sábado, 4 de abril de 2020

A magia da linguagem na idade dos porquês.


Neste período de quarentena temos ouvido com particular atenção o Duarte, tanto porque ele não se cala como porque ele de dia para dia evolui e expressa-se de uma forma mais fluente.

Já há algum tempo que digo que tenho de fazer a evolução da linguagem no Duarte mas arranjo sempre qualquer coisa para fazer e essa tarefa tem sido continuamente adiada.

Vou enunciar lembranças dispersas pois não tenho um fio condutor claro na minha cabeça.

Vou começar com o enorme gosto do Duarte por comida: O Duarte foi habituado aos ovos caseiros da avó materna, avó Cidália ou como ele diz a avó “Lái”. Desde muito novo para ele não estar sempre a pedir ovos dizíamos que o carteiro naquele dia não tinha trazido um ovo ou que as pititas da avó “Lai” não tinham mandado ovos. A partir daí as perguntas do Duarte foram “ O Carteiro não trouxe ovo” ou “as pititas da avó lai não mandaram ovo”. O Duarte é um grande comilão e agora em que ele está em casa dias a fio perde a noção dos horários e quando não está a brincar está a perguntar à “mãe o comer já está pronto”.

O Duarte tal como a maior parte das crianças a partir do momento que consegue fazer algo de novo usa e abusa dessa nova conquista na sua evolução como criança. Aconteceu isso no andar, onde passou do gatinhar ao correr sem passar pelo andar. É arrepiante ver a velocidade daquelas pernas pequenitas a correrem e o ar de felicidade  estampado no rosto daquela criança. Neste período de quarentena nos seus passeios curtos à volta do prédio quantas vezes o pai ou a mãe se vêem-se obrigados a correr a sério, pois quando ele sai porta fora corre tanto que não é nada fácil agarrá-lo, a mãe que o diga.

As perguntas do Duarte no período de quarentena: O Duarte não percebe bem o que se passa e faz inúmeras perguntas. Mais no início quando acordava perguntava “amanhã a avó Paulita (avó paterna) não me vem buscar para irmos à escola” uma rotina frequente neste ano letivo que foi abruptamente interrompida, sem que ele percebesse porquê. A forma de nós contornarmos a situação é dizer-lhe que a escola está muito suja e as professoras Fátima e Lurdes estão a limpá-la. Outra questão que ele faz é “porque é que as pessoas têm um papel na boca” e nós tentamos explicar-lhe dizendo que é para evitar que um bicho entre no corpo delas.

Uma saída no 2º dia de quarentena: A mãe teve duas reuniões em videoconferência e o Duarte foi com o pai dar uma volta de carro. Pensei em lugares onde houvesse o menor número de pessoas possível e desci até ao rio alva pois lembrei-me que o Duarte adora ver o rio. Fui ver o rio e subi a encosta em direção a São Romão. À medida que ia subindo apercebi-me que ele estava a adormecer e eu não queria isso e decidi parar o carro a meio da encosta e comentei com ele a paisagem. Disse-lhe que lá ao fundo no cimo da encosta fica a casa da Heide e um pouco mais a baixo junto à igreja fica a casa da avó e mãe do Pedro, tudo tal como na história real. Lá consegui que ele espevitasse e subi em direção a um fontanário parei e disse-lhe que era ali que as cabras da Hide bebiam água após virem dos prados. O Duarte pôs a mão na água que saía da fonte e disse que estava fria e eu realcei que nas montanhas da Heide faz muito frio e por isso a água é tão fria. Nestas idades é maravilhosa a capacidade que as crianças têm de absorver tudo aquilo que vêm e ouvem. Continuámos viagem e um pouco mais em frente parámos junto a uma ex escola da mãe. Nós já lhe tínhamos dito que a escola atual da mãe fica junto às montanhas, apesar de não ser esta(São Romão) fez-se a ligação com a história da Heide para tudo fazer sentido. Realcei o facto de a escola estar fechada e de as professoras estarem todas lá dentro a limpar a escola.  Após a passagem pela escola da mãe o Duarte pediu-me para ir ver o campo de ténis e assim o fiz levei-o a ver tanto ao campos de ténis como ao de futebol.A viagem prossegui com a ideia de ainda irmos à ponte de madeira da história da Heidei. O Duarte não se esqueceu e salientou por diversas vezes no regresso a Oliveira do Hospital que tínhamos ainda que ir à ponte de madeira. Lembrei-me de ir ao parque do Mandanelho,  já em Oliveira do Hospital para ele ver uma ponte de madeira mas com o adiantado da hora e a fome a apertar acabou por se esquecer e fomos diretos a casa.

5 comentários:

Renato Nunes disse...

Parabéns, Tiago Sousa! Durante alguns instantes, lembrei-me de Piaget, quando estava a ler o teu testemunho. É fascinante acompanhar a evolução de uma criança, mas ao mesmo tempo trata-se de um desafio enorme. Muito obrigado! Força e continua a escrever!

Tiago Sousa disse...

Obrigado Renato Nunes são textos que me surgem como já te disse espontaneamente como forma de expressar momentos que caso isto não fosse feito seriam esquecidos.

Obrigado pelo teu comentário. É um incentivo extra para prosseguir com o blogue

Ana Lúcia Cruz disse...

Aproveitem bem este estádio pré-operatório da imaginação e do simbolismo!

Tiago Sousa disse...

Sem dúvida Lúcia. Este momento está a servir para ver e acompanhar o crescimento e evolução do Duarte que de outra forma seria complicado. Há que ver a coisa pelo lado positivo.

Maria Angélica Carvalhão disse...

O tempo que temos para dar aos nossos filhos é sempre pouco. Eles crescem mais rápido do que queríamos por isso há que tirar partido de todos os momentos que passamos com eles. Uma criança é a maior escola da vida.