quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

Memórias da década de noventa

A infância e adolescência, são fases da minha vida que evito falar.

Quando algum colega ou amigo falava das aventuras e desventuras desta fase da sua vida eu imiscuía-me de dizer o que quer que fosse. Lembro-me que fui sempre muito reservado e metido comigo mesmo. Nas saídas sociais recordo-me que tinha receio de falar e emitir a minha opinião, pois achava que não tinha relevância. O nervosismo o desconforto quando estava em grupo eram latentes.

As minha memórias são muito ténues e refletem momentos bons e menos bons que passo a narrar de forma salteada:

No primeiro ciclo do ensino básico recordo-me do meu primeiro dia de aulas, ainda na antiga escola primária, atual escola Profissional de Oliveira do Hospital (Eptoliva) no final da década de 80. Como entrei um pouco mais tarde lembro-me que fui recebido de forma calorosa pelos meus colegas de turma.

As minhas professoras do 1º ciclo ainda faziam parte da velha guarda de professores, onde o castigo por errar tinha consequências diferentes das atuais. Cito duas situações que me recordo: a primeira prendia-se com a penalização aquando dos erros nos ditados, no qual erámos castigados com uma reguada de madeira por cada erro que dessemos, lembro-me que quando tentava tirar era pior pois batia-me no osso e eram dores horríveis; a segunda história aconteceu no final do quarto ano, que em consequência de uma ação que eu fiz (sinceramente não me recordo) a professora castigou-me colocando-me de joelhos em frente ao quadro. Tudo castigos que já não se usam há mais de duas décadas. A minha professora do 1º ano reformou-se no final desse ano letivo e a professora que a seguiu até ao final do meu primeiro ciclo reformou-se uns anos depois da conclusão do meu quarto ano de escolaridade.

No primeiro ciclo estive em duas escolas diferentes: nos dois primeiros anos estive na escola antiga  e nos dois anos seguintes fiz a transição para a nova escola e atual escola primária de Oliveira do Hospital.  No início da década de 90 o momentos mais marcantes foi o encerramento da escola por causa da neve. Foi a primeira e única vez que isso aconteceu. Na altura a ainda vila de Oliveira do Hospital ficou coberta de neve. O meu desalento veio quando cheguei a casa e soube que tinha de ir para Coimbra com os meus pais e não podia brincar com a neve ao outro dia salvo erro uma sexta feira do mês de fevereiro do inicio da década de 90.

As mudanças de ciclo foram para mim sempre uma grande tormenta, principalmente do 1º para o 2º ciclo e do 3º ciclo para o secundário.

Em consequência de naquele tempo o primeiro ciclo ser composto apenas por um professor a adaptação às mudanças para uma escola maior onde passei a ter quase 10 professores e várias salas de aula foi dura e difícil durante as primeiras semanas.

Nos tempos de escola, tal como agora nunca fui um grande jogador de futebol ao contrário do meu pai.  Lembro-me de dois torneios inter-turmas onde sobressaí, daí estar a falar disso, pois por norma era uma peça acessória e não saía do banco: o primeiro momento que quero destacar estava no segundo ou terceiro ciclo e recordo-me que na altura me colocaram a jogar e marquei um golo a alguns metros da baliza e na altura todos vieram a correr na minha direção, abraçaram-me deixando-me no meio de um conjunto de braços e pernas. Sentimentos estranhos para mim na altura e se calhar ainda hoje. O segundo torneio fora do normal, não me recordo ao certo se foi no terceiro ciclo ou secundário coincidiu com a ausência dos melhores jogadores e eu acabei por ter uma preponderância fora do normal, ganhámos e eu marquei dois golos o que para mim era um feito.. Acabámos por ganhar esses torneio e ainda tenho a medalha em casa dos meus pais. 

Outra mudança que eu me ressenti  muito foi a passagem do ensino básico para o secundário. A mudança de escola assim como a tipologia de ensino teve consequências nas notas que foram mais baixas no primeiro período. 

O meu ensino secundário coincidiu com a introdução dos telemóveis e da Informática na educação em Portugal. Lembro-me que nas aulas de Introdução às tecnologias de informação (ITI) se trabalhava com o Windows 95 onde ainda se dava umas pinceladas de MS DOS. Recordo-me de um colega que partilhava comigo o computador que já tinha telemóvel e sempre que recebia uma chamada ou uma mensagem sentiam-se as vibrações no ecrã do computador.

Nunca fui de grandes saídas à noite, restringia-me muito ao seio familiar que era onde me sentia mais confortável. Recordo-me de brincadeiras que tive com dois amigos que na altura eram os meus dois melhores amigos, o Pedro e o Ricardo. Hoje devido a  termos percorrido caminhos diferentes falamos de vez em quando por telefone. As brincadeiras de crianças hoje são reconhecidas como infantis ou adequados à época que vivíamos.

Uma das brincadeiras menos felizes foi lembrarmo-nos de combinarmos um encontro em minha casa à noite para darmos uma volta de bicicleta. Eles chegaram lá cada um com o seu foco e prontos para a aventura. A casa dos meus pais fica a cerca de 3 quilómetros de Oliveira do Hospital e na altura não havia tanta iluminação como há hoje e recordo-me muito bem que pouco víamos à frente da bicicleta mas lá fomos. Fomos até Oliveira do Hospital, na altura ainda não tínhamos o hábito dos bares, calcorreamos algumas ruas e estradas, levámos uma buzinadelas de carros que nos ultrapassavam e depois cada um foi para sua casa. Nesta fase da minha vida foi a coisa mais estapafúrdia que me recordo de ter feito, felizmente ninguém se aleijou.

Naquela altura não havia os mails nem telemóveis e o contacto com as raparigas era feito através de cartas que lhe chegavam através de amigos ou familiares. Eles faziam-no muito, enquanto eu não tinha tanto esse hábito. Lembro-me que fiz um bilhete para uma rapariga e não tive grande sucesso. 

Nas férias reuníamo-nos em minha casa para jogar à bola num terreno por trás da garagem onde o meu pai tinha apenas mato. Nós limpámos aquele espaço e improvisámos um campo de futebol com pedras e acho que aproveitámos as árvores que lá gereciam para servir de postes.  Passávamos ali tardes os três quando não convidámos mais 1 ou 2 para fazerem parte das nossas conversas e das correrias atrás de uma bola.

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