segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Turista na própria terra

De mochila às costas, vou deambulando pelas ruas, com a tranquilidade que apenas as manhãs de domingo ainda me permitem respirar. Perdido, sobretudo, nas ruelas mais recônditas, quer seja em Lisboa, nas Beiras ou nos Açores, ainda não tive um dia que, depois desses périplos caseiros, não regressasse ao lar surpreendido com a quantidade de novidades reveladas.
            Neste âmbito, o “Passeio dos Poetas” disseminado pela Praia da Vitória constitui uma oportunidade privilegiada para lavar a alma com os versos mais inesperados e reencontrar algum do silêncio imprescindível para um raro momento de introspecção e reflexão. Aqui ficam, a título de aperitivo, as incisivas lições de João Lourenço Soares, “O Vital”, postadas na rua do Conselheiro Nicolau Anastácio (perpendicular à rua de Jesus): “a serpente que rasteja / põe a selva em sobressalto / somente por ter inveja / da águia que voa alto”. Ou ainda a (dramática) profecia de Rui Rodrigues, já na rua de Jesus: “os meninos / morrem dentro dos homens”. E por momentos vem-me à memória a amarga, mas tão sofrida (e cristalina) poesia filosófica de António Aleixo…
            Outrossim, ir à Praia da Vitória, com parte do seu inconfundível núcleo histórico tipicamente renascentista (adoptado, grosso modo, após o sismo de 1841), também é ver a Igreja Matriz de Santa Cruz a ostentar o seu portal de três arcos quebrados, debruados pela magnificente arquivolta exterior. Com as suas claras influências marítimas (o “nosso” estilo “Manuelino” ainda temperado pelo Gótico), vejam-se as cordas umbilicalmente entrelaçadas, os motivos naturalistas e, apenas a título ilustrativo, logo do lado esquerdo (no sentido da entrada), o quase despercebido busto do penitente, em oração latente. O pórtico em jeito afunilado como que prepara, gradualmente, a entrada do crente num mundo mais puro. Abandonar o exterior, beber o silêncio do santuário e a beleza da arte (sendo ou não religioso) é recuar ao passado e sair regenerado…
            À saída da Igreja Matriz, logo do lado esquerdo, o monumento consagrado a Francisco de Ornelas da Câmara recorda-nos o primeiro lugar onde, nos Açores, no dia 24 de Março de 1641, foi aclamado D. João IV rei de Portugal e, como tal, proclamada a restauração da independência nacional. Nestes tempos tão estranhos em que o neo-
-liberalismo vigente nos vai roubando a identidade, contemplar este monumento e ler a sua (já incompleta) inscrição é recuperar parte da memória do que somos e daqueles que nos ergueram ao patamar em que nos movemos. Do lado direito, à saída da Matriz, lá de cima a ermida de São Salvador convida-nos a contemplar o seu sino, enquanto as suas desgastadas pedras parecem ansiosas por contar-nos uma longa história…
            Descendo, passamos pela “Casa Vitorino Nemésio”, saboreamos as palavras do escritor, sempre temperadas pelo interminável murmúrio das ondas: “Eu me construo e ergo peça a peça de saudade, vagar e reflexão”. Continuando a descer, a “Casa das Tias”, o busto do autor açoriano (criador do célebre romance Mau Tempo no Canal) com mais algumas das suas colossais mensagens, que nos apressamos a gravar na alma: “Sou ilhéu. E tanto ou mais do que a ilha, o ilhéu define-se por um rodeio de mar por todos os lados”. Depois, mesmo em frente, a Igreja da Misericórdia, com os seus invulgares dois altares-mores, os seus “torreões-minaretes” e a sua inconfundível imagem imaculadamente branca e azul celestial. Descemos, voltamos a subir as ruas mais sinuosas, perdemo-nos em inscrições, que nos recordam importantes figuras institucionais do passado, como seja o caso do corregedor. Não tarda e somos forçados a parar em frente aos Paços do Concelho, a imaginar o antigo presídio municipal (no actual edifício ocupado pelos CTT) e a contemplar o monumento consagrado à decisiva vitória dos liberais, na batalha da Praia que haveria de moldar o futuro de Portugal (11 de Agosto de 1829).
            Lá ao fundo, o Paul serpenteia delicadamente. Homem das Beiras que sou, criado não muito longe do curso do Mondego, a imagem mais próxima que tenho de um rio é ao Paul da Praia que vou recuperá-la. As margens, ladeadas pelos juncos agudos e pelas malvas bastardas, escondem as esquivas galinhas d’água, com o seu bico carmesim. Bem no coração do santuário líquido, os patos deslizam graciosamente, enquanto, à distância, a garça-real lava as penas com o comprido bico. Lá ao cimo, no Miradouro do Facho, o vento deve continuar a soprar bem forte, mas a omnipresente imagem de Maria permanece indiferente a toda a agitação. Afinal, subir lá ao topo é mesmo uma necessidade: ajuda-nos, que mais não seja, a compreender as formiguinhas que somos e os verdadeiros “moinhos de vento” quixotescos em que diariamente nos enredamos…
            A Praia é tudo isto e muito, muitíssimo mais (a “Casa da Roda”, a Biblioteca Silvestre Ribeiro, o Mercado e o Jardim Municipal, o fontanário oitocentista…). Continental que sou, aprendi a admirar esta “vitoriosa” cidade em cada um dos seus detalhes. A Praia ajuda-me a interrogar os pormenores, a olhar e ouvir para além da simples aparência. Por isso, sempre que posso, procuro percorrê-la e beber as suas intermináveis lições. Fazê-lo, ajuda-me ainda a recordar que as terras nunca são pequenas; os nossos espíritos – cada vez mais consumistas – é que nem sempre estão à altura do que vislumbram. Uma máxima que, afinal, parece vir mesmo a calhar nesta época de Natal…

