Sento-me
na secretária e organizo os papéis e o grande número de tarefas que me esperam
para poder enfrentar mais um dia. Tento pensar em mim embora por vezes não seja
fácil. A experiência adquirida ao longo dos três anos de serviço como docente é
lisonjeira, para fazer face às adversidades da minha atividade profissional, no
setor privado. Muitas vezes sinto-me perdido embora na prática tenha sempre de
passar uma mensagem contrária. A liberalização do mercado de trabalho está
progressivamente a destruir a dignidade humana, tonando esta uma sociedade,
onde apenas os fortes triunfam, os mais fracos sentem cada vez mais
dificuldades e são muitas vezes marginalizados.
Entristece-me
perceber que não posso ter uma casa minha, pois o meu emprego deslocaliza-se
geograficamente de um modo aleatório sem que eu possa controlar, ou saber o lar
que estarei a habitar daqui por uns meses. Atualmente e felizmente posso dizer
que tenho um quarto e um trabalho, no entanto interrogo-me sobre como será o
meu dia de amanhã. Apercebo-me através de mensagens governativas que me referem
”não há empregos para a vida” e por isso não devo pensar a longo prazo. É o que
eu subentendo desta expressão. Será que nesta sociedade dita democrática eu já
não posso pensar no meu futuro e na minha felicidade e tenho de me subjugar a
um sistema onde o trabalhador tem de se sujeitar às regras, onde funciona tudo
para conseguir espezinhar quem é mais fraco. Não foi este o futuro que eu
pensei para mim, sinto que com estas medidas de austeridade estão a tornar os
portugueses mais tristes, pois sentem que estão a destruir algo que nos é
querido, o nosso Portugal.
Na
passada sexta feira, no meu local de trabalho, o colégio, apercebi-me de um
olhar triste de um menino que eu estava a acompanhar numa atividade extra
horário letivo. Decidi-me sentar um bocadinho ao pé dele e perguntar-lhe o que
tinha. Ele respondeu-me que os pais chegavam tarde a casa e ficavam horas em
frente ao computador e não davam atenção aos filhos. Depois daquela expressão
não tive capacidade para dizer mais nada, apetecia-me dar-lhe um abraço e
reconforta-lo. Depois desta experiência fiquei ainda mais convicto do que sinto
e me faz ter força para continuar a trabalhar num ritmo louco, para não ter um
reconhecimento no final. Vejo que as nossas crianças, que não têm culpa dos
erros cometidos pela nossa sociedade, onde o trabalho asfixia e retira o tempo
para pessoas que gostamos e nos merecem atenção. No final de um dia exaustivo
de trabalho, a melhor recompensa é sentir, que por mais pequeno que seja o
nosso contributo, ajudámos a transformar uma expressão num sorriso.
1 comentário:
Deixo o link da publicação do texto no blogue Clube dos Pensadores:http://clubedospensadores.blogspot.pt/2012/09/um-mundo-egoista.html#comment-form
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