Após ver a foto do Henrique na sua página do facebook da professora Lucinda Maria, imediatamente me cativou ler o texto. O Henrique era conhecido por todos em Oliveira do Hospital, mas infelizmente não teve a sorte de nascer numa família que o fizesse crescer como merecia. Ler o o texto trouxe-me súbitas saudades do Henrique.
Passo a citar:
" Era assim o Henrique, eterno menino de fala cantante… franzino…olhar vivo. Nascido no seio de uma família humilde e marcada pelo álcool, que ia sobrevivendo com algumas dificuldades financeiras. Lembro bem a casa rasteirinha onde viviam, lá para os lados da fonte do Rebolo. Vários rapazes e uma irmã, a mais nova.
O Henrique não foi à escola… Tinha algumas dificuldades cognitivas, assim como outro dos irmãos, precisamente o que viveu com ele até ao fim. Penso que os outros ainda são todos vivos… casaram e têm a sua vida normal.
Ele calcorreava as ruas da nossa terra… e ajudava uns e outros… fazia vários trabalhos. Sempre prestativo… sempre simpático… sempre humilde. Uma altura, ajudou numa peixaria. Com uma caixa de peixe à cabeça, apregoava:
- Peixe fêco! Peixe fêco!
E a sua voz fazia-se ouvir como uma canção infantil…ingénua e genuína, como ele próprio. Havia quem pretendesse “gozar” à custa dele. Penso que esses intentos não eram bem sucedidos. A sua perspicácia segredava-lhe sempre uma resposta pronta que desarmava os “espertinhos”. Podia contar muitos episódios que atestam bem esta sua característica. Vou contar apenas um.
Recordo-me do Henrique. Lembro-me de na década de 90 o ver a vender cautelas nas ruas de Oliveira do Hospital. Via-o como uma pessoa pobre com uma deficiência mas humilde e sempre pronto a ajudar.
Vou citar um texto que Lucinda Maria, professora aposentada do 1ºciclo, mora no concelho de Oliveira do Hospital. A professora Lucinda dignou.se a escrever um texto sobre o Henrique que me ajudou a conhece-lo e provocou em mim subitas saudades do Henrique.
Passo a citar o texto de Lucinda Maria
"Certa manhã, saía o Henrique da casa comercial Júlio dos Santos, todo contente e sempre de ar afável. À porta, cruzou-se com um senhor engenheiro cá da cidade, pessoa bem conceituada, que entrava no mesmo estabelecimento. Ao vê-lo, o nosso amigo estendeu a mão para cumprimentá-lo. Ele correspondeu, mas resolveu dizer:
- Estou cheio de sorte!
Meio admirado, o Henrique perguntou:
- Então poquê, senhole engenheilo?
- Porque ainda é cedo e é a primeira mão de porco que aperto hoje!
Prontamente, sem pensar duas vezes, ajeitando o seu boné de pala quase a tapar-lhe os olhitos vivos, o nosso Henrique respondeu:
- Então, eu ainda estou com mais sote, poque já é a segunda!
Perante isto, o que dizer? O que pensar? Como terá ficado o senhor engenheiro? Desconcertado, certamente.
Era assim o eterno menino. A mim, chamava-me “senhola pofessola” e, muitas vezes, tentou vender-me cautelas, com aquela sua lógica de que “Há horas felizes!”. É verdade, mas, infelizmente, não gosto de jogo. Penso que nunca lhe comprei nenhuma, mas também nunca fui sarcástica com ele… sempre o estimei… como merecia, de resto.
Um dia, partiu… sem que déssemos por isso… sem ele próprio dar por isso. A sua voz cantante deixou de ecoar nas ruas da nossa terra. Ou será que não? No fundo, ele ainda está aqui.
Lucinda Maria"
Sem comentários:
Enviar um comentário