            E o(a) leitor(a): já imaginou ser turista na sua própria terra? Se ainda não o fez, nem calcula os milagres que está a perder…
Renato Nunes (renato80rd8918@gmail.com) 

terça-feira, 4 de novembro de 2014

Uma conversa

O maior prazer quando vou fazer levantamentos GPS para o cadastro predial de Oliveira do Hospital, é perceber que qualquer situação que ocorra ela  é única. Um ponto nunca é tirado no mesmo sitio, as conversas os sorrisos e os rancores das pessoas nunca são o mesmo. É com um sentido de descoberta que eu parto para mais uma tarefa do meu trabalho que gosto muito de fazer.

No dia 20 de Outubro quando o proprietário disse que estava na hora de almoço e o ser humano era como os carros quando carece tem que se voltar a atestar com combustível. De facto estava mais do que na hora pois já passava largamente das 14:00,quando deixei o senhor e dei por terminado o meu dia. Percorri o caminho entre o Campo e Lourosa quando me deparei com uma figura estranha a acenar-me. Parei o carro e instintivamente abri o vidro, quando a tal figura estranha com uma fala enrolada  e com os dentes em muito estragados, me pediu boleia para ir de Lourosa à Venda da Esperança , pouco mais de 1km de distância a subir.
Não resisti e e deixei-o entrar, tendo uma reação imediata e instintiva de guardar  tudo o que tinha no banco do pendura sobre as minha s pernas. Um medo instintivo que se assolou de mim que foi parando à medida que a conversa decorreu. Mal entrou no carro disse que tinha apanhado um esgotamento há cerca de 8 anos quando era camionista. O flagelo foi tremendo principalmente para a família que de repente perderam uma pessoa normal  ficando na opinião dele incapacitado de exercer qualquer profissão, desempenhando apenas funções de jardinagem em casa. Surpreendeu-me a maneira natural e espontânea como ele falava convicto que iria ficar bom, segundo ele com a ajuda de um primo cientista que terá a cura para os seus males. A Venda Esperança já estava perto quando decidi perguntar-lhe como é que ele apanhou um esgotamento como camionista e ele com a sua espontaneidade natural disse que não comia só fazia quilómetros. Passado poucos segundos chegávamos à Venda da Esperança e deixo-o para o seu cafezinho.

Após uns momento conclui Pensei eu que será que vale a pena sobrecarregarmo-nos com trabalho fazer noitadas  quando de um momento para o outo o nosso corpo nos dá um sinal que temos que parar que pode ser irreversível. Esta curta conversa fez –me pensar e mudar os meus planos para o dia pois tencionava ir almoçar a casa mas uma vez que já eram quase 15:00 e estava sem comer desde as 9:00 decidi ceder aos pedidos dos estômago parar no parque de merendas do Senhor das Almas e antecipar o almoço pois tinha trazido a merenda de casa.

domingo, 26 de outubro de 2014

Momentos

Há momentos em que paramos, e nos deparamos para observar simplesmente o que nos rodeia. Nos inúmeros levantamentos GPS que tenho feito, observei muitas paisagens maravilhosas,no entanto a que realizei no passado dia 20 de Outubro no Campo(Lourosa) deixou-me maravilhado. O Campo é uma localidade da freguesia de Lourosa localizada a sul da sede de freguesia nas vertente norte da bacia hidrográfica do rio Alva Esta foto retrata uma antiga zona agrícola junto a uma ribeira que vai desaguar no rio Alva. Vale a pena ver e saborear e no meu caso lembrar.




domingo, 12 de outubro de 2014

Doutor Nuno Crato: DEMITA-SE!

