quinta-feira, 2 de abril de 2020

A História do moliço

Os momentos para adormecer o Duarte depois de almoço  são cada vez mais difíceis. A adaptação de uma criança de 3 anos à quarentena tem sido boa mas devido à quantidade de horas que ele passa dentro de casa é difícil que ele gaste energia como dantes. Nós pais temos a sorte de estar ambos em casa e engendramos tudo para o manter ativo sem ecrãs, mas por vezes com a quantidade de tarefas que temos para fazer não lhe conseguimos dar a atenção desejada e recorremos ao telemóvel para o manter quieto e entretido. Ambos sabemos que não é a estratégia mais correta, e observamos que ele por ser mais estimulado é mais difícil de acalmar para adormecer tanto na hora da sesta como de noite.

Antes nós passávamos-lhe um episódio da Heide ou do Bombeiro Sam e ele acalmava e acabava por adormecer, agora apercebo-me que é necessário mais estratégias e por vezes é preciso  zangar-mo-nos com ele para sossegar e adormecer. Hoje não parava de trautear as músicas daqueles vídeos estúpidos que ele viu no telemóvel.
Ele quando adormece com o pai pergunta sempre pela mãe mas a partir de ontem a pergunta recorrente foi se a mãe estava numa reunião em vez das normais: está a trabalhar no computador ou a arrumar a cozinha.

Após uns breves minutos a pensar como o podia aclamar inventei a história do moliço a partir daquilo que tinha visto da minha visita ao museu do mar em Ílhavo e de algumas pesquisas na Internet.

História do moliço  

Indiquei-lhe que  os moliceiros são barcos que apanham o moliço. O moliço é apanhado na ria de Aveiro e serve para fertilizar os solos ou como eu lhe disse para tornar as terras mais felizes. Para fixar a atenção dele perguntei-lhe se um barco andava no mar ou na terra, e ele após uns breves instantes lá me disse que  andava sobre a água. Aos pouco foi conseguindo que ele deixasse de trautear a música estranha dos vídeos.

Duarte há pessoas que trabalham na apanha do moliço, chamam-se moliceiros. Essas pessoas residentes em Aveiro estavam dependentes da chuva do Inverno para que houvesse muito moliço para que este tornasse as terras muito felizes. A abundâncias de alimentos hortícolas e frutícolas era frequente e por isso as pessoas perderam o hábito de poupar e comiam em abundância o ano todo. 

Num certo ano, consequência de um Inverno muito seco o moliço foi escasso, e as terras estavam pouco férteis ou tristes dando origem a uma forme generalizada.  A população habituada à abundância ressentiu-se ,pois não se precaveu para uma eventualidade dessas. Com o passar do tempo as pessoas com mais recursos foram percebendo as dificuldades dos mais desfavorecidos ou mais expostos à fome ofereceram um pouco do que tinham para que aquelas pessoas pudessem ter um verão mais acolhedor e com menos dificuldades.

A solidariedade e a necessidade de poupar de pensar mais a longo prazo foi algo pensado e implementado com mais frequência a partir daquele verão quente, que não lhes deu os alimentos a que estavam acostumados.



Com esta história inventada pela minha imaginação conseguir acalmar o Duarte. O que achei mais giro foi ele após entrar na história ter colocado todos os bonecos sentados a ouvir a história.

6 comentários:

Helena Brantuas disse...

A história é linda! Espero que tenhas tido uma linguagem mais simples.
se fosse teu tinha adormecido umas quantas vezes a contar a história, como costume, mas ele acordava-me e dizia " conta avó a história".
Avó Paulita

Tiago Sousa disse...

Sim adaptei adaptei o tipo de linguagem mas não o consegui fazer a transcrição tal como contei para o texto. Pode ser que com a prática consiga.
Por exemplo
Em vez de terras férteis disse terras felizes ou muito felizes ou terras inférteis terras tristes.
Frutícolas substitui por nomes de frutas e hortícolas por nomes de hortaliças.Tentei salientar a importância de poupar água pois ela sem que nós estejamos à espera pode faltar.
Mãe obrigado pelo teu comentário

Marina Lopes disse...

Sim Tiago agora é natural que " lutem mais contra o soninho" pois o desgaste de energia durante o dia é bem menor! Foi uma alteração de rotina muito grande para os mais pequeninos estamos todos aos pouquinhos a adaptarmo-nos
Gostei muito da história

Tiago Sousa disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Tiago Sousa disse...

O Duarte está mais impaciente pois não percebe porque não pode sair de casa. Está sempre a pedir para ir à casa da avó mas nós para protegermos os avós e uma vez que os dois estamos em casa optamos em não ir lá nesta fase. Ele quando sai é aqui à volta do prédio, saídas muito rápidas. Uma criança habituada à rua tanto na creche como em casa da avó se ressinta de agora ver a sua liberdade limitada. Está mais rabugento e desconfiado. Isto refere-se no adormecer que é mais difícil e é preciso mais paciência. Obrigado pela sua apreciação à minha história, eu contei ao Duarte de uma forma mais simples dando exemplos de frutas, diferentes hortaliças e tentei realçar a importância de poupar água.

Renato Nunes disse...

Parabéns, Tiago Sousa! Depois é só reunir tudo, associar-lhe as magníficas ilustrações feitas pela tua mãe e teremos um livro fantástico. Continua!