sábado, 31 de dezembro de 2011

Bom Ano

Desejo a todos um Bom Ano novo, com um abraço.

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Divagações arbitrárias no culminar de 2011

Com o  ano a terminar são inevitáveis as memórias deste final de ano onde a palavra esperança se foi perdendo, à medida que as medidas de austeridade foram crescendo.
Lembro-me, com saudade, das bondosas palavras do povo alentejano e todos os bons momentos passados a exercer a minha actividade profissional. Aprendi muito este ano e apesar de tudo não posso deixar de o realçar.
No entanto arrepiam-me todas estas mudanças drásticas e brutais sentidas na pele pelo comum cidadão, que, com o suor do seu trabalho, se esmera por uma merecida retribuição ao fim do mês. Infelizmente esse prémio mensal penaliza cada vez mais o humilde trabalhador através de sucessivos cortes nos salários, ou mesmo,  no incumprimento dos patrões nas suas obrigações, aumentando em catadupa os casos de salários em atraso ou os lay off.
Apercebo-me, com um sentimento de frustração e inconformismo, daqueles que se vangloriam por terem conseguido enganar o Estado, fugindo aos impostos. Irrita-me as pessoas fazerem de mim burro simplesmente porque não me passa pela cabeça o não cumprimento da lei.
A idade deixou de ser um posto e ao mínimo deslize temos o nosso posto de trabalho em risco. Se tivermos em conta que o deslize pode ser apenas não concordar com uma opinião influente, pergunto será tudo isto democracia.
As leis mudam a um ritmo frenético. Ontem fui com a minha irmã a uma superfície comercial e ela tencionava comprar o código de trabalho, o que eu achei positivo. No entanto aquando da sua tomada de decisão  interrogou-se, sobre se deveria ou não comprar, pois o mesmo era de 2011 e estando a chegar a 2012 as regras do jogo poderiam mudar e já não seria vantajoso comprar o dito livro. Não comprou!!!
A rapidez das mudanças assusta-me, muito mesmo. Arrepia-me saber que os direitos adquiridos dos trabalhadores estão, progressivamente, a ser perdidos, em detrimento de políticas económicas dúbias e pouco transparentes.A política neoliberal do governo imprimida pela troika está a afundar o país tornando-o menos competitivo economicamente com uma consequente perda da sua soberania.

Numa fase onde as notícias não são as melhores salienta-se, pela positiva o crescimento do blogue no respeitante ao número, qualidade dos textos produzidos assim como no número de visitas.  No final de 2011 não podia deixar de realçar o trabalho desenvolvido pelos responsáveis dos textos transcritos salientando,  merecidamente, o Sérgio, pois sem a sua presença nada do que foi construído seria possível.

Para 2012 aguardo que seja tão bom ou melhor que 2011, que me traga trabalho e saúde para mim e para as pessoas que me estão próximas.

Feliz 2012 para todos!!!

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Lixo em directo

na sic, onde há uma exposição live feed de uma acusação com todos os detalhes sobre a expulsão de um dos concorrentes do «Peso Pesado», um formato tele lixo que tem merecido a simpatia de muita gente. Há escândalo de frivolidades? liguem as câmaras e mostrem ao tuga, talvez o parvo não pense na vida.

Arroto de Natal

O tipo arrotou. E houve quem se tivesse dado ao trabalho de ouvir. Ainda bem: escreveram isto. E isto.

Textos sugeridos por Sérgio Vieira.

Mensagem do Coveiro aos tontos.

