quarta-feira, 18 de novembro de 2020

O resultado do teste

 O Duarte dorme.

O resultados dos testes finalmente chegaram e os nossos receios infelizmente confirmaram-se. Na Cecília o vírus foi detetável e no meu caso não foi detetável. 

O Duarte foi fazer o teste esta manhã às 11h. Acordou perto das 10horas e quando o acordámos e suavizamos ao máximo o momento. Dissemos-lhe que ia fazer o teste para confirmar que ele já era crescido e perceber a sua enorme valentia. Ele foi todo contente e na curta viagem fez inúmeras perguntas que eu tentei dentro do possível responder. A sua curiosidade é imensa.

Quando chegámos ao laboratório observámos uma fila com cerca de 7 pessoas, perguntámos quem era o último da fila e um dos presentes questiono-nos como se chamava a criança que ia fazer teste, eu respondi e o senhor respondeu simpaticamente que podia passar à frente pois já o tinham chamado. Nós avançámos na fila e esperámos pela nossa vez. Esperámos uns breves minutos e nesses minutos o Duarte observou o Laboratório e disse bom dia à senhora que o estava a atender com um sorriso no rosto escondido pela máscara. O Duarte usa a máscara com uma  naturalidade invulgar. 

O Duarte foi desde o início incentivado para a necessidade de usar máscara pelo pais e aceitou com grande naturalidade. No passado dia 14 de Novembro tive de fazer umas compras rápidas e levei-o comigo. Ele ficou radiante pois vê muita gente e muita variedade de produtos. A primeira coisa que ele pede é para o colocar dentro do carro. Eu como estava com pressa e eram poucas compras tentei agilizar ao máximo as compras e ir direto ao essencial. As perguntas eram imensas e admito que não conseguia dar resposta a todas. Lembro-me que fiquei uns minutos no pão e o Duarte perguntou-me se era bom dia ou boa tarde, eu disse que era bom dia e ele disse bom dia a um senhor que estava a comprar pão e este sorriu ao perceber à alegria da criança e retorquiu a saudação.

Nesta fase o uso de máscara mesmo para uma criança de 3 anos é algo para nós obrigatório em recintos públicos fechados. No laboratório quando entrámos na sala a senhora pediu-me para se sentar com ele na marquesa e eu disse-lhe para ele abraçar o Juba o seu ursinho inseparável. A senhora perguntou-lhe quantos anos tinha e ele disse que ia fazer 4, curioso não disse que tinha 3.

Sobre o teste posso dizer que o teste  inicial na boca fê-lo sem dificuldade, o mais difícil foi o teste realizado nas narinas onde ele fez uma cara muito feia e as lágrimas insistiram em sair pontualmente da sua cara, mas ele resistiu e rapidamente as breves lágrimas se transformar num olhar de vitória por ter conseguido ultrapassar o teste. Afinal a sua mãe tinha-lhe dito que tinha uma surpresa quando chegasse a casa.

Ele quando chegou a casa falou da experiência à mãe e esta deu-lhe mais umas compras em miniatura que uma colega da sua escola lhe tinha dado. Ele ficou muito contente e radiante com mais aquele presente.

A Cecília continua no quarto com febre, vómitos, dores de cabeça, com falta de apetite e força.

Há poucos minutos tivemos uma sensação assustadora. Não encontro outro adjetivo para descrever o que sentimos quando vimos o senhor agente da GNR tocar à campainha para nos dar as declarações do isolamento profilático e observar os vizinhos com um ara assustado.

O importante é que a Cecília recupere. Irei dar o meu melhor.    

terça-feira, 17 de novembro de 2020

Momentos de expectativa

Não está  fácil olhar os dias e conseguir vencer as dúvidas que surgem. Os sintomas da malditas pandemia apareceram este fim de semana e puseram-nos todos em sobressalto.

Admito que as dúvidas e os medos me fizeram espalhar logo a notícia pelo o núcleo central da familiar mesmo antes de saber o resultado. Aliás neste momento em que escrevo ainda não sabemos o resultado do teste à covid 19 realizado por mim e pela Cecília.  Estamos os três na expectativa e em isolamento profilático. 

A Cecília foi quem suscitou as dúvidas iniciais. 

Na sexta feira quando cheguei a casa a Cecília já  se encontrava deitada no sofá. A febre foi o primeiro sinal de alerta logo na sexta feira. Ela decidiu tomar um beneruon e foi descansar na esperança de no sábado de manhã estar melhor. 

Acontece que no sábado de manhã apesar de a febre ter baixado, o cansaço e as dores no corpo avolumaram-se assim como a capacidade de  conseguir fazer tarefas em casa.

Decidimos no sábado logo após o almoço ligar para a Doutora Marta Garcia, que sempre muito prestável retribuiu a chamada e disse que dados os sintomas teria de ligar imediatamente para a linha da saúde 24.

