Nuno Crato talvez tenha sido o ministro que mais aplausos arrancou quando se soube que iria ocupar a pasta da Educação. Embora longe de unânime, mereceu crédito de muitas pessoas desencantadas com os rumos de turbulência burocrática da educação, minada por um facilitismo galopante e pela perda de referência do sentido das aprendizagens. A expectativa criada (mesmo em alguns sectores da esquerda pouco dados a romantismo social em educação) prendia-se com isto mesmo: devolver alguma dignidade às escolas e prestígio aos saberes.
Pela minha parte, fui daqueles que, mau grado alarmados com um discurso de nauseabundo elitismo e de neo-liberalismo (a célebre 'liberdade' em educação que mais não significa concorrência entre escolas privadas e públicas para financiamentos de acordo com resultados, o que implica que o Estado financie escolas de luxo com alunos de luxo para alunos de luxo), acalentaram a ingénua esperança de que os tormentos burocráticos do dia-a-dia fossem varridos, que as escolas deixassem de ser, enfim, um local onde se passa o dia para ser um local onde se pode aprender e ensinar.
Ora, não só não há indicação nenhuma de supressão das estéreis e absurdas burocracias como a única coisa que foi varrida foram lugares aos milhares. E a decência neste infames concursos.
Pior: correm rumores de que Crato estará a preparar uma nova reforma curricular em que as Ciências Sociais são esmagadas. Não vale a pena dizer o que isto significa para quem dá, ou espera poder dar, aulas nestas áreas... Que Crato nutria um profundo desdém pelo 'eduquês' e pelo pedagogismo, já se sabia. Que, afinal as ciências sociais não lhe merecem grande consideração também se vai revelando evidente.
Para concluir, a cereja em cima do bolo: o Sr. Ministro, vai cumprindo a sua promessa de acabar com o ME, anunciando para o próximo ano lectivo um corte de € 500 milhões. Em salários, pois está claro... O mais interessantemente repugnante é que os lobos da Troika exigiam um corte de € 195 milhões. Ah, e nem menos um cêntimo para as escolas privadas.
Concluir-se-á, portanto, que está em marcha a segunda fase de liquidação dos contratados e confirmada a denúncia de que, para esta malta das 'liberdades', o que é público é para acabar.
4 comentários:
Infelizmente já era de esperar. A politica social democrata dá prioridade às privatizações, e na educação não é diferente. Estamos em vias de destruir por completo a Saúde, a Educação, e a Cultura. Tudo em nome da recuperação financeira. Tudo em nome dum esforço heróico, que vai muito além do que a troica pedia, para mostrarmos à senhora Merkel que somos bons alunos, e nos estamos a portar muito bem.
Para contrabalançar, e não ser só o sector público a sofrer, o Iva também aumenta, mais uma machadada nas empresas, nos restaurantes, e comércios afins. Todas estas medidas, todo este desinvestimento em nome da crise, vai gerar apenas mais crise. Ao mesmo tempo que tomam medidas que diminuem o poder de compra dos portugueses, tomam também medidas para gerar aumento de preços.
Em breve vamos sair da crise. Vamos pagar as dívidas, e ter um saldo razoável, acredito que sim. Mas quando isso acontecer, vamos ter um desemprego quase nos 20%, e uma economia que não produz, completamente atrofiada. E depois? O governo avança com datas para a saída da crise económica. E a crise social?
A actual política social está cada vez colocada em causa. Os direitos adquiridos num passado recente começam progressivamente a perder-se em detrimento dos designados cortes da troika e outro introduzidos por este governo.
A cultura deixou de fazer parte da política do governo e a educação é progressivamente privatizada e viciada.
Apetece dizer não me identifico com as políticas do meu país.
Rafael adicionei o teu nos links da blogosfera do meu blogue
Rafael quis dizer que adicionei o teu blogue "pensar cinema" juntamente com os links da blogosfera presentes no meu blogue. Assim está claro!!!
Ok, obrigado pela publicidade :)
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