não interessa a estes diretores e manipuladores da situação que os jovens e futuros cidadãos desenvolvam uma consciência histórica que lhes permita questionar e rebater de forma argumentada o paradigma económico-social e político nacional e mundial contemporâneo.
Hoje os media estão contaminados por economistas-gestores que opinam sobre tudo e condicionam a opinião pública. Esses mesmos economistas-gestores que nunca foram capazes de antecipar a crise — ou não tiveram o interesse ou a coragem para o fazer — e são agora incapazes de nos apresentarem soluções percetíveis para a superar, mas que, à conta dessa crise, invadiram os meios de comunicação social, dominam o mundo financeiro e empresarial e determinam a ação dos políticos. Os mesmos economistas-gestores que, entretanto, resolveram obnubilar o facto de a crise dos subprimes de 2008 estoirar nos EUA (e depois, por efeito dominó, na Europa) devido às desreguladas e criminosas atividades especulativas do setor privado. E que hoje nos vêm dizer que a culpa de estarmos a descer ao inferno tem de ser somente assacada aos gastos desmedidos que os políticos fizeram no setor público – ou seja, em prol de um Estado-providência que, apesar de ter cometido (intoleráveis) erros de palmatória, é afinal acusado de ter desejado praticar o supremo crime de assegurar uma sociedade mais justa e democrática, em que todos tivessem igual acesso à educação, à saúde e à justiça.
É, no entanto, curioso registar que perante a iminência do fim das disciplinas de História e de Geografia no terceiro ciclo do ensino básico, que se prevê serem fundidas numa disciplina híbrida — a qual, pormenor de somenos importância, será doravante lecionada por professores de História sem formação de Geografia e por professores de Geografia sem formação de História —, toda a gente fique calada. Com efeito, sobre este assunto só os sindicatos dos professores denunciaram com alguma fogosidade o risco de esta medida, estritamente economicista e sem justificação pedagógica e cívica, poder contribuir, a curto ou médio prazo, para o despedimento de muitos professores de História e de Geografia contratados ou mesmo dos quadros de nomeação definitiva das escolas e, portanto, com 10 ou até mais de 15 anos de trabalho.
Onde estão os professores de História do ensino básico e secundário? E por onde andam os professores de História do ensino universitário? E onde está a Associação de Professores de História que, depois de ter apresentado uma petição/manifesto contra tal medida, parece ter-se desinteressado do assunto? E o que pensa sobre este tema a sempre tão interventiva Confederação Nacional de Associação de Pais? E os ex-presidentes da República Mário Soares e Jorge Sampaio? E, ainda que mal pergunte, que justificação pretende dar Nuno Crato para assumir a responsabilidade política desta decisão? Note-se, o mesmo que antes de estar ministro advogou, num livro que pretendeu desconstruir, argutamente, os mitos da pedagogia romântica e construtivista, ser «preciso centrar forças nos aspetos essenciais do ensino, ou seja, na formação científica de professores, no ensino das matérias básicas, na avaliação constante e na valorização do conhecimento […]» (O «Eduquês» em discurso direto, Gradiva, 2006, p. 116).
Se a disciplina de História for mesmo banida dos currículos do terceiro ciclo do ensino básico — registe-se, no exato momento do rescaldo das exuberantes comemorações do centenário da Primeira República (1910-2010) —, então sugiro ao ministro Nuno Crato que mande para as urtigas a «formação científica dos professores» e o «ensino das matérias básicas» que tanto defendeu, e opte por idênticos processos para outras disciplinas. Nomeadamente, que trate de fundir a disciplina de Matemática com a disciplina de Ciências Físico-químicas e a disciplina de Português com a disciplina de Inglês. Desta forma, o Ministério da Educação poderá cumprir os seus crípticos desígnios de contribuir para a formação de alunos «ignorantes fala-barato», instruir cidadãos castrados, despedir professores e, evidentemente, poupar dinheiro. A escola pública e o país agradecem.
Luís Filipe Torgal
Texto publicado no blogue de Paulo Guinote "Educação do meu umbigo"