A linha saúde 24 disse-lhe para marcar a data do teste que seria apenas na segunda feira.

O Domingo decorreu com a tranquilidade possível.

As principais preocupações da Cecília foram com o Duarte que apenas com os seus três aninhos já tem tantas vivências.

Não será fácil para uma criança voltar a estar circunscrito às quatro paredes do nosso apartamento. Agora ao contrário do que aconteceu na primeira vez a Cecília não pode ajudar. Os dois Homens da casa é que têm que ajudar à recuperação da mãe.

As brincadeiras de hoje:

Com as compras em miniatura do Lidl fizemos compras e vendas. Eu perguntei o que haveria para comprar o Duarte descrevia os produtos que tinha e eu pedia à medida que me lembrava do que precisava para o nosso almoço.

Lembro-me quando lhe pedi as pernas de frango me disse "pai tem cuidado os ossos não são para comer, os osso são para o cão" ou quando me tentou vender a melancia teve o cuidado de me dizer para tirar a casca verde.

No final da brincadeira das compras eu disse-lhe "filho eu não tenho dinheiro" ao que o Duarte respondeu " pai não há problema  não é preciso pagar".

Já passado uns minutos e terminadas as compras tivemos a ver as cartas dos animais do Pingo doce e as cartas sobre o ambiente do Lidl. Nas cartas dos animais ele apontou para um montinho e disse "pai estes animais são muito maus" Abriu a boca e num gesto feroz com a carta do crocodilo na mão rosnou dando a entender a sua malvadez. Após os crocodilos falou na sua paixão pelos dinossauros onde disse os nomes terminados em "rex" com uma clareza de quem já tinha tido aquelas brincadeiras com a mãe possivelmente. Após os dinossauros passámos às cartas do ambiente que ao Duarte lhe libertam menos a sua curiosidade. A primeira carta do Lidl que ele pegou foi a referente ao excesso de  plásticos no planeta. Infelizmente já não consigo exprimir a expressão que ele usou sobre o perigo para o planeta da ingestão de plásticos mas foi muito gira.

E assim se passam os dias em momentos de expectativa de  saber o que nos espera.

sábado, 14 de novembro de 2020

Vivências da minha manhã de sábado

 As minhas manhãs de sábado com o Duarte são maravilhosas.

Após uma semana muito dura sentir à sexta feira o Duarte a vir a correr para mim e dar-me um abraço tão sincero de felicidade apaga tudo o que de mau me possa ter acontecido.

A família é sem dúvida o que eu mais sinto falta durante a semana.

Recordo-me que no final do mês de Outubro o Duarte cantou a música do dia das bruxas que aprendeu na escola e a minha comoção foi notória. Lembro-me que as lágrimas me caíram de forma imediata quando no preciso momento em que  estava a colocar o auricular ele disse "não tenhas medo". O medo é algo que nós aprendemos a vencer. Reconheço que os obstáculos têm sido imensos e por vezes sinto a falta de apoio para os poder ultrapassar.

O Duarte é sem dúvida muito importante para eu enfrentar a segunda feira com mais força.

Ao Sábado de manhã, vamos sempre dar um passeio que semana após semana começa a ser muito repetitivo mas sabe tão bem.

Este fim de semana fomos fazer a parte rotineira do Sábado de manhã que foi atestar ambos os automóveis de modo a estarem preparados na segunda feira para mais uma semana de muita estrada.

Após ter atestado o carro da mãe Cecília, fomos atestar o carro do pai. Ele quando entrou no carro do paI viu lá uma lancheira com o mickey que a mãe lhe tinha comprado numa loja chinesa. Posso considerar que foi amor à primeira vista, ele adorou a lancheira e não mais a largou. 

Quando nos dirigimos para as bombas de combustível o Duarte estava tão feliz com a sua lancheira nova. Eu fui pôr gasóleo no carro e acabei por colocar também adblue um substância que se põe no motor para evitar que seja tão poluente. Bem, acontece que me demorei mais do que o normal e quando cheguei ao carro ele estava a chorar desalmadamente, eu não me tinha apercebido disso quando estava no exterior e perguntei o que se passava quando entrei no carro. Ele disse-me que e a lancheira tinha caído ao chão, como não conseguia ir buscá-la e uma vez que eu não o tinha  ouvido sentiu-se sozinho e chorou. Aqueles cinco minutos que eu demorei foram uma eternidade para o Duarte.


Passada essa tormenta lá fomos ao parque do Mandanelho para darmos uma volta na bicicleta sem pedais dada pelo padrinho Diogo. O que ele gosta da bicicleta! Mal eu a coloquei o chão e lhe dei liberdade para andar a felicidade ficou imediatamente estampada no seu rosto. Descemos para a parte mais a norte do parque.


Fazendo um parênteses na história de sábado não posso deixar de referir a sua  intuição de olhar para um mapa e perguntar onde é que nós moramos. Admito que em parte foi induzido pelos pais ao gosto pela interpretação dos mapas, no entanto devido à sua grande curiosidade tem sempre vontade de conhecer um pouco mais.

