Na imprensa
Se
compulsarmos o arquivo de A Comarca de
Arganil, que já foi parcialmente disponibilizado em suporte digital numa
plataforma informática (1.ª série,
1901-2009), iremos constatar a existência de 47 entradas, quando encetamos uma
pesquisa com o nome “Manuel Cid Teles”; o número sobe para 61, quando apenas
escrevemos “Cid Teles”). Nessa importante fonte histórica, conseguimos
encontrar um artigo datado de 14 de Outubro de 1932 e que constitui uma espécie
de crítica à estreia literária de Cid Teles, que, segundo penso, valerá a pena
aqui parcialmente recordar: “Não conhecemos o autor deste livro [As minhas quadras] nem isto vem para o
caso. Apenas lamentamos não podermos fazer uma apreciação segura sobre os méritos
literários de Manuel Cid Teles, visto o género de poesia que escolheu ser,
incontestavelmente, o mais simples. Parece-nos porém que, se quiser, poderá
escrever poesia mais variada, que não deixa, por isso, de ser também
interessante e talvez mais apreciada”.
Curiosamente, na edição de 1 de
Janeiro de 1935, portanto, já durante o Estado Novo, voltaremos a encontrar um
texto do referido “crítico”, que assina com o nome Mário, mas agora a propósito
do livro Sombras... Eis os dois
parágrafos que nos pareceram mais significativos:
Trinta e dois
sonetos! Trinta e duas delicadas flores arrancadas ao jardim da inspiração;
trinta e duas finíssimas jóias, singelamente empacotadas numa modestíssima
folha de papel de linho, com este simples endereço – Sombras…
Não
fazemos referência especial a nenhum dos seus sonetos, pois a todos achámos,
senão impecáveis, pelo menos bem feitos. Aquela ténue nuvem, que nos encobria
ainda o seu nome literário, desapareceu como por encanto e o sol brilhou de
novo no firmamento azul do seu valor e da sua inspiração.
Cid Teles foi um assíduo colaborador da Comarca de Arganil, periódico onde deu à
estampa vários inéditos, por vezes com uma roupagem diversa daquela que depois
figurará nos livros.
Através da consulta das várias notícias respeitantes
ao poeta, é possível identificar algumas datas/acontecimentos marcantes:
– em 1945, Cid Teles seria funcionário da
Comissão Reguladora de Comércio (em Oliveira do Hospital?);
– em Setembro de 1950, Cid Teles fez parte
da comissão executiva encarregue de organizar as festas em Oliveira do
Hospital, em honra de Sant’Ana;
– nos anos 80, Cid Teles teria escrito e
participado na representação de uma peça de teatro, intitulada “A ceia dos
cardeais”, escrita por Júlio Dantas (1876-
-1962), em 1902. Do elenco fizeram também parte, entre outros, António Simões Saraiva e José Vieira;
-1962), em 1902. Do elenco fizeram também parte, entre outros, António Simões Saraiva e José Vieira;
– em Outubro de 1994, Cid Teles foi
distinguido pela Câmara Municipal com a medalha de prata “mérito municipal”;
– em Junho de 1997, participou, enquanto
declamador, no espectáculo de variedades promovido pela Liga Portuguesa contra
o Cancro, na Casa da Cultura de Oliveira do Hospital;
– em Março de 1999, foi homenageado na
Casa da Cultura de Oliveira do Hospital;
–
em Junho de 1999, participou na apresentação do mais recente romance (A toutinegra do moinho) da escritora
Ermelinda da Silva (1922-), natural de Vila Franca da Beira;
– em Setembro de 2006, foi publicada a
obra Tendo Embora um Triste Fado.
Este volume reúne sete livros: As Minhas
Quadras (1932), Sombras (1934), Sou Como Sou (1945), Chuva de Estrelas (1947), Canta Cigarra, Canta! (1999), Farrapos da Minha Vida (2002) e, por
fim, Quadras Soltas (inéditas,
escritas entre 2003 e 2004).
Atendendo aos múltiplos exemplos já
mencionados, pode concluir-se que o periódico A Comarca de Arganil divulgou, com alguma regularidade, textos
sobre Manuel Cid Teles, praticamente logo a partir do seu nascimento literário
e, como constatei ao longo das minhas pesquisas, o mesmo sucedeu com outros
periódicos locais e nacionais (por exemplo, A
Voz, Diário de Notícias ou A Gazeta de Coimbra). Assim, apesar de
um dia haver confessado ter “Um Triste Fado”, Cid Teles foi um poeta que viu
reconhecido o seu valor literário por uma franja significativa dos Homens do
seu tempo, ao contrário, importará ressalvá-lo, do que acontece(u) com muitos
autores depois consagrados pela posteridade. E neste âmbito, terei de assinalar
o meritório esforço desenvolvido pelas edilidades locais (Junta de Freguesia e
Câmara Municipal de Oliveira do Hospital, entre outras) para divulgar o
trabalho do autor.
No próximo artigo, ensaiarei uma
visão de conjunto a respeito de Cid Teles. Até lá, se ainda não fez, amigo
leitor, não deixe de ler a obra do poeta e de (re)visitar alguns dos espaços
oliveirenses que o poeta privilegiou nas suas deambulações diárias, ao longo
de, aproximadamente, 60 anos.
Fotografias oferecidas pelo poeta ao
Museu António Simões Saraiva, da Bobadela: à esquerda, com barba, Manuel
Madeira Teles; ao centro, em cima, Maria Rita Teles Castelo Branco; ao centro,
em baixo, tia “Nini” (como era carinhosamente tratada a herdeira da “Casa dos
Espíritos”, também já designada “Casa do Pinheiro dos Abraços”); do lado
direito, com bigode, José Madeira Teles, tio de Cid Teles (apenas foi possível
identificar estas personalidades graças à inexcedível ajuda de Maria de Fátima
Cid Teles, de Oliveira do Hospital, a quem deixo uma especial palavra de
agradecimento).
Renato
Nunes (renato80rd8918@gmail.com)
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