domingo, 11 de abril de 2021

Balanço do ano letivo

No dia 19 de Abril retomo a atividade presencial em Grândola. Passado largos meses não consigo dizer que tenho saudades de retomar o ritmo de trabalho presencial. Sinto que este ano letivo foi um ano de aprendizagem e apesar de não haver certezas absolutas sobre o que será o próximo ano letivo, pressuponho ter sido apenas o início de um percurso profissional a sul do rio Tejo.

Apercebo-me cada dia que passa, sinto que desempenho de forma mais competente esta profissão, embora ainda muito longe daquilo que idealizo.


Este ano letivo começou muito mal, devido à inadaptação aos métodos de avaliação e às estratégias escolhidas para às aulas,  ao que se associou um cansaço subjacentes às viagens para Oliveira do Hospital de que não abdiquei em nenhum fim de semana. 

O primeiro período foi muito difícil devido à distância e a impossibilidade de estar com a Cecília quando ela mais precisava. Ela dá aulas numa escoa secundária da  Guarda e no estabelecimento prisional da mesma cidade. Para ela a impossibilidade de ter um dia livre contribui para que o cansaço se acumulasse e não houvesse tempo para recuperar. Apesar de todos os cuidados que ela  teve aconteceu, em meados de novembro do ano passado descobriu que tinha sido infetada com  Covid 19. Nessa sexta feira recordo-me que cheguei de Grândola e sentia-a cansada, estava deitada no sofá, acabei por não ligar de imediato,  pois a sexta feira por norma é um  dia de descompressão em que por vezes aproveitava para descansar um pouco ao fim da tarde. No sábado ligámos à nossa médica de família e já tínhamos quase a certeza da infeção, pois os sintomas eram evidentes.

Para mim foram quinze dias muito complicada, pois tive de fazer tudo um pouco em casa. O dia mais complicado em que eu a Cecília chorámos juntos foi o dia em que o Duarte teve de ir para casa dos meus pais por tempo indeterminado, pois não era saudável ele permanecer num apartamento, naquele ambiente, A tenacidade para mim teve de ser a palavra de ordem e acabei por ter de delinear estratégias de ocupação do tempo de forma a manter o discernimento  e tratar da melhor forma a Cecília.  Apesar de a Cecília ter conseguido curar-se em casa, temi vários vezes o internamento, pois os sintomas agravaram-se principalmente durante a primeira semana.

Curiosamente para mim o isolamento em consequência do apoio à Cecília e o atual confinamento vieram em momentos chave que me ajudou a ultrapassar melhor este ano letivo.

Quando terminei o primeiro período devido às dificuldades de adaptação ao currículo dos cursos profissionais,   decidi que tinha de estudar e repensar o segundo período de uma outra forma até  porque devido aos 15 dias de isolamento teria necessariamente em janeiro o horário muito preenchido. 

Recordo-me que a melhor coisa que fiz no início do segundo período foi levar uma mesa redonda velha de casa da minha mãe e colocar um aquecedor a óleo no meu quarto em Grândola. O mês de janeiro foi excecionalmente frio em Grândola, como em todo o país,  atingindo todas as noites temperaturas negativas. 

Senti que levei o início do segundo período de uma forma mais calma e as viagens diárias para a escola  foram feitas quase todas a pé, pois moro a cerca de 700 metros da escola. Aos poucos senti que me estava a adaptar ao ensino profissional e aos meus afazeres diários.

No dia 21 de janeiro o Governo indicou que iria começar no dia seguinte um novo confinamento na educação. Na  minha opinião neste segundo confinamento, a paragem letiva de duas semana entre 22 de janeiro e 7 de fevereiro foi exagerada, uma semana seria suficiente. Senti a necessidade de mais tempo para descansar na interrupção letiva da Páscoa, essencialmente devido à dureza e à pressão sentida na parte final do segundo período.

O segundo confinamento para mim que dou aulas a 340km da minha área de residência foi a melhor coisa que me aconteceu, pois deixei de ter o desgaste das viagens o que me forneceu mais tempo para organizar as aulas e as avaliações dos 9 módulos que conclui no final do segundo período. 

Termino o texto com o Duarte, realçando a importância que este confinamento teve para a minha reaproximação ao meu filho. Ele nunca percebeu bem a razão da minha ausência durante tantos dias da semana e aos poucos senti que ele se estava a distanciar um pouco de mim aproximando-se mais da mãe. O que mais me custou neste comportamento do Duarte foi que deixei de conseguir adormecê-lo pois ele deitava-se e passado uns breves minutos ia chamar a mãe. Esse comportamento do Duarte deixou-me muito triste, no entanto foi a forma que ele encontrou de mostrar o seu descontentamento perante a minha ausência. 

Neste período em que o covid 19 nos obrigou a estar em casa aproveitei para conversar e brincar muito com o Duarte e aos poucos senti uma progressiva aproximação . Foi uma sensação fantástica, e que me fez tão bem,

Hoje posso dizer  que voltámos a ser grandes amigos.  Darmos grandes e infindáveis  passeios e apercebi-me que o tempo que passo com  Duarte passou a ser vivido com mais qualidade e sem pressa. Hoje já o consigo adormecê-lo, dar-lhe banho e acima conseguir que ele me escolhesse de forma espontânea  para brincar. Desta forma consegui libertar algum peso sobre os ombros da mãe conseguindo que ela tivesse mais tempo para realizar as suas múltiplas tarefas 

Dia 19 de Abril recomeço a minha atividade de forma presencial mais feliz.

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