"O cão tinha um nome
por que o chamávamos
e por que respondia,
mas qual seria
o seu nome
só o cão obscuramente sabia.
Olhava-nos com uns olhos que havia
nos seus olhos
mas não se via o que ele via,
nem se nos via e nos reconecia
de algum modo essencial
que nos escapava
ou se via o que de nós passava
ou se via o que de nós passava
e não o que permanecia,
o mistério que nos esclarecia.
Onde nós não alcançávamos
dentro de nós
.o cão ía.
o mistério que nos esclarecia.
Onde nós não alcançávamos
dentro de nós
.o cão ía.
E aí adormecia
dum sono sem remorso
e sem melancolia,
Então sonhava
o sonho sólido em que existia
E não compreendia
Umdia chamávamos pelo cão e ele não estava
onde sempre estivera:
na sua exclusiva vida.
Alguém o chamara por outro nome,
um absoluto nome,de muito longe.
E o cão partira
ao encontro desse nome
como chegara: só.
E a mãe enterrrou-o
sob a buganvilia
dizendo
´É a vida...."
Manuel António Pina
Sem comentários:
Enviar um comentário