sábado, 24 de outubro de 2020
A lagarta das couves
sexta-feira, 23 de outubro de 2020
Quantas sardinhas cabem numa lata? (asas para poetas analfabetos)- Jornal Expresso
A poesia está antes de aprender a Juntar as letras. É a maior lição do "o Poeta Faz-se, iniciativa que, em Matosinhos, foi descobrir os poetas por trás de quem é adulto, a aprender a ler e a escrever
terça-feira, 20 de outubro de 2020
Faltam cada vez mais professores- Jornal Expresso
Número de horários de docentes ainda por preencher mais do que duplicou em relação a 2019
Na Secundária João de Barros, no Seixal, não se espera só pelo fim das obras, iniciadas pela Parque Escolar há mais de dez anos.
Desespera-se por professores.
Após um mês do início das aulas — período
que devia servir para recuperar o que não se aprendeu no passado ano letivo,
com o ensino à distância —, há turmas onde faltam seis docentes, o que
significa que os alunos estão sem aulas em metade das disciplinas.
“No agrupamento, temos três horários de
Português sem professor, dois de História e um de Informática. Francês e
Geografia são dificuldades que já tínhamos no ano passado e que se mantêm”,
explica Hugo Pereira, assessor da direção.
Desde o início do ano, já houve
necessidade de ir às listas nacionais onde constam os professores disponíveis
para encontrar 19 substitutos de docentes que estão de baixa, saíram ou
aposentaram-se.
“No 3º ciclo há mais de dez turmas com
horários muito esburacados.
Se as aulas em falta forem nas horas
intermédias, outros professores asseguram esse tempo, para manter os alunos na
sala. Nos extremos do dia, não fazemos substituição”, acrescenta Hugo Pereira.
O problema estende-se a muitos
agrupamentos. Não do país, mas de duas regiões em particular: Lisboa e Algarve.
Ainda há alguns milhares de professores
por colocar que constam das listas conhecidas como reservas de recrutamento.
Mas nem todos têm formação para dar as
disciplinas em que há mais lacunas ou não estão interessados em ir para os
locais onde são necessários — o que recebem não compensa ou pode mesmo não
chegar para a renda e deslocações.
No Agrupamento da Portela, em Loures,
procuram-se professores do 1º ciclo, de Português, Economia, Francês e História/Estudos
Sociais. Esta semana chegaram dois de Matemática, reduzindo o número de
horários por preencher.
Subsistem cinco lugares, que afetam mais
de 20 turmas desde o início do ano letivo, explica o diretor, Nuno Reis.
Num agrupamento onde a média de idades
ronda os 57 anos, o desgaste, a saúde e agora a pandemia fazem mossa.
“Neste momento, temos mais de 20
professores de baixa num total de 220. Noutros anos temos tido menos. Mas com
os casos de covid-19 a aumentar muito no concelho, as pessoas ficam receosas.
Temos vários atestados do foro psicológico.”
O diagnóstico está feito, mas faltam
soluções. E os números comprovam que as dificuldades agravam-se de ano para
ano. Só na primeira quinzena de outubro, as escolas viram-se obrigadas a pedir
1870 horários através do mecanismo de contratação de escola. Isso significa que
já não há professores disponíveis nas tais reservas de recrutamento ou os que
existem recusaram o lugar.
O processo começa sempre pelas reservas de
recrutamento.
Se ao fim de duas semanas os horários
continuarem vazios, passa-se para a fase de contratação de escola. Só na semana
passada foram solicitados por esta via 637 professores, mais do dobro do
registado no ano passado no mesmo período (255). Os distritos de Lisboa,
Setúbal e Faro são as zonas para onde é mais difícil encontrar professores.
Informática, Geografia, Inglês, Português e Educação Moral e Religiosa são as
disciplinas mais carenciadas.
As contas são feitas para o Expresso por
Davide Martins, professor de Matemática no Agrupamento de Matosinhos e
colaborador do blogue de Educação ArLindo. “Em 2019, desde o início do ano
letivo até 31 de outubro, saíram 1322 horários em contratação de escola, o que
já é um número considerável.
Este ano esse valor já foi ultrapassado no
dia 10, evidenciando que a falta de professores tem aumentado e se faz sentir
cada vez mais cedo”, explica.
Há mais dados a comprovar o problema.
Todas as semanas, as escolas comunicam os professores que têm em falta nesse momento.
Como em qualquer profissão, há baixas médicas, licenças de maternidade ou
reformas, que fazem com que a dada altura falte um professor. Desde o início de
setembro, já foram pedidos neste contexto mais de 21 mil docentes para
substituição.