Explicando o que quer dizer com democratização da economia, o primeiro-ministro utilizou a mensagem de Natal para afirmar que quer “colocar as pessoas, as pessoas comuns com as suas actividades, com os seus projectos, com os seus sonhos, no centro da transformação do país”. E “que o crescimento, a inovação social e a renovação da sociedade portuguesa venha de todas as pessoas, e não só de quem tem acesso privilegiado ao poder ou de quem teve a boa fortuna de nascer na protecção do conforto económico”. Traduzindo a treta de Natal por miúdos, a “democratização da economia” de Passos Coelho é a concretização do sonho de fazer de cada português um precário sem direito a protecção no desemprego, de nos pôr a trabalhar mais de um mês à borla e subtrair-nos mais de dois salários por ano, de aumentar os impostos e os preços de serviços públicos essenciais como nunca ninguém aumentou, não se importar que isso traga atrás de si encerramentos de empresas em barda, uma aceleração record do desemprego e um recuo histórico do PIB, de vender empresas públicas ao desbarato e pôr-nos a pagar uma renda a quem as compre durante as próximas gerações, desmantelar os nossos serviços públicos para abrir negócios aos privados e, democracia das democracias, manter as grandes fortunas e o sector financeiro à margem de qualquer sacrifício, ao mesmo tempo que insulta quem sacrifica dizendo-nos para nos irmos embora do país e lembrando-nos que vivemos acima das possibilidades de uma riqueza que nunca provámos. Prefiro não escrever mais nada. Sinto-me insultado sempre que este tipo abre aquela boca.

Actualização: na meia hora a seguir a escrever este post, no facebook, recebi mais dois pedidos na aplicação Castle Ville e um noutra palermice do género. Afinal, deve estar tudo bem.

Texto retirado do blogue O país do Burro em 25 de Dezembro de 2011


PROLETARIZAÇÃO, PERDÃO, DEMOCRATIZAÇÃO DA ECONOMIA

O Primeiro-ministro enfatizou duas ideias na comunicação natalícia e de ano novo, 2012 será um ano de mudança e de “democratização da economia”.

Relativamente à mudança não restarão grandes dúvidas face ao que já conhecemos e ao que se espera conhecer. Os aumentos já decididos em vários serviços e bens, os cortes nos apoios sociais envolvendo diferentes áreas, o aumento de impostos, etc., etc., mostram com de facto 2012 vai ser um ano de mudança, na linha, aliás, do muito que na vida de muitas pessoas já aconteceu, cito, só como exemplo, o aumento já verificado e ainda previsto no número de desempregados.

Por outro lado e relativamente à “democratização da economia”, a perspectiva, até de acordo com gente insuspeita, creio podermos esperar é mais provavelmente uma via de proletarização da economia, aliás, o próprio Primeiro-ministro já enunciou que o caminho é o empobrecimento.

Aumento da carga horária sem alteração de vencimento, corte de dois vencimentos em toda a administração e nas pensões e reformas, flexibilização do emprego, abaixamento do tempo e montante dos subsídios de desemprego, entre outras medidas anunciadas ou previstas que assentam, sobretudo no abaixamento dos custos do trabalho como forma de financiar a economia, ao abrigo da incontornável competitividade, conduzirão, é reconhecido pelo próprio governo, a uma fase recessiva grave que não se percebe com sustentará uma “democratização da democracia”.

Provavelmente, ”democratização da economia” quererá dizer que o acesso à pobreza e às dificuldades é mais equitativo, ou seja, franjas como a chamada “classe média” podem agora aceder à pobreza em situações de maior democratização.

A pobreza já não é uma condição só acessível a alguns, agora e em 2012 muitos de nós já vamos poder ser pobres.

Gostava de estar errado.


Texto escrito por Zé Morgado no Blogue Atenta Inquietude. no dia 25 de Dezembro.

sábado, 24 de dezembro de 2011

E é Natal

Feliz Natal a todos.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Lard can

Sebosidades num grande (como sempre) texto de Manuel António Pina.

O rapaz da fogueira

Esta noite, as luzes apagaram-se mais cedo e a aldeia encerrou-se precocemente na escuridão. Deambulas pelas ruas sem destino marcado e vais sentindo as gargalhadas que atravessam as paredes das casas, enquanto imaginas o que estará para além do que nunca te deixaram ver ou sentir.

