quarta-feira, 25 de janeiro de 2023

Uma história de setembro de 2021

 Por vezes penso que sou forte, que a dor da distância é facilmente ultrapassada com o foco no trabalho e na inevitabilidade de estar longe de quem mais gostamos. Tenho por hábito escrever um diário onde descrevo as minudências dos meus dias. Hoje fiz greve e comecei a ler papeis que tinha escrito no ano letivo passado e parei neste que fez chorar, senti alívio em chorar. Afinal não podemos estar sempre a esconder aquilo que sentimos para nos sentirmos forte.

Passo a citar o texto escrito no dia 25 de setembro de 2021 o meu filho Duarte tinha 4 anos.

"A passagem do tempo é algo que aos poucos começa a entrar no cérebro do pequenino do Duarte.

Este ano letivo parece estar a ser mais difícil para ele gerir  a minha ausência. No ano letivo ainda não percebia porque eu me ia embora  todas as semanas. Nós dissemos-lhe que eu saia de noite e chegava muito cedo e só num determinado dia da semana é que eu chegava a horas de poder estar com ele. 

Eu no ano letivo passado senti um afastamento do Duarte em relação a mim. lembro-me perfeitamente que a minha ausência o afastou de mim e aproximou da mãe. 

Este ano letivo está a ser diferente, sinto-o mais próximo e apercebo-me que a minha presença é fundamental. A alegria transparecida no olhar é evidente assim como a vontade de me vir abraçar.

O ano passado também acontecia, mas este ano é diferente.

Nós ganhámos ligações que nos tornaram inseparáveis. Conseguir ter tempo para o Duarte ao fim de semana passou a ser algo indispensável para mim e para ele.

Os jogos inventados com bolas que se colocam no cesto ou na baliza ou  as conversas com o senhor Fogaça sobre possíveis missões que eu tinha de tomar são muitas das brincadeiras que temos durante o fim de semana.

No passado fim de semana lembro-me da futebolada que fizemos onde se fartou de correr marcar golos e divertir-se. Acabou exausto e deixou-se dormir no banco de jardim que está junto ao campo.

Passado uns instantes fomos ao pavilhão ver um torneio de hóquei que lá estava a decorrer    e sinto-o cansado. Tivemos lá pouco mais de meia hora. Quando fomos para casa fizemos a paragem habitual junto ao reservatório da água que fica junto aos bombeiros e ele já estava quase a adormecer quando me disse "pai levas.me ao colo até casa". Acabei por leva-lo às cavalitas e mal chegou a casa deitei-o e adormeceu profundamente. Acordámo-lo um pouco antes das 19h para jantar.

A amizade e o amor é crescente apesar da distância e isso deixa-me feliz apesar de saber que lhe custa mais a minha ausência.

Esta semana a mãe disse-me que ele olhou para um cartão da escola de Grândola pegou nele abraçou-o e disse "tenho saudades do pai" e chorou." 

Costuma-se dizer que vida é assim, todas estas adversidades nos fazem crescer e tornar mais forte mas custam, custam muito. Hoje  a distância custa-me a mim mas também ao Duarte, sinto-o na despedida.