Para se conseguir aguentar as agruras da vida sempre com um
sorriso tem de se ter amor por aquilo que se faz, de outra forma trabalhar
passa a ser um sacrifício e não um prazer o que é muito doloroso. Já passei
pelos dois estados e é muito interessante perceber que mesmo com as opções
menos felizes que tomamos aprendemos tanto.
Eu em 2016 tinha muitas dúvidas sobre o caminho a seguir,
conhecer aquilo que de facto me faz feliz e realizado. Apercebi-me que esse ano
foi o ano de viragem da minha vida sem dúvida. No Verão de 2016 estava
desempregado e ligou-me uma amiga a perguntar-me se eu estava disponível para
ser carteiro no giro da Vide(Seia), posso dizer hoje que é o mais difícil que
havia naquele concelho. Assenti ao convite no desespero de conseguir uma
ocupação. Tive até ao mês de Julho à experiência e a partir de agosto entrei
num empresa externa que trabalhava para os correios, pois aos CTT não compensava
fazer aquele giro. Com a regressão do número de pessoas e de correspondência o
número de carteiros decresceu naquela zona de 4 para 1. Para mim que estava a dar
os primeiros passos foi uma entrada demolidora.
Lembro-me perfeitamente do clima frio que existia naquele
Centro de Distribuição Postal (CDP) e da forma sobranceira que o chefe olhava para os seus empregados.
.
Vou dar dois exemplos para explicar a forma fria com que trabalhava no CDP de Seia em 2016
O primeiro exemplo foi no dia 10 de Julho, dia em que Portugal conquistou o Euro 2016. Nesse dia tal como todos os outros apresentei-me ao trabalho às 7:30 fiz o cumprimento normal e
não ouvi naqueles 45 minutos que passei a organizar as coisas para ir para a
rua um único comentário à grande e inédita vitória de Portugal. Observei rostos
fechados e um enorme peso na realização daquele trabalho.
O segundo exemplo, foi um acidente que tive em trabalho quando
me deslocava com o carro para fazer o meu serviço e embati frontalmente com
o outro carro. Foi a primeira vez e espero que a única que tive um acidente
deste género. Neste segundo exemplo, o embate foi duro apesar de ter tido a sorte de não ter ficado com sequelas físicas. Lembro-me que fui ao hospital e tive alta
cerca de um par de horas depois e o meu chefe veio ter comigo e disse-me para
ir trabalhar de tarde no meu carro e eu assenti. Durante a realização do giro alguns populares
perguntaram-me se estava bem mas foi muito triste saber que havia um conhecimento
geral sobre o que tinha acontecido e na Vide, os CTT que eu tinha que ir todos
os dias, não haver uma palavra de conforto naquele dia particularmente difícil para mim.
Naqueles meses que estive a trabalhar para os CTT ultrapassei todas as adversidades com afinco, apesar de sentir que o meu trabalho não era minimamente reconhecido. Senti que a satisfação e gosto por aquilo que se fazia não contava para aquela gente que liderava os CTT de Seia, o que lhes interessava era que o trabalho aparecesse feito. A cada dia que passava senti um avolumar de queixas dos CTT e dos
populares sobre o meu trabalho.
Eu apesar de todos os problemas que me deparei senti a
enorme importância do carteiro para aquelas pessoas que vivem no extremo
isolamento. Lembro-me que além de pagar reformas fazia inúmeros outros serviços
como pagar água, luz, gás, Tv cabo, levantava receitas de farmácia etc.
Lembro-me que passei um verão tórrido e sozinho calcorreava
quilómetros de estrada em mau estado, muitas vezes terra batida. Não me cansei
de dizer tudo o que me ia na alma e lembro-me perfeitamente de um dos
representantes da junta da Vide me dizer que iria levar a discussão toda aquela
problemática que o carteiro passava diariamente. Era de facto preciso fazer alguma
coisa. Sinceramente penso que nada foi feito e que continua tudo na mesma com
cada vez menos gente e cada vez mais abandonada. Deixei a profissão de carteiro no final de novembro após ter sido demitido.
Passados todos este anos, hoje decidi enveredar pelo profissão
de professor e estou a leccionar na Pampilhosa da Serra, onde muitas vezes passo junto das placas que nos indicam a direção a seguir para localidades onde
trabalhei em 2016 e esboço um sorriso não sei se de satisfação se de desanimo
por quem tem o azar de não poder sair daqueles lugares.
Esta semana um colega meu que faz o mesmo percurso para ir trabalhar como professor na escola da Pampilhosa da Serra despistou-se. Felizmente correu tudo bem e penso eu que não teve sequelas físicas preocupantes . Atualmente está uns dias em casa a recuperar do choque que foi aquele acontecimento. No final desta semana quando falava com ele ao telefone lembrei-me imediatamente do tempo em que trabalhava nos CTT e que fui trabalhar no próprio dia em que tive o acidente. Nós mais que ninguém temos que pensar em nós e se fosse hoje rejeitava ir trabalhar naquele dia e provavelmente nos restantes.
Esta semana um colega meu que faz o mesmo percurso para ir trabalhar como professor na escola da Pampilhosa da Serra despistou-se. Felizmente correu tudo bem e penso eu que não teve sequelas físicas preocupantes . Atualmente está uns dias em casa a recuperar do choque que foi aquele acontecimento. No final desta semana quando falava com ele ao telefone lembrei-me imediatamente do tempo em que trabalhava nos CTT e que fui trabalhar no próprio dia em que tive o acidente. Nós mais que ninguém temos que pensar em nós e se fosse hoje rejeitava ir trabalhar naquele dia e provavelmente nos restantes.
3 comentários:
Gostei muito do teu texto, Tiago Sousa. Obrigado pela partilha! Essas dificuldades, estou certo, também ajudaram a construir o Homem que hoje és - e isso reflecte-se no que escreves. Parabéns e continua a escrever. Abraço.
Li o que escreveste e estou de acordo,só depois de passarmos por certas situações é que damos valor, neste caso a certas profissões, tão duras que são, e tu sentiste na pele.
Maria de Fátima Brantuas
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