Ano após ano, desde que te lembras existir, aquela era sem dúvida a noite mais triste da tua vida. Talvez por isso, nunca deixavas de caminhar, como se tivesses um lugar a alcançar e existisse mesmo alguém à tua espera, ao fundo de cada esquina que vias aparecer à distância da imaginação.

Hoje, à medida que a noite avança, os teus passos ecoam na calçada e isso é o mais próximo do que podes saber sobre a porta de uma casa. Agora que te lembras, já lá vão muitos anos desde a tua chegada à rua. Verdadeiramente, foi ali que nasceste e também ali cresceste. Tudo o que conheces tem o sabor daquelas pedras.

No vazio da escuridão, continuas a avançar, até que, subitamente, do outro lado da rua há uma luz que se acende. Tens pressa em esconder-te, mas as pernas tremem-te e quanto mais tentas correr, mais o teu corpo balança descoordenadamente de um lado para o outro. Nunca confiaste em ninguém e nunca ninguém confiou em ti e, por isso, a tua vida é a solidão.

Pouco depois, quando a luz se apaga, regressas ao trilho desejado. Na próxima esquina, lembras-te, quando derem as onze badaladas, haverá muita comida no lixo, trazida pelos homens da casa amarela. E dás por ti a caminhar mais rapidamente, desejoso de forrar os sentidos com alguma segurança.

Não tarda para que percebas que tudo será como nos anos anteriores. Estranhamente ou talvez não, dás por ti a pensar como é curiosa esta época, em que os homens repetem, ano após ano, um conjunto de rituais, como se temessem a mudança e as partidas que o futuro, inevitavelmente, anuncia. Talvez por isso, logo a seguir, exactamente às onze badaladas em ponto, a casa amarela abrirá as suas portas e os caixotes com os produtos enjeitados estarão à tua espera. Agora mesmo, a primeira refeição do dia reclama a tua presença.

Já com a barriga cheia, poderás novamente avançar. Ouvirás as doze badaladas junto à porta da casa de pedra e os sorrisos dos meninos chegarão até ti, como se te embalassem e convidassem a entrar.

Mas tu estás sempre de partida e a próxima casa já está ali mesmo à frente, a escassos metros da tua presença. À distância, qualquer observador atento poderia perceber que a noite avança em sintonia com os teus passos a ecoar na calçada. Dentro de ti, há risos e barulhos constantes que tentas entender à luz do silêncio da tua sombra, a perseguir-te. Mas as escalas são muito diferentes e existem mundos difíceis de equilibrar, até mesmo no pensamento…

Ao fundo da rua, vês um vulto negro a correr para o caixote da casa mais pobre da aldeia. Serão talvez quatro da madrugada e sabes que dali não haverá muito a esperar, mas, ainda assim, avanças com a mesma ansiedade com que sempre o fizeste anteriormente. Quando estás quase a chegar, um barulho estranho desperta-te a atenção e paralisa-te os movimentos.

Finalmente, quando ganhas coragem e tocas o saco preto atirado para o lixo ouves um leve choro que te toca a alma, como nunca ninguém havia conseguido. Tomas aquele embrulho nas mãos e ao depositá-lo no chão compreendes que existe ali uma criança, muito pequenina, como todas as crianças.

Ao olhar aquele rosto desprotegido quase podes jurar estar perante um espelho do tempo, em todos os sentidos. Também tu, um dia, tinhas sido abandonado, para não mais ser lembrado. Tu poderias ser aquela criança – e ali mesmo, em frente à casa mais pobre da aldeia, o teu pensamento foge para junto daqueles que um dia terão partido depois de te deixar. Talvez as pedras duras encimadas pelas janelas com vidros partidos te ajudem a explicar o que nunca poderias perdoar.

As lágrimas caem-te pelo rosto, como nunca pensaste poder acontecer. Retiras o casaco de serapilheira, único abrigo que ainda te resta e com dificuldade consegues estendê-lo no chão. Depois, a tremer por todos os lados, embalas o tenro rebento em todas as roupas que encontras e deposita-lo no teu casaco, enquanto procuras nos bolsos um fósforo que te apressas a acender.