Segundo creio, Nuno Crato será recordado pela História como um dos piores Ministros da Educação do pós-25 de Abril. Um Ministro que, contrariamente ao que seria expectável aquando da sua entronização, mostrou não ter qualquer tipo de ideia própria em relação à sua pasta, navegando pura e simplesmente aos encontrões, que é como quem diz às apalpadelas. A mais recente trapalhada com as colocações dos professores é apenas a ponta de icebergue de um académico de gabinete e antigo crítico encartado em assuntos educativos, que denota um total desconhecimento da realidade diária das escolas nacionais.
            Garantiu Nuno Crato em pleno Parlamento (casa primordial da Democracia) que ninguém sairia prejudicado pelos erros verificados nas colocações (pelos quais, de resto, pediu mesmo desculpa). Eis as suas palavras: “onde houver e se houver alguma ultrapassagem de posições, essa situação será corrigida. Os professores colocados mantêm-se, os alunos não serão prejudicados. Depois da nova ordenação, eventuais duplicações serão avaliadas caso a caso. O objectivo é que ninguém seja prejudicado”. Porém, pouco depois, Nuno Crato ordenou a anulação das colocações obtidas no passado dia 12 de Setembro: uma ordem transmitida aos Directores das Escolas, sublinhe-se, com o objectivo de revogar um acto administrativo da autoria da Direcção-Geral da Administração Escolar! Na edição do Público de 9 de Setembro vinha a explicação do Ministro para tentar justificar o injustificável: “Eu disse mantêm-se. Não disse manter-se-ão” (p. 51)! A isto chama-se, sem eufemismos, Doutor Nuno Crato, mentir descaradamente e usar os subordinados para matar os elos mais fracos: professores contratados que leccionam há várias décadas, na mais absoluta precariedade laboral e sem qualquer tipo de esperança num futuro melhor. Frágeis elos que, afinal, reflectem a situação da grande maioria da população portuguesa na actualidade.
            Na sua crítica da pedagogia romântica e construtivista (O “Eduquês” em discurso directo), Nuno Crato sustentou que “As mudanças devem ser graduais, experimentadas e avaliadas” (2011, p. 116). A sua governação, porém, como já sustentei, assemelha-se a alguém que navega sem qualquer tipo de orientação ou preparação prévia, senão vejamos…
            Os programas escolares manifestam-se cada vez mais desadequados à faixa etária/maturidade intelectual dos alunos, mostrando-se igualmente pouco ou nada articulados entre os vários ciclos (v.g., essa de introduzir as “Homotetias” no programa de Matemática do 7.º ano não lembraria nem ao Diabo, isto para já não falar nas isometrias leccionadas no 1.º e 2.º ciclos ou na dantesca dose de gramática que inunda os manuais de Português! – e os exemplos poderiam prolongar-se quase até ao infinito…). A ideia central deste tipo de políticas ditas educativas parece querer passar por introduzir a universidade logo nas primeiras etapas escolares, procurando matar todo o tempo necessário para amadurecer ou consolidar o que quer que seja, desde logo, a capacidade crítica (depois, queixam-se que os alunos não têm bases: poderiam possuí-las, se nunca definimos o que é realmente prioritário em cada ciclo e raramente tivemos a preocupação de percepcionar as várias etapas do ensino como uma cadeia interligada?!). Será tudo isto intencional (um dos hábeis mecanismos dos novos “Estados Totalitários”) ou resultará pura e simplesmente da ignorância/improviso que nos comandam? Depois – prossigamos –, os programas (e a legislação) mudam a uma velocidade estonteante, havendo, neste momento, alunos dentro das salas de aula com dois manuais diferentes: os mais recentes já respeitam as novas “metas curriculares”. O que nós não ganharíamos se todos voltássemos pura e simplesmente a falar em conteúdos e deixássemos de lado essa dimensão romântica e esotérica que algumas correntes das Ciências da Educação e outras “psicologices” ditas modernas vieram acrescentar à utopia de um ensino estruturado nas tais competências, que alguns iluminados imaginam poder desligar-se dos conteúdos, do trabalho puro e duro, da memorização e, claro, do desgaste provocado pelo estudo. Sim, que ninguém se iluda: é preciso suar para aprender. O prazer vem depois. 
            A famosa Prova de Avaliação de Conhecimentos e Competências – uma das bandeiras deste Ministério – revelou-se um verdadeiro fiasco. Afinal, se querem avaliar os professores (e, já agora, porque não os docentes das Universidades privadas e demais Institutos Superiores, subindo, assim, a montante?), não faria mais sentido avaliá-los (já agora a todos) nas suas áreas específicas, em detrimento das várias charadas que marcaram as Provas já aplicadas? Um professor de História não deverá saber, sobretudo, de História? Um professor de Matemática não deverá saber, sobretudo, de Matemática? Ou isso são apenas pormenores? Não terá chegado o momento de investir, isso sim, na formação contínua (séria e rigorosa) dos docentes nas suas áreas específicas, premiando quem, de facto, continua a actualizar-se científica e pedagogicamente?
            No decurso da última década, continuámos a investir em infra-estuturas, em recursos materiais, e voltámos a esquecer que o mais importante são os recursos humanos (Arnold Toynbee escreveu um dia que “é muito fácil construir igrejas; o que é difícil é meter Deus lá dentro”). O dia em que, efectivamente, se quiser contribuir para a melhoria do sucesso educativo em Portugal, desde logo em Matemática, no 3.º ciclo, pense-se em desdobrar as turmas, à semelhança do que sucede nas Ciências, e, de um modo mais geral, reduzir o número de alunos por turma…
            Queiramos ou não, a Escola pública, com todos os seus defeitos, é uma das maiores conquistas do pós-25 de Abril em Portugal. Existem, porém, alguns indícios perturbadores, que parecem levar-me a pensar que o ensino cada vez mais elitista está irremediavelmente de regresso (terá este Governo em mente a efectiva destruição da Escola pública e o lançamento das bases para a sua privatização total?). Outrossim, a crescente tendência para dotar as Escolas de maior autonomia no que se refere à contratação de professores introduz uma variável extremamente perversa, que, afinal, significa o regresso em força da famosa cunha e, como tal, a destruição dos mais elementares princípios que presidem a uma sociedade dita democrática.
            No passado dia 3 de Outubro, centenas de professores que já se encontravam a leccionar nas suas escolas (onde haviam sido colocados pelo Ministério da Educação) foram atirados para a rua, literalmente humilhados, enganados, ultrajados. Se o Ministério da Educação errou (tão só porque não compreende – ou não quer compreender – que existe uma lista nacional de ordenação dos candidatos que deve ser impreterivelmente respeitada, em detrimento desses manhosos critérios existentes nas ofertas de escola – repito, se o Ministério da Educação errou, o seu responsável máximo deve ter a verticalidade de assumir a falha e demitir-se de uma vez por todas (o que é diferente de colocar o lugar à disposição) –, atitude que, naturalmente, colocaria o nosso agonizante Primeiro-Ministro numa posição algo delicada, pois seria interessante perceber quem, para além dos boys, estaria neste momento disponível para substituir o Doutor Nuno Crato nesta recta final... Quanto aos professores, segundo penso, é evidente que a Escola e os alunos precisam, cada vez mais, do seu precioso trabalho. Se este Governo tivesse o mínimo de honestidade intelectual nenhum dos docentes demitidos no início do presente mês deveria ficar por colocar. Sugestão minha: os custos financeiros deveriam ser suportados por quem errou. Afinal, também não exigem à população portuguesa que continue a suportar os erros políticos que nos conduziram à tragédia? Haja vergonha.
            Segundo penso, não existem as mínimas condições para que o Doutor Nuno Crato se mantenha no cargo que ocupa. Perdeu o respeito de quase todos. Demita-se… ou demitam-no. É um favor que se faz ao futuro do país. Ele já pertence ao passado; um profundo vazio cósmico – eis como o actual Ministro da Educação será recordado.