No ano passado, no mesmo período de tempo,
foram menos cinco mil. “O envelhecimento e o burn out [esgotamento] são a causa
de muitas baixas. A que acrescem as aposentações, que têm vindo a subir”,
analisa o professor.
O medo do vírus O Ministério da Educação (ME)
garante que as faltas já estão a ser supridas e que os problemas no início
deste ano têm várias explicações: além dos mais de 500 docentes que pediram
substituição por serem de risco, houve um “número anormalmente alto de não
aceitações de horários, atendendo à situação de pandemia que leva os
professores a não quererem deslocar- -se da sua área de residência”. E houve
ainda este ano mais 1100 pedidos de mobilidade por doença (do próprio ou de um
familiar dependente), possibilidade que permite a colocação numa escola
diferente, libertando assim novos lugares. Há mais de 8 mil professores com
esta autorização, sendo que a maior parte saiu da Grande Lisboa para a região
Norte. Houve ainda autorização para contratar mais 3300 para o plano de
recuperação das aprendizagens.
“As listas do ME estão a esgotar-se, já
não há mais pessoas para recrutar. Sabemos que este problema vai crescer e
vamos ficar com muita carência. Deixaram de formar pessoas, outros
reformaram-se, e é uma carreira muito pouco aliciante”, aponta, por seu turno,
Maria Caldeira, diretora do Agrupamento do Alto do Lumiar, em Lisboa, onde
faltam agora oito professores, incluindo de Matemática.
De acordo com os cálculos de Davide
Martins, já há grupos de recrutamento com muito poucos ou mesmo sem candidatos
disponíveis para escolas da região do Algarve e da Grande Lisboa. Apenas um
exemplo: na lista de possíveis candidatos a dar aulas de História do 3º ciclo e
secundário em escolas desta última região, encontram-se neste momento apenas
três nomes; a nível nacional há 180, num total inicial de 1315. A Geo grafia já
não há nomes para Lisboa, tal como a Informática.
Significa que esses lugares vão ficar
vazios? Não. Esgotando-se os candidatos nestas listas nacionais, passa-se então
à contratação de escola, em que estas publicitam a oferta, recebem novas
candidaturas e escolhem.
O problema é quando nem nesta etapa surgem
interessados, levando a que os alunos fiquem sem aulas durante várias semanas
ou mesmo um período inteiro, como aconteceu no ano passado.
O ME também garante que há um “trabalho de
incentivo à fixação de professores que já foi iniciado e que será
incrementado”, mas não explica o que está ser feito.
ileiria@expresso.impresa.pt
Desde o início de setembro, já foram
pedidos pelas escolas mais de 21 mil docentes para substituição.
Texto Escrito por: Isabel Leiria e Raquel Albuquerque. (Jornal Expresso)
domingo, 18 de outubro de 2020
Desabafos de um professor após um mês de trabalho.
E já passou um mês desde o início do ano letivo. Apercebo-me que já fiz tanta coisa que às vezes penso que já passaram dois ou três meses. Quando alguém me dá uma oportunidade de fazer algo que gosto abraço-a e dedico-me ao trabalho com outra disposição.
Admito que por vezes os alunos não ajudam, sinto uma situação de desconforto enorme quando preparo uma aula e vejo praticamente todos os alunos desatentos sem qualquer respeito pelo professor. Admito que isso me dói e entristece profundamente. Sinto-me impotente para fazer face ao uso excessivo do telemóvel em sala de aula. Para colmatar essa falta de respeito sou um pouco mais duro com eles e chamo-os muitas vezes à atenção e acima de tudo tento arranjar estratégias que os consiga trazer mais para a minha aula, nem que seja por breves minutos.
No 10º ano a falta de respeito retratada no parágrafo anterior ainda não acontece, provavelmente pelo facto de ainda virem com os bons hábitos do ensino regular e ainda não ganharem os maus hábitos dos mais velhos. No 10º ano sinto o gosto por ensinar Geografia e não só.
No 11º ano e principalmente no 12º ano a situação é muito mais complicada. É desmotivante perceber o desinteresse da maior dos alunos.
Para tentar solucionar este problema coloco-me muitas vezes do lado do aluno e perceber quais serão as formas de ensino que as poderão captar mais a sua atenção. Até à data já tentei muita coisa mas irei continuar a batalhar.
