Noite após noite e sempre que estou com o Duarte vou reinventando as múltiplas histórias que leio nos livros infantis.
A primeira vez que consegui adormecer o Duarte através narração de uma história, aconteceu apenas em agosto do ano passado quando estávamos no Luso. Nesse dia uns instantes após o almoço o Duarte abriu o estojo da mãe e encontrou lá um objeto que desconhecia um X ATO aberto. O Duarte de forma instintiva pegou na parte cortante e fechou a mão. Ele não se assustou, talvez por não se aperceber o que tinha acontecido. Quando chegou à cozinha, abriu a mão e nós ficámos muito assutados pois ele não conseguiu explicar a origem do sangue. Já não me recordo se o Duarte chorou mas penso que não, neste caso a aflição foi apenas nossa. Felizmente ele não fez muita força quando apertou a mão e o golpe foi pequeno, ficou o alerta para nós.
Após realizarmos os curativos dissemos para ele segurar um pouco de algodão e fechar a mão. Ele estava com sono e decidimos deitá-lo um pouco no sofá. Nessa altura adormecê-lo durante a tarde já era uma tarefa hercúlea. Eu decidi fazer uma coisa que adoro fazer sempre que vou ao Luso, ler as histórias da avozinha escritas há mais de quarenta anos, uma coleção de 7 ou 8 livros que o meu sogro tem.
Naquela tarde decidi abrir um dos livros que compõem a coleção e contei-lhe a história do Corinde e do Torcaz. Foi a primeira vez que li aquela história e dado a extensão e complexidade do texto limitei-me a ver as imagens e a narrar a minha história através das imagens
Passado alguns meses já li a história varias vezes, mas devido às múltiplas alterações que já lhe fiz não consigo contar a história original, no entanto conto a minha história com base no contexto expresso no livro.
O Corinde e o Torcaz
"Há muito séculos atrás uma aldeia estava em festa e decidiu convidar os habitantes mais abastados das aldeias vizinhas para comer, beber e divertirem-se. Para a parte da diversão decidiram convidar dois cavaleiros para lutarem a cavalo, O Corinde e o Torcaz.
O Corinde tinha um bom coração e apesar de ser um valente cavaleiro não gostava muito de intrigas e conflitos, enquanto que o Torcaz era mais conflituoso estava sempre em lutas e brigas. Ambos aceitaram o convite para a batalha que estava marcada para a tarde de um dia de primavera. há muito séculos atrás.
Ambos subiram ao cavalo com um pau enorme, era assim que se começavam as lutas nessa época. O Torcaz mais agressivo na fase inicial conseguiu deitar o Corinde ao chão através de uma forte pancada no peito. Nesse tempo usavam grande fatos de ferro que vestiam por cima da sua roupa e muitas vezes o peso da vestimenta era muito elevado, no entanto nesta altura os homens tinham muito mais força que hoje. Outros tempos.
Após o Torcaz ter deitado ao chão o Corinde a luta passou a ser realizada no chão através das espadas que tinham à cintura. No chão, com a espada o Corinde teve uma destreza maior e apesar da maior agressividade do Torcaz este acabou por sair derrotado.
Após a luta ambos guerreiros tinham direito a um jantar, no entanto o Torcaz acabou por não aceitar e foi para casa cabisbaixo e enraivecido.
Passado umas semanas o Corinde foi dar um passeio a cavalo com os seus cães nas montanhas que envolviam a sua aldeia. Quando chegou ao cimo da encosta observou que no sopé da montanha a aldeia dos mouros estava a ser atacada e observava já algumas casas em chamas. O Corinde ficou apreensivo e decidiu soprar num objeto comprido que trazia sempre consigo que expelia um som alto e forte do conhecimento dos habitantes da sua aldeia. que chegaram poucos instantes depois.
O Corinde e os amigos desceram a encosta em direção à aleia dos mouros que estava a ser atacada. Quando se aproximaram viram que as tropas do Torcaz estavam a tentar conquistar a aldeia dos mouros de forma a alargar o seu território No entanto a batalha não estava as correr nada bem ao Torcaz. O Corinde e os amigos decidiram salvar o Torcaz e dar entender aos mouros da rendição das suas tropas,
Acabaram por levar o Torcaz e alguns dos seus homens para a sua aldeia e trataram deles antes de estes regressarem a casa.
O Torcaz quando já encontrava restabelecido veio ter com o Corinde e agradecer-lhe o gesto que ele teve para com ele e disse-lhe que tinha aprendido a lição e que daí em diante nunca mais se iria meter em conflitos."
Naquela tarde de agosto de 2020 não precisei de contar a história toda ao Duarte, pois ele passado alguns minutos adormeceu agarrado ao algodão que a mãe lhe tinha dado.
Ontem chegou a encomenda de mais dois livros infantis da Boutique da Cultura: A flor mais alta do mundo" de José Saramago e "A girafa que comia estrelas" de José Eduardo Agualusa.
Aquando da receção da encomenda observei que me tinham enviado um bilhete personalizado desejando-me boas leituras. Um gesto simples que eu dei um grande valor por não ser um gesto vulgar. Para mim foi como se fosse um autografo.
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