            Renato Nunes

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

I Guerra Mundial: a indústria da morte

Há 100 anos atrás, o mundo estava em guerra. O primeiro conflito à escala planetária (1914-1918) constitui um dos marcos mais importantes da História Contemporânea, pois o seu desenrolar originou um conjunto de profundas transformações. A partir desse momento, o mundo nunca mais seria igual: nascia uma nova era, que colocava fim à “idade dourada da segurança” (Stefan Zweig); nascia a indústria da morte, que se aperfeiçoa cirurgicamente até aos dias de hoje…
            A assinatura do armistício, a 11 de Novembro de 1918, em Rethondes (França), deixava para trás cerca de 10 milhões de cadáveres, mais de 25 milhões de mutilados, uma Europa praticamente destruída e progressivamente dominada pela inflação galopante/desemprego, impérios desfragmentados e, por exemplo, uma nova configuração geo-política internacional, com os EUA a assumirem o papel de principal potência mundial e a Rússia, já sob o domínio de Lenine (após a revolução socialista soviética de 1917), a atrair a curiosidade (e o receio…) do mundo. Alguns historiadores consideram mesmo que o início do século XX pode ser associado, numa perspectiva mais abrangente, à I Guerra e, segundo creio, o mundo dos nossos dias nasceu naquela época, sendo que pouco do que aconteceu a seguir (desde logo, a ascensão dos regimes totalitários e a II Guerra Mundial) pode ser compreendido sem a sua existência.
            Ora, conversando recentemente com algumas pessoas mais idosas da minha aldeia, fiquei surpreendido com as prolíficas memórias familiares que ainda existem sobre este conflito, à primeira vista tão longínquo no tempo: afinal, à escala humana, um século parece por vezes uma eternidade! Pena é que esta “consciência histórica” não possa estender-se aos mais jovens…
            A I Guerra Mundial intersectou, de um modo bastante vincado, a História das famílias com a História da própria Humanidade. Daí que nas gavetas de muitos portugueses anónimos continuem escondidos vários tesouros. Em certo sentido, podemos dizer que esses esqueletos escondidos são cicatrizes que nunca se fecharam; portas das quais nunca se regressa incólume…
            Ao procurar identificar o nome de um combatente da aldeia onde cresci, morto na frente europeia, em 1918, fui surpreendido com a existência de, pelo menos, mais oito expedicionários, onde se contava uma outra vítima mortal da guerra. Uma fugaz passagem pelo Centro Social e Paroquial (Lar de Idosos) mais próximo ajudou-me rapidamente a depreender que um eventual alargamento do estudo desta temática a todo o concelho (Oliveira do Hospital) faria, por certo, disparar os números e desenterrar outros tesouros.
            Por agora, entre os cofres abertos, não posso deixar de partilhar aqui alguns dos dados que tive oportunidade de compulsar numa caderneta militar de um conterrâneo meu, documento esse que apresenta um invulgar estado de conservação, pese embora o facto de ter mais de um século! As suas capas pretas impecavelmente alinhadas, sem qualquer vinco no tecido, cumprem rigorosamente uma das indicações constantes logo na página inicial: “Não é permitido dobrar a caderneta”.
            A cédula militar em causa pertenceu a Alípio Esteves Borges (“Monteiro”), soldado n.º 2909, residente em Vila Franca (à época, do Ervedal), nascido em Novembro de 1893. O recrutado assentou praça quando tinha 19 anos (30 de Julho de 1913), para servir até aos 45 anos de idade, a cargo do distrito de Coimbra, no regimento de Infantaria.
            Aquando da recruta, o jovem agricultor saberia ler, escrever e contar, parecendo poder depreender-se da sua cédula militar que teria concluído a 3.ª classe. Retenha-se que, em 1910, a taxa nacional de analfabetismo rondaria os 75%, flagelo que haveria, em traços gerais, de perpetuar-se pelo tempo fora, pese embora o esforço feito pela jovem República no sentido de combater este problema (preocupação, de resto, fulcral para compreender a inauguração da Escola Primária de Vila Franca, ainda no antigo largo do Cruzeiro, por volta de 1911, no lugar anteriormente ocupado pela Capela de Santa Margarida – cf. “Monografia” escrita por José Marques Lopes: http://vilafrancadabeiranoticias.blogspot.pt/).
