quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Um Homem!

Hoje fui à ADDECO, uma empresa de recursos humanos que aloca mão-de-obra temporária em diverso tipo de empresas. Assim o obriga a necessidade do desemprego e das angústias e tempestades mentais que daí resultam.



Ia entretido com as minhas caóticas deambulações mentais entre os turistas que se cruzam com Braga, quando ouvi «...O que faz falta é um General para foder esta merda toda». «Sim, com esta democracia...». Olhei meio surpreendido e eram dois senhores na casa dos 60 os autores desta verborreia trauliteira. Dei por mim a dar uma aula de história a mim mesmo (já que a não posso dar a mais ninguém): estamos em Braga, não longe da Praça onde ainda(!) está uma monumental estátua de Gomes da Costa, precisamente um General, que, nos tempos da República, «fodeu esta merda toda» e abriu a porta ao Estado Novo.



Quanto à oportunidade das interjeições dos senhores, continuei no meu ocioso exercício mental: há o desencanto; há a crise; há a alternância sem alternativa; há um discurso oco e afectado sobre as inevitabilidades que esmagam os de sempre, enfim, um legítimo clima para o protesto e que, quando a sociedade civil é fraca, a população politicamente desalinhada e com visões distorcidas sobre os direitos e deveres da liberdade e democracia, assume estas formas aberrantes e doentias. Daí que pessoas como os senhores referidos cedam, como marinheiros à deriva, aos cânticos da sereia do caudilhismo, resposta sempre fácil, demagógica e falsa para os problemas. Na verdade, estes condottieri tão desejados (um messianismo caudilhista, sem dúvida) não passam de um agudo sintoma da doença de que se pretendem profilaxia.



O que me levou de novo à Primeira República: o General Gomes da Costa e companhia (o tal que se apresentou com outros generais e aspirantes a sê-lo) a redentores da pátria esventrada por políticos, numa coisa cumpriram: no «foder esta merda toda».



Chegados ao governo, os digníssimos militares, confrontados com a exigência técnica e política dos cargos, perceberam que talvez tenham ido ao engano ou, pelo menos, sido demasiado afoitos e lá foram dizendo que eram leigos na matéria, embora motivados. Gomes da Costa até chegou a referir-se a um deles (creio que a Mendes Cabeçadas) como «um bom rapaz e que está por tudo». Enfim, para salvadores, as credenciais não eram as melhores. Gostaria de saber se os senhores que tão convictamente pediam o General, se sujeitariam a um espectáculo destes ou se atalhavam logo para a parte do Salazar.



De volta à realidade, entrei na ADDECO e preenchi o formulário de candidatura a um lugar num call center onde não há lugar para estas deambulações.

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