A invasão do Capitólio nos Estados Unidos da América não ameaça apenas a democracia americana. Tal como a Covid 19, também os acontecimentos da semana passada, na casa de uma das supostas mais consolidadas democracias do mundo, pode trazer consequências a nível global, com contágios difíceis de conter em algumas repúblicas inspiradas na Constituição Americana de 1787. Em muitos países, que conviveram com a falta de liberdade e que a recuperaram à custa de tantos sacrifícios, repressões e mortes provocadas por guerras impiedosas, já poucos se lembram do passado bem recente.
Com acenos de promessas vãs, já por demais conhecidas, mais “Trumps” espreitam novas oportunidades. Os seus seguidores, que, impunemente, vêm já mostrando há algumas décadas os seus ódios mais ou menos contidos, têm agora mais motivos para mostrar as suas garras. A tentativa torpe de anulação da decisão legítima da maioria do povo americano foi um mau exemplo, que poderá contagiar muitos cidadãos ingénuos espalhados por todo o mundo. E dentro do próprio país é também muito fácil de acontecer.
A civilização americana tem dado bons exemplos no cumprimento dos princípios consagrados na sua constituição. Porém, nas relações internacionais, frequentemente parece comportar-se com demasiada sobranceria e até mesmo arrogância, querendo impor a sua vontade à custa da ostentação do seu poder económico e, em alguns casos, apoiado na força das suas armas. O seu povo é globalmente generoso, mas a ignorância tem alastrado a um ritmo vertiginoso.
Se os protagonistas desse acontecimento surreal, passado há dias na casa da democracia americana, não forem exemplarmente vacinados (leia-se punidos), o vírus, agora made in USA, poderá causar muitos estragos intramuros e nas frágeis repúblicas onde muitos lobos estão travestidos de inocentes cordeirinhos.
Para evitar a propagação dessa peçonha, cabe aos norte-americanos contê-la e erradicá-la dentro das suas fronteiras, sob pena de se deixarem desacreditar ainda mais, no que respeita à tentativa de impor a nível global a paz que não conseguiram fazer triunfar no seu próprio país.
Não quero ser pessimista e muito menos fazer futurologia, mas temo que, se os cidadãos dos Estados Unidos da América, país que admiro bastante, não conseguirem reconciliar-se rapidamente, e curarem as suas feridas sem as deixar infetar e as deixarem propagar, este império que já dominou o mundo, possa ter os dias contados.
Quem conhece o passado histórico sabe muito bem que não há impérios eternos
Antenor Santos
3 comentários:
Seja bem-vindo, Antenor! Obrigado pelas palavras sensatas e realistas que nos deixa. Abraço.
Acabo de ver o último episódio sobre a Segunda Guerra Mundial. As imagens que passaram nos seis episódios deveriam ser matéria de uma disciplina nos programas escolares, em todos os países livres. Algumas das imagens, confesso, fizeram cair-me algumas lágrimas. Mesmo sabendo que elas são verdadeiras, agora que a série acabou, quase me faz pensar, pelo que elas têm de surreal, que afinal tudo não se passou de num filme de ficção. Tudo o que se escrever para tentar evitar que se repita o que se passou, é muito pouco.
A crise económica, social assusta-me. Sinto medo do futuro. A evolução tecnológica e a facilidade de comunicação digital quando é mal usada dá azo a discursos de ódio que caracteriza a sociedade em que vivemos.
As ideologias extremistas vigoram com cada vez mais força numa sociedade que sinto que vê a politica e a História de forma muito superficial.
Se hoje vivemos em liberdade isso é reflexo do esforço das gerações que me antecederam.
Infelizmente as gerações mais novas não dão valor a isso. Entristece-me muito.
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