Neste período de quarentena temos ouvido com particular
atenção o Duarte, tanto porque ele não se cala como porque ele de dia para dia
evolui e expressa-se de uma forma mais fluente.
Já há algum tempo que digo que tenho de fazer a evolução da
linguagem no Duarte mas arranjo sempre qualquer coisa para fazer e essa tarefa tem
sido continuamente adiada.
Vou enunciar lembranças dispersas pois não tenho um fio
condutor claro na minha cabeça.
Vou começar com o enorme gosto do Duarte por comida: O Duarte foi habituado aos ovos
caseiros da avó materna, avó Cidália ou como ele diz a avó “Lái”. Desde muito
novo para ele não estar sempre a pedir ovos dizíamos que o carteiro naquele dia
não tinha trazido um ovo ou que as pititas da avó “Lai” não tinham mandado ovos.
A partir daí as perguntas do Duarte foram “ O Carteiro não trouxe ovo” ou “as
pititas da avó lai não mandaram ovo”. O Duarte é um grande comilão e agora em
que ele está em casa dias a fio perde a noção dos horários e quando não está a
brincar está a perguntar à “mãe o comer já está pronto”.
O Duarte tal como a maior parte das crianças a partir do
momento que consegue fazer algo de novo usa e abusa dessa nova conquista na sua
evolução como criança. Aconteceu isso no andar, onde passou do gatinhar ao
correr sem passar pelo andar. É arrepiante ver a velocidade daquelas pernas
pequenitas a correrem e o ar de felicidade estampado no rosto daquela criança. Neste
período de quarentena nos seus passeios curtos à volta do prédio quantas vezes
o pai ou a mãe se vêem-se obrigados a correr a sério, pois quando
ele sai porta fora corre tanto que não é nada fácil agarrá-lo, a mãe que o diga.
As perguntas do Duarte no período de quarentena: O Duarte
não percebe bem o que se passa e faz inúmeras perguntas. Mais no início quando
acordava perguntava “amanhã a avó Paulita (avó paterna) não me vem buscar para irmos à escola”
uma rotina frequente neste ano letivo que foi abruptamente interrompida, sem que
ele percebesse porquê. A forma de nós contornarmos a situação é dizer-lhe que a escola está muito
suja e as professoras Fátima e Lurdes estão a limpá-la. Outra questão que ele
faz é “porque é que as pessoas têm um papel na boca” e nós tentamos explicar-lhe dizendo que é para evitar que um bicho entre no corpo delas.
Uma saída no 2º dia de quarentena: A mãe teve duas reuniões
em videoconferência e o Duarte foi com o pai dar uma volta de carro. Pensei em
lugares onde houvesse o menor número de pessoas possível e desci até ao rio
alva pois lembrei-me que o Duarte adora ver o rio. Fui ver o rio e subi a
encosta em direção a São Romão. À medida que ia subindo apercebi-me que ele
estava a adormecer e eu não queria isso e decidi parar o
carro a meio da encosta e comentei com ele a paisagem. Disse-lhe que lá ao
fundo no cimo da encosta fica a casa da Heide e um pouco mais a baixo junto à
igreja fica a casa da avó e mãe do Pedro, tudo tal como na história real. Lá
consegui que ele espevitasse e subi em direção a um fontanário parei e disse-lhe
que era ali que as cabras da Hide bebiam água após virem dos prados. O Duarte
pôs a mão na água que saía da fonte e disse que estava fria e eu realcei que
nas montanhas da Heide faz muito frio e por isso a água é tão fria. Nestas
idades é maravilhosa a capacidade que as crianças têm de absorver tudo aquilo
que vêm e ouvem. Continuámos viagem e um pouco mais em frente parámos junto a
uma ex escola da mãe. Nós já lhe tínhamos dito que a escola atual da mãe fica
junto às montanhas, apesar de não ser esta(São Romão) fez-se a ligação com a história da Heide para tudo fazer sentido. Realcei o facto de a escola estar fechada e de as professoras estarem todas lá
dentro a limpar a escola. Após a
passagem pela escola da mãe o Duarte pediu-me para ir ver o campo de ténis e assim o fiz levei-o a ver tanto ao campos de ténis como ao de futebol.A viagem prossegui com a ideia de ainda irmos à ponte de madeira da história da Heidei. O Duarte não se esqueceu e salientou por diversas vezes no regresso a Oliveira do Hospital que tínhamos ainda que ir à ponte de madeira. Lembrei-me de ir ao parque do Mandanelho, já em Oliveira do Hospital para ele ver uma ponte de madeira mas com o
adiantado da hora e a fome a apertar acabou por se esquecer e fomos diretos a
casa.
5 comentários:
Parabéns, Tiago Sousa! Durante alguns instantes, lembrei-me de Piaget, quando estava a ler o teu testemunho. É fascinante acompanhar a evolução de uma criança, mas ao mesmo tempo trata-se de um desafio enorme. Muito obrigado! Força e continua a escrever!
Obrigado Renato Nunes são textos que me surgem como já te disse espontaneamente como forma de expressar momentos que caso isto não fosse feito seriam esquecidos.
Obrigado pelo teu comentário. É um incentivo extra para prosseguir com o blogue
Aproveitem bem este estádio pré-operatório da imaginação e do simbolismo!
Sem dúvida Lúcia. Este momento está a servir para ver e acompanhar o crescimento e evolução do Duarte que de outra forma seria complicado. Há que ver a coisa pelo lado positivo.
O tempo que temos para dar aos nossos filhos é sempre pouco. Eles crescem mais rápido do que queríamos por isso há que tirar partido de todos os momentos que passamos com eles. Uma criança é a maior escola da vida.
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