sábado, 6 de fevereiro de 2010

Viver Habitualmente

Uma boa forma de se criar uma anemia cívica é esperar que as pessoas vivam ensimesmadas e rodeadas de factores de sociabilização meramente tradicionalistas que as afastem de mecanismos de pensamento crítico e da politização das suas acções. A consciência cívica estruturada sobre um lastro cultural e científico básico foi a promessa da escola democrática-republicana que funcionaria como um meio de ascensão social e de garantir a todos o acesso aos bens imateriais que compõem o acervo cultural da humanidade. É esse o papel de qualquer professor que se preze e que preze a dignidade dos seus saberes.
Não admira, portanto, que as ditaduras tacanhas e tradicionalistas como a de Salazar, tenham procurado embrutecer deliberadamente o povo, através, nomeadamente, da criação de uma mitologia folclórica ligada à cultura popular ou à glorificação das «virtudes» da vida simples e campestre numa óptica ruralista. Dito de outro modo, «aprender a ler, escrever e contar para saber que manda quem pode e obedece quem deve» somado a um Portugal castiço.

Na passada quarta-feira tive um momento de grande frustração/indignação/solidão quando procurei convencer os meus colegas da absoluta bizarria que é fazer-se uma «desmancha do porco», alegadamente «tradicional» na Escola em que, este ano, trabalho. Desmancha essa, segundo eles, que tem tudo a ver com o tema de vida dos EFA B. Entendamo-nos: Reviver tradições já é discutível, embora aceitável... agora, levar para a escola aquilo que já é a vida dos formandos e esperar que, com isso, se desenvolvam as famigeradas competências presentes nos referenciais é que já me parece abusar escandalosamente da estupidez de quem é pouco mais do que analfabeto. Não deveria a escola elevar? Não deveria trazer novidades?
A resposta é um rotundo não: deve divertir, ser lúdica e uma espécie de passatempo para miúdos e graúdos. Salazar dizia que queria que os portugueses vivessem «habitualmente». Tem conseguido.

1 comentário:

Tiago Sousa disse...

Viver Habitualmente!!!

Na vida, frequentemente, habitualmente, raramente temos sentimentos diversos mediante o momento e a situação ou situações que transparecem nas nossas vidas.

Tudo depende da felicidade ou bem-estar com que desempenhamos uma determinada situação ou actividade.

Infelizmente nem sempre podemos estar felizes e motivados, há situações que nos impedem que tal suceda.

No entanto e para que percebemos que estamos mal é porque já nos sentimos bem.

É por todos esse sentimentos bons, salutares, que devemos lutar para permanecerem durante o maior tempo possível.