Na passada sexta feira, exatamente no último tempo da semana, estava extremamente cansado após 4 dias de intenso trabalho decidi mudar um pouco a minha postura perante a turma e ser um pouco mais agressivo. Eles fizeram uma ficha na parte inicial da aula que quase todos cumpriram e na parte final decidi mostra-lhe um vídeo sobre o projeto Ferrovia 2020 sobre o corredor ferroviário do sul. Apesar de as condições de trabalho não serem as melhores e não ser possível ver o vídeo por causa da extrema claridade pedi-lhe que ouvissem com atenção. Realcei o facto que queria que todos estivessem atentos e se desligassem dos telemóveis, pois caso não o fizessem teriam ordem de saída da sala com a marcação da respetiva falta o que aconteceu com um aluno apenas no início da apresentação do vídeo. A atenção dos alunos a partir daí foi quase total, Eu parava constantemente o vídeo fazia questões e muitos deles respondiam de forma correta com um grande interesse sobre aquilo que estava a ser tratado. O facto de assunto tratado ser algo do interesse deles pois Grândola faz parte do corredor ferroviário do sul também ajudou ao sucesso da parte final da aula.
Após ter concluído a aula pude saborear um pouco o êxito conseguido naquela parte final da aula. Soube tão bem ter os alunos interessados em ouvir o que eu tinha para dizer. A vida de professor é esta e feliz ou infelizmente nem sempre as coisas correm bem. Faz parte do nosso crescimento profissional.
sábado, 17 de outubro de 2020
As cores do Alentejo. Memórias ano letivo 2010/11
Estive no Alentejo no ano letivo 2010/11. Admito que não gostei foi um ano muito difícil onde ao contrário do que acontece agora não desfrutava da profissão. Os dias demoravam mais a passar a desorganização na realização das tarefas e a falta confiança eram algumas das causas.
No entanto queria aproveitar para narrar o que de melhor pude ver naquele ano letivo, na viagem entre Sabóia e Ourique. Escrevi um texto no dia 28 de Maio de 2011 que intitulei de Alentejo II.
Na resposta a um dos comentários escrevi um texto que acho delicioso passados tantos anos. Reflete as mudanças de cores do Alentejo nas diferentes estações do ano que era tão visível na viagem entre Sabóia e Ourique.
O texto foi o seguinte:
"A paisagem ajuda a revigorar após um dia uma semana ou um mês de trabalho.
Além da beleza da paisagem uma das coisas mais aprecio são as diferenças das cores, que subjazem nas diferentes estações. Deve ser a Região onde as estações do ano melhor se distinguem.
Desde as cores outonais, passando pelo frio do Inverno onde as folhas caem, até à florida Primavera e ao amarelecido Verão. Nos vários trajetos que fiz para Sabóia deu para ir saboreando o passar do tempo e as alterações na paisagem. Deixo aqui o meu testemunho numa deslocação para Sabóia ao fim da tarde no longínquo mês de Novembro de 2011:
Na passada terça feira fui para mais uma das muitas reuniões em Sabóia. A escola onde tenho só 6 horas e me dá para me recompor o horário. Continuando, quando ia para a dita reunião apesar da pressa devido ao atraso não consegui deixar de me deslumbrar a beleza da paisagem de um Alentejo profundo onde o pôr do sol associado, a paisagem Outonal e uns toques de verde resultantes das últimas chuvas, concederam-lhe uma beleza que eu associei imediatamente a uma tela fascinante. Apeteceu-me parar o carro tirar um número infindável de fotos. Não deu, pois o tempo era escasso, mas surgirão novos oportunidades.
É triste e desolador aperceber-me de sítios tão bonitos que são esquecidos e mal aproveitados pelo nosso país.
Há-de correr tudo bem em mais esta etapa da minha vida, tenho estes momentos que me dá para apreciar a paisagem e encher um pouco o ego para enfrentar mais um dia de trabalho."
Com a leitura deste texto recordo por momento aquelas paisagens. Qualquer dia vou ao baú de recordações tentar recuperar algumas dessa imagens.
A música do Outono- Escola do Duarte
O Duarte hoje surpreender-nos com a música do Outono. Cantou a letra toda e eu não pude deixar de escreve-la para mais tarde recordar:
"Loucas. loucas andam as folhinhas;
Ficaram castanhas e amarelinhas;
Voam Voam como os passarinhos;
Depois lentamente dão-se ao abandono;
Ficam lá no chão chegou o Outono."
sábado, 10 de outubro de 2020
A falta de professores
Olho as notícias diariamente e oiço muitas informações, a triagem admito que por vezes não é fácil.
A falta de professores é uma notícia que sinto e percebo.. As mudanças na legislação no ensino têm sido muito rápidas e o papel do professor tem perdido importância,
A inclusão dos alunos com dificuldades de aprendizagem tem sido alvo de muitas mudanças e a falta de tempo para os professores a assimilarem e praticarem é evidente. O tempo letivo de um professor é uma pequena percentagem de todo o tempo que é dedicado à profissão. O que é exigido a um professor hoje retira tempo para o fundamental que é a preparação das aulas.