            Finalizada a instrução de recruta, em 30 de Abril de 1914, Alípio Borges foi integrado no Corpo Expedicionário Português (CEP) e embarcou para França, em 23 de Fevereiro de 1917, de onde apenas regressou, a título definitivo, em 23 de Julho de 1918. Mais tarde, acabaria por beneficiar de uma parca pensão e receberia uma medalha comemorativa dos combates travados pelo exército português, com a legenda “França 1917-1918”.
            Esteve, portanto, na frente de batalha europeia cerca de um ano e cinco meses, o que, de per si, nos permite imaginar algumas das dificuldades que, por certo, terá experimentado, nomeadamente durante a desgastante fase das trincheiras (v.g., no Inverno de 1917/1918, as temperaturas desceram aos 30 graus negativos, que congelavam a água existente nos motores; segundo Isabel Pestana Marques, os expedicionários portugueses chegaram a estar mais de um ano na linha da frente, ao contrário dos ingleses que eram rendidos trimestralmente)… Memórias que, por certo, terão acompanhado Alípio Borges até à morte, em 1972, e que, talvez, tenham sido reavivadas quando, no dia 1 de Janeiro de 1961, com 67 anos, voltou a ser obrigado a “apresentar-se” em Oliveira do Hospital, por certo no contexto do início da Guerra do Ultramar.
            Importará dizer que o primeiro contingente de tropas do CEP destinado à guerra na Europa embarcou em Lisboa, no final de Janeiro de 1917 (para África, os primeiros portugueses partiram logo em 1914). Após a instrução prévia, os expedicionários eram concentrados em Tancos (Vila Nova da Barquinha, Santarém), onde recebiam um treino mais intensivo, mas, sabemos hoje, profundamente desajustado à nova realidade bélica mundial, dada a proeminência da guerra química (veja-se o caso do gás mostarda), do poder da artilharia (a metralhadora pesada inglesa Vickers de 7,7 mm poderia disparar cerca de 600 projécteis por minuto), dos tanques, dos lança-chamas, do impacto da aviação militar e dos submarinos, entre outros recursos tecnológicos dramaticamente mortíferos e causadores de doenças até então desconhecidas, nomeadamente do ponto de vista mental (neurose de guerra).
            Aplicado o propalado “milagre de Tancos”, os expedicionários rumavam de comboio para Santa Apolónia, daí marchavam para Alcântara e, de barco, seguiam para o porto de Brest (França) e, finalmente, para a linha da frente (no total, seriam 55 mil portugueses a chegar à Flandres). Esse trajecto final até ao Norte da França seria, de resto, marcado pelas constantes paragens em várias estações, como nos recorda Isabel Pestana Marques, na sua incontornável obra Das Trincheiras, com saudade, na qual a historiadora partilha as conclusões extraídas ao longo de 18 anos de investigação.
            Escreveu Jay Winter que cerca de metade dos homens que morreram na I Guerra não têm túmulo conhecido. Numa iniciativa a todos os títulos meritória, o jornal Público tem vindo a editar diariamente uma série de suplementos sobre o conflito, procurando, assim, reerguer do esquecimento os combatentes nacionais, ainda hoje, repita-se, muitas vezes sepultados no vazio do anonimato, como acontece em África (Público, I Grande Guerra, n.º 4, 31 de Julho de 2014).
            No cemitério da minha aldeia nativa, o tempo tem-se encarregado de fazer desaparecer das lápides os nomes destes meus conterrâneos “serranos” que, no início do século passado, foram mobilizados pela jovem I República para combaterem em terras estrangeiras, por uma causa (mormente, no que se refere à Europa – principal palco do conflito) que pouco ou nada lhes diria, além da iminente certeza de uma morte anunciada pelos obuses e, tantas vezes, vislumbrada nos cadáveres, com os quais coabitavam nas trincheiras, já para não falar nas pulgas, piolhos, larvas, ratos, lama… Homens que, muitas vezes, mal conheciam os limites do concelho onde haviam nascido e que percepcionavam Lisboa como o outro lado do mundo…
            A I Guerra Mundial teve um impacto decisivo do ponto de vista político (contribuindo para o agudizar da crise da I República), mas os seus efeitos fizeram-se sentir igualmente no quotidiano das populações, nesse Portugal profundo, vincadamente rural, analfabeto, periférico e ainda bastante marcado pela matriz católica, pese embora o esforço de laicização empreendido pela jovem República, vertido na polémica Lei da separação das Igrejas do Estado, promulgada, em 1911, pelo Governo Provisório saído da revolução de 5 de Outubro de 1910.
