terça-feira, 7 de abril de 2020

O Giz roxo



Acedi ao convite de Mónica Menezes, formadora de escrita criativa, onde esta propôs  aos interessados que escrevessem um breve texto de 30 a 50 palavras onde não estivesse presente  a letra "U":


Cito as breves linhas:

"Valorizei o gesto mas não dei grande importância ao giz roxo oferecido pela Elisabete na primeira visita do herdeiro da família à  Escola. Tive a sensibilidade de o recolher com carinho e o acomodar na minha casa. Hoje são  amigos inseparáveis nas visitas ao exterior neste período de isolamento."








sábado, 4 de abril de 2020

A magia da linguagem na idade dos porquês.


Neste período de quarentena temos ouvido com particular atenção o Duarte, tanto porque ele não se cala como porque ele de dia para dia evolui e expressa-se de uma forma mais fluente.

Já há algum tempo que digo que tenho de fazer a evolução da linguagem no Duarte mas arranjo sempre qualquer coisa para fazer e essa tarefa tem sido continuamente adiada.

Vou enunciar lembranças dispersas pois não tenho um fio condutor claro na minha cabeça.

Vou começar com o enorme gosto do Duarte por comida: O Duarte foi habituado aos ovos caseiros da avó materna, avó Cidália ou como ele diz a avó “Lái”. Desde muito novo para ele não estar sempre a pedir ovos dizíamos que o carteiro naquele dia não tinha trazido um ovo ou que as pititas da avó “Lai” não tinham mandado ovos. A partir daí as perguntas do Duarte foram “ O Carteiro não trouxe ovo” ou “as pititas da avó lai não mandaram ovo”. O Duarte é um grande comilão e agora em que ele está em casa dias a fio perde a noção dos horários e quando não está a brincar está a perguntar à “mãe o comer já está pronto”.

O Duarte tal como a maior parte das crianças a partir do momento que consegue fazer algo de novo usa e abusa dessa nova conquista na sua evolução como criança. Aconteceu isso no andar, onde passou do gatinhar ao correr sem passar pelo andar. É arrepiante ver a velocidade daquelas pernas pequenitas a correrem e o ar de felicidade  estampado no rosto daquela criança. Neste período de quarentena nos seus passeios curtos à volta do prédio quantas vezes o pai ou a mãe se vêem-se obrigados a correr a sério, pois quando ele sai porta fora corre tanto que não é nada fácil agarrá-lo, a mãe que o diga.

As perguntas do Duarte no período de quarentena: O Duarte não percebe bem o que se passa e faz inúmeras perguntas. Mais no início quando acordava perguntava “amanhã a avó Paulita (avó paterna) não me vem buscar para irmos à escola” uma rotina frequente neste ano letivo que foi abruptamente interrompida, sem que ele percebesse porquê. A forma de nós contornarmos a situação é dizer-lhe que a escola está muito suja e as professoras Fátima e Lurdes estão a limpá-la. Outra questão que ele faz é “porque é que as pessoas têm um papel na boca” e nós tentamos explicar-lhe dizendo que é para evitar que um bicho entre no corpo delas.

Uma saída no 2º dia de quarentena: A mãe teve duas reuniões em videoconferência e o Duarte foi com o pai dar uma volta de carro. Pensei em lugares onde houvesse o menor número de pessoas possível e desci até ao rio alva pois lembrei-me que o Duarte adora ver o rio. Fui ver o rio e subi a encosta em direção a São Romão. À medida que ia subindo apercebi-me que ele estava a adormecer e eu não queria isso e decidi parar o carro a meio da encosta e comentei com ele a paisagem. Disse-lhe que lá ao fundo no cimo da encosta fica a casa da Heide e um pouco mais a baixo junto à igreja fica a casa da avó e mãe do Pedro, tudo tal como na história real. Lá consegui que ele espevitasse e subi em direção a um fontanário parei e disse-lhe que era ali que as cabras da Hide bebiam água após virem dos prados. O Duarte pôs a mão na água que saía da fonte e disse que estava fria e eu realcei que nas montanhas da Heide faz muito frio e por isso a água é tão fria. Nestas idades é maravilhosa a capacidade que as crianças têm de absorver tudo aquilo que vêm e ouvem. Continuámos viagem e um pouco mais em frente parámos junto a uma ex escola da mãe. Nós já lhe tínhamos dito que a escola atual da mãe fica junto às montanhas, apesar de não ser esta(São Romão) fez-se a ligação com a história da Heide para tudo fazer sentido. Realcei o facto de a escola estar fechada e de as professoras estarem todas lá dentro a limpar a escola.  Após a passagem pela escola da mãe o Duarte pediu-me para ir ver o campo de ténis e assim o fiz levei-o a ver tanto ao campos de ténis como ao de futebol.A viagem prossegui com a ideia de ainda irmos à ponte de madeira da história da Heidei. O Duarte não se esqueceu e salientou por diversas vezes no regresso a Oliveira do Hospital que tínhamos ainda que ir à ponte de madeira. Lembrei-me de ir ao parque do Mandanelho,  já em Oliveira do Hospital para ele ver uma ponte de madeira mas com o adiantado da hora e a fome a apertar acabou por se esquecer e fomos diretos a casa.

