sexta-feira, 2 de abril de 2010

Cal


Outrora nas minhas leituras de Verão, li “Cal” de José Luís Peixoto que me suscitou interesse e me fez reflectir sobre a sociedade, o envelhecimento da população


No nosso Mundo mais concretamente nos designados países desenvolvidos, onde se inclui naturalmente Portugal o conceito de envelhecimento tem sido cada vez mais referenciado por uma multiplicidade de razões.

Neste livro de crónicas intitulado Cal por José Luís Peixoto, este descreve a rugosidade e o saudosismo de vidas envelhecidas pelo trabalho e pelas dificuldades insurgentes da dureza de outros tempos. Pessoas que envelhecem e sofrem actualmente as incompreensões e injustiças de uma sociedade, de um país que os esquece e não lhes concede o devido valor.

As consequências de tudo isto são diversas e sujeitas a várias interpretações. Presenciamos situações em que a mobilidade está cada vez mais patente, é cada vez mais fácil deslocarmo-nos, mobilizarmos informação entre espaços longínquos em segundos. Actualmente podemos ascender socialmente se trabalharmos ou estudarmos, caminhando-se para um maior bem-estar, qualidade de vida e um consequente aumento da esperança média de vida.

O envelhecimento apresenta-se como o resultado desta evolução social, tecnológica, saúde, educação…

No entanto nem tudo é positivo pois o aumento da riqueza conduziu a desequilíbrios cada vez mais acentuados, promovendo a criação de uma sociedade narcisista que por vezes se esquece dela própria. Observam-se cada vez mais casas vazias, o esquecimento de pessoas que nos são próximas pelo simples facto de já não nos serem úteis. Posso não estar correcto mas sinto que actualmente a palavra solidão ganhou uma outra profundidade.

As pessoas idosas perdem cada vez mais o simbolismo que detinham num passado recente onde havia um outro respeito e atenção pelas pessoas de idade. Não me estou apenas a falar daqueles que são esquecidos em lares ou hospitais, mas também os que são burlados por pessoas sem princípios nem valores morais.

Não há melhor cura para uma doença do que sentirmo-nos a presença de alguém que gostamos próximo de nós.

2 comentários:

Sérgio disse...

As sociedades mudam, Tiago. Com efeito, parece ser uma característica mais ou menos geral à dita civilização ocidental o envelhecimento da população: feita a transição demográfica e após o baby boom, as exigências do conforto, do bem-estar, da vida profissional e a aquisição de novos sentidos de vida, determinam um saldo fisiológico próximo do zero e a inversão da pirâmide demográfica (do zigurate para o cogumelo)...
Quanto à chaga social da solidão e da pobreza na terceira idade, ela decorre,no meu ponto de vista, da inexistência de um verdadeiro Estado-Providência que foi sendo tortamente substituído pelas redes familiares até aos anos 60/70. Mas o surto de urbanização e as novas vagas do êxodo rural desmembraram esta rede social informal que assegurava a solidariedade intergeracional sem «contrato social».
O teu post é tanto mais importante porque as previsões das tendências demográficas indicam um reforço claro desta tendência. Que eu saiba, só os EUA e a França (do grupo dos países «ricos») têm saldos fisiológicos em expansão. E aí, como sabemos, os fluxos da imigração jogaram o seu papel. E por cá, saberemos utilizar as potencialidades da imigração ou tememos um desvirtuamento da «raça» e do «ser português»?
Quanto aos cuidados com a população idosa, num tempo de egoísmo social e de lógicas económicas baseadas na retracção das prestações sociais do Estado, na busca da rendibilidade de todos os serviços, qual o lugar para os «não-produtivos»?
Abraço.

Tiago Sousa disse...

Fico feliz por saber que te apercebeste dos problemas que eu pretendia colocar!

No fim de semana passado falei com um colega meu professor de português que me disse que na opinião dele os alunos lêem mais. Actualmente sente que os alunos estão mais interessados na leitura e aprendizagem da Língua Portuguesa.
Bem como em tudo na vida há sempre excepções. Ele pretendeu falar na generalidade, pode ter a ver com a escola ou com os métodos utilizados pelo professor. Tudo isto é discutível.

Falámos também na evolução da Língua Portuguesa na sua expansão e consequente transformação a inserção de novos conceitos e neologismos.

Se o Mundo evoluiu porque não há-de evoluir a Língua. A tendência natural das coisas é que haja uma natural adaptação da Língua escrita à Língua falada que tem uma maior peso demográfico e económico. A Língua pode ser uma boa alavanca económica para um país como Portugal que possui inúmeras colónias.

Com esta exposição, pretendi indicar que vivemos num Mundo em constante mutação onde a informação circula a um ritmo vertiginoso. O alargamento dos mercados e a aproximação dos diferentes lugares trouxe vantagens diversas, no entanto conduziu que houvesse uma maior competitividade e as pessoas se fechassem e lutassem mais pelos seus objectivos esquecendo-se do seu próximo.

Parece um paradoxo mas a maior interligação espacial conduziu à criação de um Mundo cada vez mais fragmentado e heterogéneo.

Com este post pretendi alertar para algumas consequências negativas da evolução dos tempo.
Caminhamos para uma sociedade que tem uma tendência para envelhecer, em resultado da maior esperança média de vida.

No entanto para podermos adaptarmo-nos a toda esta situação temos de a conhecer e percebe-la.

Em futuros post continuarei a fazer chamadas de atenção para ajudar a conhecer melhor o nosso Mundo