No chão, mesmo ao lado daquela criança, começam a arder os papéis que acumulaste ao vasculhar os restos dos outros. Aquele calor não durará muito, pensas para ti próprio. E então, deixas-te cair sobre o chão, ergues as mãos e arrancas cada uma das pernas de pau que um dia uma alma caridosa te havia colocado e que o próprio ventre te havia recusado. Ali aprisionado, consentes que o fogo, lentamente, as consuma, uma a uma. E sentes o calor a crescer por fora.

No seu berço improvisado no meio do nada, a criança fascinada pelo inesperado calor da fogueira balbucia um sorriso e deixa-se adormecer. Está tranquila. Talvez sonhe.

Algumas horas depois, quando várias pessoas foram atraídas por aquela chama intensa, já ardia a última perna de pau daquele rapaz abandonado, que, para sobreviver, passara a vida a vaguear pelas ruas.

Sobre o que se passou a seguir nada poderei dizer ao certo, que a memória é curta e as minhas fontes, infelizmente, foram-se apagando com a passagem dos anos. Recordo que durante a meninice, perguntei muitas vezes à minha avó se aquela criança encontrada no meio do lixo tinha ou não sido salva, mas a resposta chegou sempre atrelada ao mesmo sorriso: Isso, meu netinho, ainda está por escrever... Talvez um dia, talvez um dia possas compreender…

Ainda hoje, naquela aldeia embalada no meio das serranias, por onde deambula o autor destas palavras, se diz que, uma vez por ano, no velho adro da igreja, a fogueira se acende no exacto local onde há muitos, muitos anos aquele rapaz abandonado também o tinha feito, para abrir as portas a uma nova vida, quando todas as outras já tinham sido fechadas.

Tal como me recorda o eterno sorriso da minha avó, a resposta à velha pergunta ainda está por construir; depende apenas de nós. Afinal, sempre que a porta se abre, o Natal acontece. E a distância desaparece.

Este “conto” é particularmente dedicado a todos aqueles que, pelos mais variados motivos, um dia tiveram de partir (ou ver partir…) e viver o Natal à distância.
Renato Nunes

domingo, 18 de dezembro de 2011

Reacções

Zonas de conforto II. Vá bardamerda, ó cabotino!

  http://educar.wordpress.com/2011/12/18/emigra-tu/

Textos sugerido por Sérgio Vieira

Emigra Tu!


E pronto, as contemplações terminam aqui e não há boa impressão pessoal que resista a isto.

Passos Coelho sugere a emigração a professores desempregados

O primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, sugere que os professores desempregados emigrem para países lusófonos, realçando as necessidades do Brasil.

Questionado sobre se aconselharia os “professores excedentários que temos” a “abandonarem a sua zona de conforto e a “procurarem emprego noutro sítio”, Passos Coelho respondeu: “Em Angola e não só. O Brasil tem também uma grande necessidade ao nível do ensino básico e secundário”, disse durante uma entrevista com o Correio da Manhã, que foi publicada hoje.

Pedro Passos Coelho deu esta resposta depois de ter referido as capacidades de Angola para absorver mão-de-obra portuguesa em sectores com “tudo o que tem a ver com tecnologias de informação e do conhecimento, e ainda em áreas muito relacionadas com a saúde, com a educação, com a área ambiental, com comunicações”.

Caro PM, faça o favor de calar-se ou então, caso não o consiga, deixe a conversa de merd@ apenas para o relvas, os secretários de estado ou os duques que nomeia para grupos de trabalho?

Temos mais ou menos a mesma idade, certamente que aceitará a familiaridade de lhe dizer que entre o seu trajecto e o de muitos professores com a nossa idade, a principal diferença foi a jotice, o agachanço ao padrinho ângelo e o ter aceite abdicar das suas convicções que um dia afirmou serem sociais.