            1917 e os anos seguintes ficaram marcados por sucessivos relatos de “aparições” que eclodiram por todo o país, sendo o mais paradigmático o fenómeno das alegadas “aparições” da Virgem Maria aos três pastorinhos (Francisco, Jacinta e Marta), na Cova da Iria (Fátima). Sintomaticamente, na memória de muitos habitantes de Vila Franca da Beira ainda paira a imagem das mães que rumavam diariamente ao santuário da Santa Margarida, para pedir o regresso, breve e saudável, dos seus filhos. Parece, pois, verificar-se um revivalismo do culto religioso, nesta época de fome, guerra e peste (Geoffrey Blainey refere mesmo que, durante a guerra, por cada soldado morto por balas, granadas ou explosivos um morria de doença e, além disso, segundo aquele historiador australiano, a gripe “espanhola”, surgida na ressaca do conflito, matou ainda mais pessoas do que a I Guerra).
            Procurando não cair na tendência de fazer hagiografia, importa hoje, cada vez mais, recordar estes homens esquecidos na voragem dos tempos. De Vila Franca da Beira, eis a lista, naturalmente provisória (com as naturais imperfeições daí decorrentes), daqueles que terão participado no primeiro conflito à escala planetária (um trabalho apenas possível em grande parte graças à preciosa memória das gentes que me viram crescer): Celestino Pais, Alípio Esteves Borges, Aires Lopes Figueiredo, Eduardo Borges de Campos, Gabriel Tavares Gonçalves, Sebastião Esteves Simões, Carlos Fernandes Lopes, Sebastião e Abel, sendo que os dois últimos (cujos apelidos terão ainda de ser confirmados) estão incluídos entre os cerca de 8 mil portugueses que perderam a vida na Flandres e em África.
            Segundo creio, valeria a pena alargar a lista a todo o concelho, pelo que deixo aqui o repto ao leitor, que ainda conserva algum tipo de memória sobre este assunto, para que a inscreva no espaço consagrado aos comentários, que, felizmente, as novas tecnologias nos permitem utilizar e que poderiam trazer inequívocas vantagens para todos, caso fossem utilizadas de um modo mais eficiente e, digamos, menos maledicente... 
            Na sua obra Uma breve história do século XX, Geoffrey Blainey conclui que, Albert Einstein, inadvertidamente, “ao pregar uma versão de pacifismo numa altura inapropriada”, contribuiu, dada a sua influência, “para enfraquecer alguns dos entraves colocados à subida de Hitler ao poder”. Nestes novos tempos, em que a guerra parece ter entrado numa nova era (desde logo, com os drones e os conflitos localizados caracterizados por um poder de destruição total), importa não descurar a vigília. Afinal, uma nova guerra mundial poderá estar mesmo ao dobrar da esquina e a verdade é que ninguém poderá partir para um novo conflito com as ilusões que muitos experimentaram, aquando da declaração de guerra da Inglaterra e França à Alemanha e ao império Austro-Húngaro (Agosto de 1914), pois a indústria da morte tem as chamas mais vivas do que nunca…
            Conhecer a guerra através das pessoas de carne e osso que a viveram e que, afinal, são os nossos familiares directos ajudar-nos-á, por certo, a perceber que, por trás da banalidade com que assistimos, durante o almoço, a uma guerra do outro lado do mundo, existem dimensões da vida que nenhuma palavra poderá descrever. Afinal, o sofrimento e o drama nunca têm limites. Quando os estudamos é que compreendemos que nenhuma guerra acaba com as guerras. Quando os vivemos é que realmente sentimos…
            Termino com Marc Ferro, que, no livro A grande guerra 1914-1918, cita as dramáticas palavras escritas pelo combatente Raymond Naegelen, a propósito da vida infernal nas trincheiras. No ano em que se completam 100 anos após o início da I Guerra e parece proliferar a tendência para derrubar ainda mais as pontes entre as Nações (crescente isolamento proteccionista…), vale a pena pensar nelas:
            “Sobre toda a frente do cabeço de Souain, desde Setembro de 1915, os soldados de infantaria ceifados pelas metralhadoras jazem estendidos de barriga para baixo, alinhados como num exercício.
            A chuva cai sobre eles, inexorável, e as balas partem os seus ossos embranquecidos.
            Uma noite, Jacques, durante uma patrulha, viu sob os seus capotes descoloridos ratazanas a fugir, ratazanas enormes, engordadas a carne humana. Com o coração a bater, ele rastejava em direcção a um morto. O capacete tinha caído. O homem apresentava a cabeça contorcida, vazia de carne: o crânio à vista, as órbitas vazias, os olhos comidos. A dentadura tinha deslizado sobre a camisa podre e da boca escancarada saltou um bicho imundo”…

