sábado, 20 de outubro de 2012

Manuel António Pina

Em homanagem ao grande poeta Manuel António Pina Falecido ontem após uma intensa lutra contra o cancro, transcrevo um poema transcrito no blogue da minha cunhada Ana Lúcia Cruz (http://bloguedalucia.blogspot.pt/). Um poema lindo sobre um cão:

"O cão tinha um nome
por que o chamávamos
e por que respondia,

mas qual seria
o seu nome
só o cão obscuramente sabia.

Olhava-nos com uns olhos que havia
nos seus olhos
mas não se via o que ele via,

nem se nos via e nos reconecia
de algum modo essencial
que nos escapava

ou se via o que de nós passava
e não o que permanecia,
o mistério que nos esclarecia.

Onde nós não alcançávamos
dentro de nós
.o cão ía.

E aí adormecia
dum sono sem remorso
e sem melancolia,

Então sonhava
o sonho sólido em que existia
E não compreendia

Umdia chamávamos pelo cão e ele não estava
onde sempre estivera:
na sua exclusiva vida.
Alguém o chamara por outro nome,
um absoluto nome,
de muito longe.

E o cão partira
ao encontro desse nome
como chegara: só.

E a mãe enterrrou-o
sob a buganvilia
dizendo
´É a vida...."

Manuel António Pina

Sem comentários: