segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Coisas dos Tempos que Correm

Após uma inadmissível penumbra na minha participação neste projecto superiormente mantido pelo Tiago, eis que agora regresso à escrita. Com impressões dos dias, da espuma dos dias e das questões que mais nos afectam.
1) A União Europeia é uma sombra da sua retórica. Sarkozy não se deixa ficar atrás de um certo político italiano que o pudor me impede de recordar e, vai daí, expulsa estrangeiros, preferencialmente membros de uma comunidade específica: ciganos, é verdade. Dizendo isto, adianto desde já que não entro numa certa lamechice afectada de defesa intransigente dos ciganos. Como a muita gente, incomodam-me os hábitos marginais voluntários etnicamente «justificados», uma inaceitável violação de direitos dos membros da própria comunidade (casamentos forçados, endogamia imposta, impedimento de se ir à escola, etc.) e presunção de que podem estar algures apenas com as regras que ditam para si (e para os outros, por arrastamento, sempre que há contacto intercultural). Daí que as opções de tipo comunitarista sejam essencialmente erradas e potenciadoras da marginalização das próprias minorias, não fomentando uma efectiva integração multicultural sustentada na ideia imprescindível da universalidade de direitos. O que quer dizer que se um cigano cometer um crime deve ser punido pela lei geral e não por uma lei particular, o mesmo sucedendo a um não-cigano.
Dito isto, importa agora perceber que apesar de a Roménia ainda não estar plenamente integrada no espaço Schengen, esta expulsão selectiva colide com os princípios do projecto europeu e agride a memória colectiva, num continente que também foi de totalitarismos, de pogrons e do racismo como política de Estado. De genocídios e de fanatismos vários. Não são estes os valores que animaram os propósitos europeístas.
Quer o exposto dizer que os problemas reconhecidos às comunidades ciganas têm de ser solucionados sem estes impulsos populistas em que Sarkozy se notabilizou. Como? Sinceramente, não sei, mas não me agrada esta abordagem evocativa de práticas passadas. Até porque uma vez aberta a Caixa de Pandora...
2) O Requiem pelo neoliberalismo foi manifestamente precipitado. No início da crise financeira-económica-social os intelectuais, políticos e cidadãos de esquerda julgaram estar a reviver o início de uma nova fase (tal como após 1929) pautada por mais apertadas regulações económicas e financeiras, por um regresso necessário do social e do Estado, enfim, por uma ordem internacional economicamente domesticada. Dito de outra forma, pela domação da globalização e pelo ocaso do neoliberalismo. A esperança era, como é, justificada, nomeadamente pelos efeitos devastadores da crise, pelas fraudes imensas a coberto da mão-(in)visível e do mito da auto-regulação. Sobretudo, porque chegara Obama à presidência, bem mais keynesiano do que muitos sociais-democratas europeus e do que a monetarista União Europeia.
Quem duvida, hoje, que os tempos que vivemos mais do que um regresso ao paradigma social, reforçaram os mecanismos socialmente regressivos do neoliberalismo: controlo orçamental obsessivo; redução das prestações sociais quando elas são mais necssárias, multiplicação de fora de economistas neoclássicos nos medias para preparar as mentes no elogio da austeridade (assimétrica).
3) Uma avaliação dos ODM. Os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio pretendiam reduzir substancialmente a pobreza e melhorar os indicadores de saúde e educação das regiões mais pobres. Segundo as Nações Unidas, as acções no âmbito dos ODM evitaram a morte a várias centenas de milhões de pessoas. O esforço é de louvar, mas não será angustiante festejar? Os problemas do subdesenvolvimento aí estão para durar, zombando das metas dos ODM (o programa apontava para o ano de 2015). Já repararam como uma catástrofo natural mostra a fragilidade destas conquistas: as monções do Paquistão, as secas no Corno de África, o banditismo de Estados falhados (Somália), a ignorância/fanatismo religiosos no Darfur mostram-nos que a condição humana é coisa pouco apreciada em muitos lados...

1 comentário:

Tiago Sousa disse...

Sérgio o teu poste é deveras complexo, mas também o é o nosso Mundo!!!

Recordo-me de escrever há uns meses atrás um post onde me referi ao "Nosso Mundo", inferindo algumas das causas para os desequilíbrios económicos e sociais vividos entre os diferentes países Mundiais.

Neste teu texto abordas uma das consequências evidentes da abertura das fronteiras, das vantagens e desvantagens aí adjacentes. As recentes intervenções de Sarkozy são induzidas por algumas razões perceptivas através de comportamentos de membros de etnia cigana, que impedem a sua integração na sociedade dita convencional.

Quando algum cidadão da União Europeia sai do seu país, entrando num outro país pertencente à União Europeia, deve ter inicialmente em conta as regras do país onde se inseriu e posteriormente as da União Europeia. Caso não as cumpram ou cometam um delito grave a repatriação é uma das soluções a tomar pelo país acolhedor.

Por outro lado prosseguindo a análise, a resolução da crise Mundial passa pela existência de um Estado Social que apoie os desempregados e quem está impossibilitado de trabalhar, mas também deve ter em conta a criação de emprego e o aumento da produção.

Quero com isto dizer que a economia portuguesa para reduzir a despesa pública deve ter a capacidade de produzir riqueza, ser o mais auto-suficiente possível e desperdiçar o mínimo dinheiro possível.
O investimento planeado é essencial, mas também deve-se incutir nas pessoas desempregadas um espírito de luta e de persistência que as conduza à saída da situação difícil que se encontram.

Para a saída da crise precisamos de todos, pois dessa forma tornar-se-á mais fácil ultrapassar toda esta situação.