Entre um professor com médio desempenho e um PM desorientado, não há dúvidas quanto a quem escolher. Se não consegue fazer mais do que um qualquer governante do Estado Novo que, perante a incapacidade para gerar riqueza e desenvolvimento, estimula a população (neste caso até qualificada) a emigrar, então é porque está a ocupar o cargo errado e, no seu caso sim, está a mais entre nós.

Bute nisso!

Texto Publicado no Blogue do  Educação no dia 18 de Dezembro


Expulsem-se os professores.

E afundem-se-lhes os barcos, descarrilem-se-lhes os comboios, despistem-se-lhes os carros e expludam-se-lhes os aviões mal saiam!

Texto Publicado na Educação do meu Umbigo no dia 18 de Dezembro de 2011



Hannibal ad portas

Normalmente é em cenários de guerra.

Texto sugerido por Sérgio Vieira


Reino Unido prepara plano para retirar britânicos de Portugal em caso de bancarrota

As autoridades do Reino Unido estão a preparar-se para a eventualidade de retirarem cidadãos britânicos de Portugal e de Espanha, num cenário em que fiquem sem acesso às suas contas bancárias nos países ibéricos, em caso de colapso dos bancos, noticiou hoje a imprensa inglesa.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros (Foreign Office) britânico está preocupado com esta eventualidade e o Governo está a considerar fretar aviões, barcos e autocarros para poder fazer os expatriados nestes países regressarem ao país, segundo o Daily Telegraph de hoje, que faz manchete com a notícia, citando uma fonte não identificada daquele ministério. O Sunday Times também deu a mesma notícia.

Existem cerca de 55 mil cidadãos britânicos em Portugal e perto de um milhão em Espanha, segundo aquele jornal, que diz tratar-se sobretudo de reformados que vivem de pequenos rendimentos, a quem poderia ser enviada também ajuda em dinheiro.

Este cenário está a ser considerado no âmbito de um eventual agravamento da crise do euro, que os britânicos consideram que pode fazer entrar em colapso os bancos dos dois países – apesar de Portugal estar a ter assistência financeira da troika.

Um porta voz do Ministério das Finanças disse apenas, citado também pelo Telegraph: “Claro que planeamos um leque de contingências. Mas não vamos especificar o que é que estamos planear.”
Entretanto, fonte oficial do Ministério dos Negócios Estrangeiros britânico disse à Lusa que o país tem planos de contingência para qualquer eventual cenário, após serem conhecidas as notícias daqueles dois jornais. A mesma fonte adiantou que as declarações publicadas no Sunday Times não são oficiais.
No mês passado, foi noticiado que o Foreign Office estava a pedir às embaixadas e consulados planos de contingência para motins e agitação social nos países mais afectados pela crise da zona euro.

Texto escrito no jornal Público no dia 18 e Dezembro de 2011



quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Biodiversidade

E que tal passar esta informação à comunicação social portuguesa? Talvez a fauna que por lá aparece variasse um pouco...

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Entretanto

... a UE deu uma monumental cacetada no sentido da democracia ao aprovar (26 Estados!) o exame prévio de burocracia de Bruxelas de latos poderes sobre os orçamentos nacionais. Sendo o orçamento o grande instumento de qualquer país para executar uma determinada política, a possibilidade de alternativa fica fora da equação. Eleições para quê? Pior mesmo é que isto não tenha merecido uma comoção colectiva. Enfim... tempos de vil decadência.

Reforma Curricular

Dando a voz a quem pode falar sobre o assunto.

Texto sugerido por Sérgio Vieira.