Renato Nunes (renato80rd8918@gmail.com)

segunda-feira, 28 de abril de 2014

Abril, 40 anos depois

            Regresso à minha aldeia nativa e pressinto-a cada vez mais despovoada, já com muitas das casas de granito convertidas em fantasmas. Deambulo pelas ruas, recordo as histórias inscritas nas pedras e deixo-me levar pelas memórias da meninice, com os gaiatos do Cimo do Povo a jogarem à bola na calçada. Actualmente, são poucas as crianças desta terra, pese embora o meritório trabalho desenvolvido, mormente na última década, ao nível da melhoria das infra-estruturas locais.
            Francisca e André (nomes fictícios) são hoje um dos poucos meninos desta terra das Beiras, que levo na alma em cada travessia do Atlântico. Ela com 6 anos, ele com 4, oriundos de um meio económico e cultural claramente desfavorecido, ajudam-me a viajar no tempo; a recuar mais de três décadas. No ano em que nasci (1980), 17% dos portugueses adultos não sabiam ler, mas a mobilidade social ascendente começava a revelar-se possível. De facto, a revolução de Abril abriu um conjunto de portas e oportunidades  ̶  inimagináveis durante o Estado Novo  ̶  e todas as vitórias pareciam possíveis. Foi por isso, apenas por isso (por uma questão de mais oportunidades), que dos 7 filhos que os meus pais geraram apenas eu tive o privilégio de continuar a estudar.
            Hoje, olhando estes dois irmãos, quais torgas que resistem na aridez das fragas, revejo o meu próprio percurso e dou por mim a pensar no seu futuro. Francisca e André não sabem  ̶  como poderiam saber?  ̶ , mas o seu país prepara-se para receber os 40 anos da revolução de Abril, numa altura em que as notícias mais recentes dizem que o salário mínimo nacional vale hoje menos do que em Maio de 1974  ̶  argumento que muitos saudosistas poderão querer utilizar para desvalorizar o movimento militar, depois de cariz popular, que derrubou o Estado Novo.
            Se é certo que as datas históricas não servem para ser colocadas num pedestal e glorificadas como santos, também é certo que o povo que perdeu a capacidade de recordar os marcos fundadores da sua identidade é um povo sem memória e, consequentemente, condenado a naufragar.
            O 25 de Abril é um dos nossos marcos fundadores, enquanto país. Como escreveu Miguel Torga no seu Diário, no próprio dia da revolução, tratou-se de “um passo”, um início para, desde logo, acrescento eu, acabar com a guerra colonial, que há já 13 anos estropiava o país. A tragédia que veio a seguir não deve servir, não pode servir, para escamotear a importância da “revolução dos cravos” e dos seus actores, nomeadamente aqueles que pediram para depois serem sepultados numa campa rasa, como foi o caso do capitão Salgueiro Maia.
            Recordar a situação de Portugal durante o Estado Novo também não significa ilibar os actuais actores políticos das suas tremendas responsabilidades na situação calamitosa a que chegámos. Os 40 anos da revolução deveriam servir, isso sim, para procurar corrigir…
            Ora, em data de aniversário, é curioso como, de uma penachada, a segunda figura da Nação, Assunção Esteves (reformada na ternura dos 40 anos, a receber mais de 7000 euros mensais e com direito a “ajudas de custo”  ̶  com o apoio incondicional dos deputados da coligação que governa o país, tudo dentro da mais absoluta legalidade…), descartou os militares da “Casa da Democracia”, até com alguma arrogância pelo meio, impedindo-os de tomar a palavra. O que equivale a dizer: comemore-se Abril, mas longe dos seus pais. Afinal, o que eles teriam para dizer provoca assim tanto medo, 40 anos depois de termos extinto, pelo menos formalmente, a censura? Entrementes, enquanto se anulam as vozes incómodas, alguns pretendem estrategicamente apropriar-se da memória daqueles que nunca se venderam  ̶  não é esse, afinal, o objectivo dos iluminados que pretendem levar Salgueiro Maia para o Panteão Nacional, contra a vontade expressa pelo próprio militar, no seu testamento de 1989? Calam-se os vivos e usam-se os mortos. Haja vergonha.
            Num momento em que os políticos necessitam, como pão para a boca, de actos de credibilidade, Durão Barroso veio a público, diz-se que algo emocionado, afirmar que antes do 25 de Abril, “apesar de algumas liberdades cortadas, havia na escola uma cultura de mérito, exigência, rigor, disciplina e trabalho”. E depois conclui a respeito dele mesmo, em jeito de empáfia: “Sabia, era arguto na argumentação e já tinha algum espírito irreverente” (Diário de Notícias, 13/4/2014, p. 22). O próximo candidato a Presidente da República (segundo os rumores mais recentes) ou o Primeiro-
