quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Homo Faber

O texto postado pelo Renato e as considerações que o Tiago fez sobre o mesmo assunto remetem-nos para a questão do fascínio que as tecnologias de informação exercem. Embora me sinta relutante em escrever sobre este assunto já tão bem abordado nos dois textos, não posso deixar de dizer que também me preocupa um certo monismo/unanimismo em torno das designadas TIC. Entendamo-nos: sou um utilizador banal do pc e da net. Gosto de visitar bolgs e sites que me possam ser úteis ou ter algum efeito hobby. Creio que isto se enquadrará numa utilização esclarecida da internet. Não é isto, porém, que está em causa.

Preocupa-me o lugar cada vez mais omnipresente, quase compulsivo, que o computador e tecnologias derivadas ocupam no imaginário educativo de há uns anos a esta parte. Empiricamente, qualquer um de nós poderá relatar casos de salas mal aquecidas, com mobiliário velho, janelas partidas, portas avariadas mas devidamente munidas de projector multimédia ou, inclusive, dos quadros interactivos. Não é a disponibilidade destes equipamentos, aliás ocasionalmente úteis, que perturba mas sim o encantamento pouco sofisticado em relação aos mesmos. Dito de outro modo, é a quase dependência da informática como panaceia didáctica e pedagógica acompanhada de um discurso pseudo-científico bebido no eduquês e no pedagogismo das mudanças de «paradigma» da relação professor-aluno e de ambiente de sala de aula. Do meu ponto de vista, a única mudança de paradigma tem sido a redução permanente do perfil funcional dos professores a burocratas com um palavreado jurídico infantil e a executores curriculares sem autonomia nem esqueleto científico. Creio que a profusão de acções de formação nas áreas das TIC e respectivas aplicações em detrimento de boas sessões de formação em áreas científicas (ou mesmo o desincentivo semi-oculto à continuação de estudos pós-graduados ou outros) são demonstrativas da importância desmedida e deproporcionada atribuída áquilo que é instrumental e não essencial. Do mesmo modo, estou persuadido que a crescente infantilização da escola, onde se sacrifica o conteúdo à forma, o permanente ao breve, caminha de mãos dadas com uma obtusa tendência de se acreditar que informação é conhecimento e que o acesso àquela é condição suficiente deste. Com efeito, a procura de informação, seja em que suporte for, só poderá ser séria e relevante se for orientada por algo que está para além das TIC e que só se adquire com o tempo que a maturidade cultural traz. E esse tempo não é o dos downloads nem dos trabalhos decalcados de um qualquer site da net à boleia do discurso já pitoresco do savoir-faire (mas fazer o quê e como?) e de uma autonomia sem conteúdo.

1 comentário:

Anónimo disse...

Palavras para quê?(brlhante análise).
B.