Revisão da Estrutura Curricular: gato escondido com rabo de fora

Foi ontem apresentada, publicamente, e profusamente divulgada pela comunicação social, mais “uma etapa” do processo tendente à poupança de largas centenas de milhões de euros à custa das condições laborais e da estabilidade profissional de largos milhares de docentes. Não adianta sequer avançar aqui com a demonstração de tal facto, bastando para tal a consulta aos quadros com as cargas horárias totais, nos diversos ciclos de ensino, constante no documento de Revisão da Estrutura Curricular. Para além das reduções de carga horária que irão sofrer estas ou aquelas disciplinas, da eliminação disto ou daquilo e do sentido e coerência destas “reformas”, situações já largamente debatidas na blogosfera, importa sublinhar dois aspetos preocupantes e desconstruir o mito do reforço da carga horária da disciplina de História, no 3º ciclo. Vejamos:

– A simples eliminação da Formação Cívica, vai certamente contribuir para a redução global de horários letivos (numa escola de 2º e 3º ciclo poderá significar um corte de 2 horários completos, ou próximo disso) e obrigar a horários com maior número de turmas, a par das nefastas consequências daí decorrentes. Por outro lado, não se percebe bem em que momento e circunstâncias os diretores de turma irão poder tratar das questões disciplinares e burocráticas com os seus alunos. Finalmente, mas não menos importante, importa  saber como e de que forma os Conselhos de Turma irão conseguir desenvolver, de forma transversal, as atividades que visam a formação integral do aluno e a prática de uma cidadania ativa, informada e responsável.

– Facto da maior gravidade e a obrigar a uma grande atenção por quem de direito (leia-se, sindicatos… completamente cilindrados e mesmo ignorados neste processo): para além de tudo o que ficou referido no ponto 1, a eliminação da Formação Cívica pode muito bem abrir o caminho para a passagem das 2 horas de reduçao da direção de turma, da componente letiva para a não letiva. Sobre isto Nuno Crato nada disse. O silêncio é de ouro para o MEC… mas seria bom que não se esperasse pelo documento de lançamento do ano letivo 2012-13 com o facto eventualmente consumado.

– Ao contrário do que a comunicação social apressadamente veiculou, e que o próprio Nuno Crato se encarregou de reforçar no “Prós e Contras”, de ontem à noite, é falso que esta Revisão Curricular, tenha vindo reforçar a carga horária da disciplina de História, no 3º ciclo. O que agora se anuncia não é propriamente um reforço, mas sim uma simples reposição do meio bloco letivo que a esmagadora maioria das escolas já atribuía à disciplina de História, na gestão dos tempos a atribuir pela escola, tempos esses que, este ano letivo, foram suprimidos. Ainda assim, a História continuará a ser uma disciplina sacrificada e depauperada na sua carga horária. Basta recordar que, no passado, e sem alteração dos programas, a História, no 3º ciclo, dispunha de 400 minutos (3+3+2 tempos de 50 minutos) e para o próximo ano letivo (já incorporando este meio bloco agora reposto), na maioria das escolas, passará a ter 360 minutos (1+1,5+1,5 blocos de 90 minutos) se se mantiver a paridade da distribuição de tempos com a Geografia. E esta é, precisamente, outra questão lamentável que o MEC continua a não querer assumir e resolver: a divisão dos tempos letivos entre a História e a Geografia tem provocado conflitos e decisões opostas, de escola para escola, sendo que nuns casos se respeita a paridade e noutros, tanto quanto sabemos, a História tem tido maior carga letiva. Como ficarão as coisas agora? E o MEC o que tem a dizer sobre isto? Ahhh já se sabe: autonomia. Que pena que não dê também autonomia para que as escolas possam decidir qual o modelo de gestão que preferem.

P.S. – O pior ainda poderá estar para vir. Mas não vamos falar aqui do artigo 79 do ECD…

Adenda: Importa aqui agradecer o contributo do António Duarte (na caixa de comentários) que recordou que a História teve um período intercalar em que dispôs de 3+3+3 tempos de 50 minutos (até 2003, altura da introdução das aulas de 90m), o que perfazia um total de 450 minutos face aos 360 que se anunciam para 2012-13. Se dúvidas restassem… aqui está a demonstração cabal da significativa perda de tempo letivo que a História sofreu nos últimos anos.

