O planeta está doente e pela primeira vez na minha vida
sinto pânico generalizado.
Nas escolas na passada semana vivi uma situação de crescente
alarmismo à medida que os casos foram aumentando e as conversas entre
professores, nos corredores, na sala de professores ou no restaurante onde por
norma vamos simplesmente para desligar do trabalho. Manter a sanidade mental,
focar-mo-nos no essencial, transmitir tranquilidade aos alunos foi essa a tarefa
que nos moveu.
Ensinar conteúdos da nossa disciplina foi uma tarefa que passou
para mim para plano secundário. No meu caso acabei para fazer exercícios para consolidação
dos conteúdos até porque esta semana coincidiu com uma semana de testes ou de
revisões para os mesmos.
Nesta semana não foi fácil passar aos alunos a mensagem da
verdadeira gravidade da situação, uma vez que para eles a suspensão das aulas é
um sinal positivo não levando a peito todas as indicações de professores,
auxiliares. Eu leciono essencialmente ao 3ºciclo a realidades sociais e económicas
muito difíceis, onde os pais na maior parte dos casos não têm capacidade para os
conter em casa e para lhe explicar o estado de emergência que vivemos. Tudo
isso me assusta imenso e me deixa muito preocupado.
Recordo-me de um episódio que vivi na passada sexta feira e me ficará para sempre na memória. Na última aula do dia quando a funcionária foi à sala e me deu um comunicado para ler, senti a minha voz tremula e insegura, e admito que foi a mensagem que mais me custou ler aos meus alunos. Após a leitura da mensagem de encerramento antecipado das aulas senti um burburinho generalizado e eu ainda com a máscara de professor lembro -me que pousei de uma forma mais brusca o relógio sobre a minha secretária e gerou um silêncio geral na sala e reafirmei novamente o estado de emergência que todos vivemos e que o papel deles será muito importante, para a contenção do vírus. Terminei a aula com a auto-avaliação dizendo que as aulas presenciais poderiam neste ano lectivo ter terminado naquele dia ao que me apercebi que alguns alunos expressaram um "Ooooh" em sinal de admiração. O futuro será incerto e para o bem da humanidade tenho de acreditar na ciência e como professor e cidadão tudo farei o que estiver ao meu alcance para ajudar. Após o final da aula senti um vazio. A partir de agora vão-me faltar as rotinas que eu me habituei a gostar.
Passado o fim de semana e começou o período de quarentena. Ao longo da vida aprendi a ser otimista e a enfrentar os problemas que sobre mim se debruçam. Nesta fase tento ver
tudo o que de positivo está à minha volta para sorrir, ter esperança e dá-la à
minha família mais próxima. Observar que Macau já não há casos há largos dias
ou que na China a tendência é de recuperação. O povo português é um povo
solidário que não vira a cara à luta mas agora mais do que nunca temos de o ser
verdadeiramente e contribuir para que juntos possamos ultrapassar esta pandemia que
nos encontramos.
Para mim a escrita vai ser uma rotina que me fará ultrapassar
os dias em casa. Como professor estarei disponível para dar aos meus alunos as
ferramentas e conteúdos para trabalharem e nãos se esquecerem da importância da escola.
3 comentários:
Muito bem! É isso mesmo... ajudarmo-nos uns aos outros da melhor forma que conseguirmos.
O ser humano tem um poder de adaptação a novas rotinas e a novos estilos de vida, brutal.
Vai demora mas vai passar.
E no final, todos vamos aprender um pouco com tudo isto que nos está a acontecer.
Beijinhos grandes
Guida
Obrigado pelo teu texto, Tiago Sousa. Abraço.
Nos meus textos procurei sempre evitar alarmismos ou aumentar as especulações sobre o que quer que seja. Apesar de por vezes não ser fácil manter a calma, como dizes Mana o ser humana tem um poder de adaptação e resistência a tantas adversidades que por vezes até nós ficamos surpreendidos.
Obrigado por lerem os meus textos que muitas vezes são desabafos e formas de exteriorizar o que sinto que me faz sentir bem.
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