quinta-feira, 2 de abril de 2020

A História do moliço

Os momentos para adormecer o Duarte depois de almoço  são cada vez mais difíceis. A adaptação de uma criança de 3 anos à quarentena tem sido boa mas devido à quantidade de horas que ele passa dentro de casa é difícil que ele gaste energia como dantes. Nós pais temos a sorte de estar ambos em casa e engendramos tudo para o manter ativo sem ecrãs, mas por vezes com a quantidade de tarefas que temos para fazer não lhe conseguimos dar a atenção desejada e recorremos ao telemóvel para o manter quieto e entretido. Ambos sabemos que não é a estratégia mais correta, e observamos que ele por ser mais estimulado é mais difícil de acalmar para adormecer tanto na hora da sesta como de noite.

Antes nós passávamos-lhe um episódio da Heide ou do Bombeiro Sam e ele acalmava e acabava por adormecer, agora apercebo-me que é necessário mais estratégias e por vezes é preciso  zangar-mo-nos com ele para sossegar e adormecer. Hoje não parava de trautear as músicas daqueles vídeos estúpidos que ele viu no telemóvel.
Ele quando adormece com o pai pergunta sempre pela mãe mas a partir de ontem a pergunta recorrente foi se a mãe estava numa reunião em vez das normais: está a trabalhar no computador ou a arrumar a cozinha.

Após uns breves minutos a pensar como o podia aclamar inventei a história do moliço a partir daquilo que tinha visto da minha visita ao museu do mar em Ílhavo e de algumas pesquisas na Internet.

História do moliço  

Indiquei-lhe que  os moliceiros são barcos que apanham o moliço. O moliço é apanhado na ria de Aveiro e serve para fertilizar os solos ou como eu lhe disse para tornar as terras mais felizes. Para fixar a atenção dele perguntei-lhe se um barco andava no mar ou na terra, e ele após uns breves instantes lá me disse que  andava sobre a água. Aos pouco foi conseguindo que ele deixasse de trautear a música estranha dos vídeos.

Duarte há pessoas que trabalham na apanha do moliço, chamam-se moliceiros. Essas pessoas residentes em Aveiro estavam dependentes da chuva do Inverno para que houvesse muito moliço para que este tornasse as terras muito felizes. A abundâncias de alimentos hortícolas e frutícolas era frequente e por isso as pessoas perderam o hábito de poupar e comiam em abundância o ano todo. 

Num certo ano, consequência de um Inverno muito seco o moliço foi escasso, e as terras estavam pouco férteis ou tristes dando origem a uma forme generalizada.  A população habituada à abundância ressentiu-se ,pois não se precaveu para uma eventualidade dessas. Com o passar do tempo as pessoas com mais recursos foram percebendo as dificuldades dos mais desfavorecidos ou mais expostos à fome ofereceram um pouco do que tinham para que aquelas pessoas pudessem ter um verão mais acolhedor e com menos dificuldades.

A solidariedade e a necessidade de poupar de pensar mais a longo prazo foi algo pensado e implementado com mais frequência a partir daquele verão quente, que não lhes deu os alimentos a que estavam acostumados.



Com esta história inventada pela minha imaginação conseguir acalmar o Duarte. O que achei mais giro foi ele após entrar na história ter colocado todos os bonecos sentados a ouvir a história.