Publicado no Blogue da Associação de Professores e Educadores em Defesa do Ensino

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Carta aberta assinada pelos professores de História e de Geografia

Tempos idos e agrestes sucumbem um país que deixou de acreditar nos seus governantes. Entre as diversas políticas que têm atormentado os portugueses, a Educação é sem dúvida, uma das suas machadadas mais fundas. A História e a Geografia, são dois exemplos claros das políticas erradas do actual governo, que em consequência da alegada necessidade de roubar, esquecem-se de parâmetros importantes como a qualidade e a formação dos nossos futuros cidadãos.

Em consequência da sua gravidade, reafirmo um assunto já referido pelo Sérgio no dia 29 de Novembro. Exponho novamente referindo a carta ao Ministro da Educação exposta  pelos professores de História e Geografia da Escola Secundária de Oliveira do Hospital, pois considero a situação grave, e necessita por isso ser referida com a expressiva que merece:

Exmo. Sr.

Ministro da Educação, Nuno Crato

Nós, professores de História e de Geografia da Escola Secundária com 3.º ciclo de Oliveira do Hospital, não podemos ignorar as informações — confusas e certamente enganadoras — que todos os dias nos chegam, por diversas vias, a propósito da reforma curricular do ensino básico que está a ser misteriosamente engendrada por V. Exa. numa lógica de «centralismo democrático».
Permita-nos confessar a V. Exa. que algumas dessas presumíveis medidas deixam-nos perplexos. Uma das que mais apreensão nos causou foi justamente a que augura o fim da História e da Geografia como disciplinas autónomas no 3.º ciclo do ensino básico.
Já compreendemos há muito tempo que a Europa neoliberal, tecnocrática e «pós-democrática» (para utilizar a expressão concetual do filósofo Jürgen Habermas) em que vivemos — aliás, tal como as sociedades dos estados autoritários ou totalitários de má memória, que ascenderam e colapsaram no século XX — está dominada pela técnica, as ciências aplicadas ou pelas ciências sociais ou «políticas» enquadradas numa ideologia à sua medida. E foi esta tendência que nos últimos anos conduziu à desvalorização progressiva (para não dizer desprezo) de certas ciências humanas nos currículos dos ensinos básico e secundário.
Pensamos, porém, que estas opções erráticas foram também responsáveis pela situação agónica a que chegámos — um país, uma Europa e um mundo em crise profunda e mesmo em vias de implodir: crise da economia, crise das finanças, crise da política, crise da cultura, crise da ética…
Acreditamos que é possível construir um Portugal, uma Europa e um mundo mais humanista e humanizado. E que o caminho para a refundação dessa pólis passa também, evidentemente, por desenhar uma nova reforma curricular orientada por desideratos cívicos e pedagógicos e não apenas por obscuros e redutores propósitos economicistas.
Uma reforma curricular que, entre outros desígnios, possa devolver a disciplinas e áreas do conhecimento como a História, a Geografia (e até a Filosofia) um maior protagonismo no âmbito dos currículos dos ensinos básico e secundário.
O estudo da disciplina de História permite interpretar o passado e o presente das sociedades humanas. Permite aos jovens conhecer a sua herança histórica e construir a sua identidade individual e coletiva. Permite questionar e rebater de forma argumentada o paradigma económico-social, político e cultural nacional e mundial contemporâneo. Desperta a consciência social dos cidadãos, desmistifica preconceitos e ajuda a lidar com as diferenças. Combate a alienada cultura de massas e o seu absentismo cívico. Contribui, em última análise, para a construção de um mundo mais democrático, solidário e multicultural.
O estudo da disciplina de Geografia permite interpretar as relações recíprocas estabelecidas entre os homens e a Terra. Permite aos jovens localizar e descrever os espaços naturais e humanos do nosso planeta, desenvolver ideias mais claras e fecundas sobre questões de preservação ambiental e de combate aos riscos provocados por fenómenos naturais e humanos. Permite conhecer os fenómenos geomorfológicos, hidrológicos, climáticos e padrões regionais e globais de vegetação, fauna e flora. Ajuda a construir ideias sustentadas e a desenvolver ações concretas sobre a ordenação territorial dos meios urbanos e rurais, bem como sobre a rentabilização racionalizada dos recursos humanos e naturais.
Escusado será dizer que apesar de estas duas ciências fundamentais necessitarem uma da outra, elas exigem diferentes critérios metodológicos/epistemológicos e rigorosas formações específicas que não podem ser desprezados. E este é o motivo elementar pelo qual os professores de História não estão habilitados a lecionar Geografia e os professores de Geografia não estão habilitados a lecionar História.
V. Exa. tem agora a última palavra, pois está na situação privilegiada de usar o poder político que lhe foi confiado para decidir o futuro das próximas gerações, que é como quem diz o futuro do país.
Decidir se, de facto, é «preciso centrar forças nos aspetos essenciais do ensino, ou seja, na formação científica de professores, no ensino das matérias básicas, na avaliação constante e na valorização do conhecimento […]» (Nuno Crato, O «Eduquês» em discurso direto, Gradiva, 2006, p. 116). Decidir se deve contribuir para formar «estudantes críticos» e não «ignorantes fala-barato» (Idem, p. 86). Decidir se deve realmente «dar mais atenção à História e à Geografia» (jornal Público, 31 de outubro de 2011, e Assembleia da República, 17 de novembro de 2011) e não assinar o atestado de óbito destas disciplinas. Enfim, decidir se deve ser coerente com as opções educativas defendidas pelo cidadão Nuno Crato e, afinal, honrar as afirmações proferidas pelo ministro da Educação Nuno Crato. Ou, pelo contrário: se deve fazer «tábua rasa» das suas convicções e declarações e «mandar para as urtigas» a sua honra e coerência.

