Hoje passado mais de uma década após a Cecília ter estado na escola profissional de desenvolvimento rural de Mirandela, percebo a expressão dela aquando da observação do fogo de artificio numa festa local, "pela primeira vez senti-me bem em Mirandela".
Hoje eu na escola profissional de desenvolvimento rural de Grândola, ainda não posso dizer que houve um momento que me sentisse feliz. Talvez esteja a exagerar mas seguramente não foram muitos e sem dúvida não houve qualquer momento que sentisse o coração cheio.
A vida de professor não é fácil. Ao longo dos anos aprendi a gostar da profissão e como qualquer pessoa gosta de ver o seu trabalho reconhecido.
Desde o reingresso na profissão há quatro anos tenho sentido um distanciamento maior entre professor e o aluno. Os alunos vêm cada vez mais o professor como alguém distante e quando nos despedimos no final do ano letivo a despedida é fria, trespassando a ideia que fomos apenas mais um professor.
Hoje aquando da ida bar da escola para comer uma sandes, falei uns minutos com a funcionária e enquanto conversávamos veio um senhor que pediu um café. Observei que ele estava a tirar moedas e por isso deduzi que não tinha o cartão da escola. Ofereci-me de forma espontânea para lhe pagar o café ao que ele assentiu e agradeceu. Acabámos por trocar dois dedos de conversa que passo a citar:
Senhor: Você é professor cá na escola
Eu: Sim fui colocado no início do ano letivo
Senhor: Sabe eu trabalho na escola mas na parte agrícola, venho cá poucas vezes a acima. Eu tenho duas filhas a estudar nesta escola.
Eu acabei por ficar um pouco receoso dada a pouca empatia que os alunos têm por mim.
Senhor: Que disciplinas leciona?
Eu referi que lecionava Área de Integração (AI), Geografia e Ambiente e Desenvolvimento Rural (ADR)
O senhor disse o nome de ambas as filhas e indicou que uma estudava no décimo e a outra no décimo primeiro do curso de Turismo e Ambiente e Rural.
Suspirei um pouco de alívio pois as alunas são adoráveis e eu tenho um enorme respeito e empatia por elas. Ao contrário da grande maioria são alunas muito aplicadas. Acabei por elogiá-las, pois não tinha qualquer razão para dizer o contrário.
Após os meus elogios o senhor disse:
Eu: A mais velha fala muito e gosta muito de si.
Eu não sou daquelas pessoas que gosta muito de estar sempre a ser elogiado mas pontualmente quando acontece, sabe bem. Pela forma como ele se expressou penso que foi sincero. No entanto mesmo que não tenha sido eu acreditei que sim.
Após aquele momento, pude pensar que o dia estava ganho.
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