Os professores contratados por muitos designados os "professores da mala" são os que estão na base da pirâmide e têm que passar por imensos sacrifícios. As centenas de horas que passam na estrada em cada ano letivo faz logo uma triagem, perdendo-se muitos bons professores pelo caminho, pois desistem da profissão. Licenciam-se profissionais nesta profissão que optam por outras vias, pois a profissão é mal paga para a exigência e responsabilidade que nos é incutida.
A falta de professores deve ser olhada com muita atenção pelo Governo. Um maior respeito pelos professores contratados para mim é a solução para o problema, pois havendo uma base mais larga satisfeita com os seu trabalho vai atrair mais gente para uma profissão que tem sido tão mal tratada no passado recente.
segunda-feira, 5 de outubro de 2020
Há falta de professores?- Autor Paulo Guinote
É estranho que o senhor ministro desconheça estas circunstâncias, pois vai a caminho de ser o titular mais tempo no cargo desde 1974. Era tempo de acelerar a sua curva de aprendizagem. Ou de resolver o problema, em vez de lançar acusações despropositadas, apenas para se livrar de qualquer responsabilidade política perante a opinião pública
O alarme chegou mais cedo do que o habitual: poucas semanas depois do início das aulas já é complicado encontrar professores para substituir aqueles que entram de baixa médica ou que, por outras razões, deixaram de leccionar. Embora esta situação se tenha tornado recorrente nos anos mais recentes, o habitual é que esta escassez se fizesse mais notar a partir do 2.º período ou, como o ano passado, no fim do 1.º período.
A explicação não passa pelo contexto de pandemia e por uma eventual inundação de pedidos de baixa médica por questões de risco. Os 12.000 docentes “de risco” que iriam pedir atestado, que algumas contas por demonstrar apresentaram quase como uma ameaça ao funcionamento das aulas, ficaram-se por escassas centenas. Pelo que teremos de procurar algures as razões para a situação de carência que se vive.
Falta de candidatos à docência? Também não. Às 872 vagas abertas este ano para os quadros concorreram quase 37.000 professores em busca de colocação, bem acima dos 34.000 do ano anterior. Dos que não conseguiram entrada nos quadros, cerca de 9300 entraram em contratação inicial para o que o Ministério da Educação considera “necessidades temporárias”. Restaram mais 24.000 para substituições a realizar durante o ano lectivo. E será aqui que já voltaremos, para perceber porque agora eles parecem ter desaparecido.
Naquela sua forma de falar sobre estes assuntos, num misto de aparente desconhecimento da realidade e desejo de afastar de si qualquer responsabilidade política, o ministro da Educação deu uma entrevista em que afirmou que a falta de professores que permanece em muitas escolas se deve à negligência das direcções, singularizando o caso da Escola Secundária Rainha Dona Amélia, acusando a sua directora de não ter pedido em devido tempo os horários “a que tinha direito”. A isso respondeu, nas páginas do PÚBLICO, a presidente do Conselho Geral da escola em causa, recordando ao ministro alguns factos concretos sobre a situação das reservas de recrutamento, acusando-o de negligência na forma como se expressou e de deslealdade institucional.
Fez muito bem, mas deveria ter ido mais além e questionado se o ministro desconhece os procedimentos para a contratação de professores em regime de substituição, em especial para os lugares de docentes que se encontram de baixa médica por motivo de doença prolongada e que têm reduções lectivas por motivo de idade. O que gera horários “incompletos” para quem concorre à contratação. Ou se ignora porque muitos candidatos desistem na fase das substituições ou recusam muitos dos horários disponíveis. Se ainda não percebeu que os encargos (com deslocações e alojamento) em muitos casos não compensam os ganhos, pois com horários incompletos há perda de salário, de tempo de serviço e a contagem de tempo para efeitos de aposentação também é “racionalizada” pela Segurança Social.
Perante isto, se é verdade que existe uma preocupação em prestar as melhores condições aos alunos e “estabilizar” o corpo docente (o que inclui o pessoal contratado), seria de regressar ao que foi possível muito tempo, ou seja, completar horários a partir de, por exemplo, as 16 horas, com tarefas não lectivas ou mesmo com funções na área da preparação/apoio à produção de materiais e ferramentas para um eventual período de ensino à distância. Permitindo um salário mensal completo e a não perda de tempo de serviço. Agora só se podem completar horários, na própria escola, quando aparecem necessidades “lectivas” que encaixem no horário ou os professores têm de andar de escola em escola em busca das horas em falta, chegando a ter de leccionar em dois ou mais estabelecimentos. O que, para além de ter uma parcela de indignidade profissional, é profundamente desgastante.