Por nós, desejamos apenas que a História o absolva.

Subscrevemo-nos com os mais cordiais cumprimentos

Oliveira do Hospital, 21 de novembro de 2011

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

sábado, 3 de dezembro de 2011

Pérolas a porcos

E será para vender baratinha com elevadas comissões. Pérolas a porcos, de facto...

Notícia  sugerida por Sérgio Vieira.

A TAP foi eleita a melhor companhia área da Europa, entre outras 30 companhias de renome internacional, pela revista norte-americana de turismo "Global Traveler".
O prémio foi atribuído em Beverly Hills, nos Estados Unidos, na oitava gala anual da "Global Traveler" e resulta da sondagem designada "GT Tested Reader Survey" da revista realizada a mais de 36 mil passageiros frequentes e passageiros executivos, que fazem em média 16 viagens internacionais e 16 viagens domésticas por ano.
Em comunicado, a TAP lembra que esta sondagem é considerada no sector como os "óscares de viagens" e explica que os passageiros frequentes e executivos são convidados a nomear "os melhores" em várias categorias na área de viagens e turismo.
Estes passageiros têm um rendimento médio anual de 340 mil dólares e passam uma média de 80 noites em viagens ao estrangeiro e 40 noites em viagens domésticas, sendo que 78% viajam em primeira classe ou classe executiva.
"O concurso está desde logo vedado à participação dos trabalhadores da Global Traveler ou dos membros da indústria de viagens e turismo, que por conseguinte não podem concorrer ao mesmo", sublinha a transportadora aérea portuguesa.
O inquérito foi feito aos leitores da revista, entre 1 de Janeiro e 31 de Agosto de 2011.
A TAP recebeu ainda na mesma noite o prémio de "Melhor vinho tinto servido em Classe Executiva Internacional" pela mesma revista no âmbito do concurso '2011 GT Wines on the Wing'.
Texto escrito no Jornal de Notícias no dia 7 de Dezembro de 2011 na secção de Economia.