-Ministro que, em 2004, abandonou o país para assumir o cargo de Presidente da Comissão Europeia não deveria enxergar minimamente a situação da maioria da população portuguesa quando estudava e tenho dúvidas em relação ao seu conhecimento sobre a actual situação do país profundo. Caso houvesse em Portugal um conjunto de cidadãos dotados de um mínimo sentido de memória histórica, nem mesmo os elogios do salamurdo Cavaco Silva lhe poderiam valer de muito…
                Num momento em que os políticos necessitam, como pão para a boca, de actos de credibilidade, o Engenheiro (perdão, Mestre…) Sócrates lá continua no canal público a tentar reconstruir a imagem que deixou no decurso dos anos desastrosos em que governou, pese embora as enternecedoras e elogiosas palavras que muitos ainda lhe votam, caso de Santana Lopes. Depois, o Dr. Miguel Relvas, notável malabarista, fosforesce nos seus novos cargos público-privados, tendo ainda recentemente sido nomeado por Passos Coelho para encabeçar a lista ao Conselho Nacional do PSD; as prescrições dos casos que envolvem milhões avolumam-se a um ritmo alucinante, enquanto se anuncia um provável debate em torno da (reduzida) subida do salário mínimo nacional e, claro, se comemora sofregamente a vitória do Benfica no campeonato e se aguarda o pontapé de saída do Mundial, no Brasil  ̶  país onde já vários cidadãos parecem ter percebido que o “pão e o circo” da Roma Antiga emergem hoje travestidos de outras fórmulas (como a estratégica “Factura da Sorte”, com o sorteio de carros alemães de alta cilindrada, à margem da fiscalização do Serviço de Inspecção de Jogos…), mas o objectivo essencial mantém-se.
            Num momento em que os políticos necessitam, como pão para a boca, de actos de credibilidade, mantêm-se as perigosas (e seculares) ligações promíscuas entre os grandes interesses/grupos económicos e o Estado, como o documentário realizado por Jorge Costa nos permite surpreender e que, por certo, por uma simples questão de coincidência, a RTP2 exibiu já pela madrugada dentro (“Donos de Portugal”: http://vimeo.com/40658606  ). A Nomenklatura continua a imperar… 
            Francisca e André: como eu gostaria de anunciar-vos um futuro diferente daquele que, neste momento, vos posso prever. No próximo ano, por certo, encerrar-
-vos-ão a escola da família e irão atirar-vos para as novas indústrias mega-agrupadas. Não sei o que acontecerá depois. Enquanto estudante, eu tive a hipótese de ver o esforço premiado pelos mecanismos do Estado Social, que, verdadeiramente, começou a ser edificado no pós-25 de Abril em Portugal. Quanto a vós, infelizmente, não estou certo que tal ocorra. 40 anos depois de Abril, a Escola pública, progressivamente inclusiva, corre o risco de implodir e com essa destruição seguirá, inevitavelmente, para o charco uma poderosa via de mobilidade social ascendente, o que equivale a dizer a anulação de uma ferramenta imprescindível para a edificação de uma sociedade efectivamente livre e democrática. Como é lógico, a Nomenklatura agradece, pois isso significará a perpetuação da velha máxima elitista: Diz-me onde nasceste, dir-te-ei onde chegarás...
            Há 40 anos, Abril foi uma porta que se abriu. O Homem que um dia deixa de evocar conscientemente o aniversário acabará depois por esquecer o seu próprio nome. A seguir, não restará mais nada, além do vazio das pedras abandonadas, fantasmas. 

              Renato Nunes (renato80rd8918@gmail.com)

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Um Percurso!!!

Reli os textos escritos durante todo o percurso deste projecto, que começou em 2007. Parei para pensar, abstrair-me e desfrutar de um prazer terapêutico. a escrita.
O afastamento da escrita é reflexo de momentos, onde o trabalho e a necessidade de encontrar  saídas asfixiaram os pensamentos e me impediram de explanar as palavras, de me sentir FELIZ
Perguntaram-me porque é que não escrevia, que ficavam tristes quando se apercebiam  que quando abriam o blogue não viam novos textos e novas ideias.
Fez-me pensar na minha utilidade e importância neste Mundo. Por vezes esqueço-me dela e descuro-a. Um abraço aqueles que me fizeram lembrar-me dela e perceber a sua importância .