Adicionalmente, deveria acabar a regra, em nome da tal “autonomia”, que impede as escolas de pedirem professores para lugares que sabem muito antes de 1 de Setembro estarem em situação de baixa prolongada, mas que agora só podem ser providos a partir das reservas de recrutamento, com “poupanças” ridículas à escala do OE mas perdas significativas para quem está sem colocação e ainda a vê atrasada várias semanas em virtude desta questão formal.
É estranho que o senhor ministro desconheça estas circunstâncias, pois vai a caminho de ser o titular mais tempo no cargo desde 1974. Era tempo de acelerar a sua curva de aprendizagem. Ou de resolver o problema, em vez de lançar acusações despropositadas, apenas para se livrar de qualquer responsabilidade política perante a opinião pública.
Artigo de opinião Jornal Público de 5 de Outubro
Paulo Guinote Professor do 2º ciclo do ensino Básico
sábado, 3 de outubro de 2020
O início do ano letivo
E terminaram as duas primeiras semanas de aulas.
Confesso que este grande hiato temporal entre a colocação e o início da atividade como docente me deixou impaciente e com vontade de começar o mais rápido possível. Fui colocado em meados de Agosto e só comecei o ano letivo no dia 21 de Setembro, mais de um mês depois. O meu horário de terça feira foi me dado salvo erro no dia 17 de Setembro e o meu horário definitivo apenas me foi facultado no dia 22 de Setembro, o meu primeiro dia de trabalho.
Eu por norma não sou uma pessoa organizada e preciso de começar a trabalhar para as ideias e as aulas se começarem a organizar-se na minha cabeça. Com esta chegada tardia do horário derivado a problemas informáticos e às exigências da pandemia que dificultou muito a sua conclusão. Aproveitei os dias antes do começo do ano letivo para observar com mais cuidado a disciplina que eu desconhecia totalmente, Área de Integração. Na véspera de ir para Grândola preparei uma ficha com base nos conteúdos de Geografia do Secundário na esperança de que isso fosse suficiente para os meus primeiros dias de trabalho.
Bem como por norma acontece com toda a gente a primeira semana foi muito dolorosa.
Na escola sinto simpatia dos colegas para comigo, no entanto ainda não me sinto integrado no meio. Faltam-me pessoas para conversas e exprimir as minhas dificuldades, medos e dúvidas. Eu tento colmatar isso focando-me naquilo que tenho para fazer, tenho aproveitado para descansar e fazer caminhadas muitas vezes sem rumo definido, apenas andar um pouco, conhecer as ruas e observar as pessoas e os lugares.. Essa rotina faz-me sentir melhor antes de ir preparar o jantar numa casa que aluguei perto da escola.
Em tempos de pandemia conseguir uma casa perto da escola, que permita estar no meu local de trabalho em pouco mais de 5 minutos foi a melhor decisão que eu tomei.
A escola é muito pequena e não tem grande condições para o ensino teórico. A grande luminosidade que existe na escola e entra nas salas foi agravado com Covid 19, pois foram retiradas as cortinas que impediam a entrada de alguma luz. Outros constrangimentos é o acesso à internet e o facto de muitas salas não terem videoprojector. Um fator positivo da pandemia para mim foi a divisão das turmas em salas diferentes. Eu numa aula de 50 minutos apenas estou com a turma 25 minutos, tendo de me deslocar de sala em sala.
Um aspeto negativo que me apercebi que faz parte das rotinas de um grande número de alunos é que além de não para cumprirem o seu dever de tirarem o caderno e registarem o que eu digo usam o telemóvel de forma natural e sem qualquer noção do desrespeito que estão a ter perante o professor.
Estas duas semanas serviram para conhecer os alunos e organizar as aulas e os conteúdos que tenho lecionar, pois são muitas turmas e 6 níveis diferentes que tenho que preparar todas as semanas.
Lecionar apenas numa escola de ensino profissional para mim tem sido uma aventura e uma aprendizagem diária. O meu horário excede as 22h letivas semanais e são acrescentada horas caso eu possa e queira sempre que falta um docente. Esta lecionei duas horas a mais ao meu já extenso horário, tendo num dos casos apenas sido informado meia hora antes.
As formas de ensinar e avaliar terão necessariamente que ser diferentes do designado ensino regular. A capacidade de refazermos aprendizagens tem de ser um processo constante. Após estas duas semanas percebi que vai ser mais um enorme desfio que tudo farei para estar à altura.