Continuando a história do dia. Chegámos à parte mais verde do parque e fomos diretos a uma zona que ele intitulou de quartel. Inventamos lá uma história onde subimos uma espécie de escada e descemos varão para dar a entender que ele está subir e descer para uma missão dos bombeiros. Após descer o varão ele pergunta "pai onde é o fogo", eu indico-lhe um local ele vai fingir que apaga e volta para as escada e varão para repetir a façanha. 

A fase seguinte do passeio é ir ao lago dos patos onde ele os observa a tomar banho, ou a descansar nas margens do lago. Por vezes os patos estão na margem do lago e vociferaram sons e eu digo-lhe que eles lhes estão a dizer "bem vindo à nossa casa" e o Duarte acaba por trocar umas breve palavras com eles.

Quando já vínhamos para casa deparámo-nos com um pássaro de grande porte que circulava livremente no parque . Eu tive uma conversa com o Duarte que passo a citar:

 Disse ao Duarte baixinho 

"Olha não podemos falar muito alto que ele tem medo de nós, deve ter fome e anda à procura de comida"

 Eu o Duarte seguimo-lo para ver onde é que ele ia e o Duarte perguntou-me como se chama este pássaro tão grande" e eu disse-lhe que não tinha a certeza mas pensava ser um pavão". 

Após mais uns passos para ver para onde ia o pavão, o Duarte pegou numa bolota e eu perguntei-lhe " vais dar a bolota ao pavão" e ele respondeu" não pai quem come bolotas é o esquilo o pavão não gosta". 

Passada esta conversa entre pai e filho lá decidimos ir para casa pois já passava do meio dia e a manhã de sábado estava passada.

quarta-feira, 11 de novembro de 2020

Lágrimas

Escrever é uma forma de ganhar forças para conseguir resistir. Sinto que à medida que o tempo passa apercebo-me que sou cada vez menos professor e a minha presença é inútil.

Custa-me tanto terminar um dia.

Sinto a falta de uma conversa descontraída na sala de professores, de ir almoçar fora com um grupo de colegas e desligar-me da escola. Faz-me falta o aconchego da família.

sábado, 7 de novembro de 2020

Desabafos de fim de semana.

O fim de semana é um período de relaxamento. Quando estou na escola estou constantemente a  reinventar metodologias de ensino procurando tornar o ensino mais prático possível dentro das limitações que a pandemia nos exige.
Trabalhar numa escola exclusivamente profissional tem sido para mim uma aprendizagem diária. O que mais me entristeceu é que neste processo de ensino aprendizagem o professor tem cada vez menos peso sobre o comportamento dos alunos. Sinto-me impotente para fazer face a vicios que já estão esmiuçados dentro dos currículos profissionais,  onde aprender, escrever e discutir abertamente os temas da matéria passou a ser em muitos casos difícil.

Observo que nestas gerações o conhecimento deixou de ocupar um lugar que tinha no passado..

As estratégias que nós possamos implementar para conseguir reconhecer a nossa função de professor  esbarram na ideia bem vincada que existe nestas escolas onde estão os alunos mais preguiçosos e com mais vontades de completar o 12º sem esforço. Sem dúvida estão no sítio certo.

De um modo individual, os professores podem fazer muito pouco para fazer face a tudo isto.  Como se diz se não os queres vencer junta-te a eles, no entanto eu ainda não consigo fazer isso.

Nesta fase de pandemia e estando numa escola de alunos com uma tipologia própria, que sobrevive à custa dos alunos para se manter aberta, não percebo como é possível uma escola publica ter tão más condições de trabalho

 Por vezes é inevitável que  repense sobre a minha vontade de prosseguir nesta profissão. 

Quando cheguei a Grândola chamou-me a atenção o estado de degradação visível do exterior da Escola Secundária de Grândola paredes meias com a minha escola, a EPDRG. Cada vez mais sinto que os alunos não sabem estimar a escola, porque não lhe reconhecem o seu merecido valor para o seu crescimento enquanto Homens e futuros membros integrantes da população ativa.
Já por várias vezes perguntei aos alunos quais são as suas revindicações ao que estes na maior parte não me respondem, pois estão cismados de cabeça baixa a olhar para o telemóvel ou então quando tenho de algum me responder, as respostas são vagas.

Principalmente na disciplina de Área de integração os debates sobre imigração e cumprimento dos direitos humanos fazem parte dos conteúdos programáticos. Aquando da abordagem do tema não pude deixar de ficar surpreendido por a quase totalidade dos alunos ser contra a imigração e serem completamente insensíveis ao incumprimento dos direitos humanos que existem em Portugal, só por serem populações de cor. Assusta-me profundamente ver uma juventude que pensa cada vez menos no outro. Já devia estar preparado para isso mas infelizmente não estava.