Na transição entre a peneplanície alentejana e a costa vicentina há um conjunto sinuoso de estradas que escondem um Portugal por vezes esquecido. Para sinalizar a passagem por um lugar, considero que tão ou mais importante que as paisagens são placas(1) que demonstram a passagem do tempo e a localização geográfica.
1-As placas que sinalizam a distância ao locais, localizadas em São Martinho das Amoreiras.
A insuficiência de horários conduziu a uma necessidade de o completar, dando aulas numa localidade que dá pelo nome Sabóia, onde leccionei apenas seis horas lectivas por semana. Percorri as sinuosas vias de acesso, calcorreando locais e especificidades que me irão ficar sempre na memória.
As cegonhas que construíam os ninhos ao longo das estradas junto aos locais onde haviam pontos de água, as galinhas, porcos pretos e gado bovino, habituados a circular sem restrições nos montes, caminhando por vezes junto à estrada. Lembranças que ao longo do tempo se iam tornando mais banais, no entanto nunca perderem a sua beleza e singularidade.(2)
2- Cegonhas e Gado bovino que pastoreiam extensivamente
Durante o mês de Outubro, em resultado de uma simulação realizada pelo GPS percorri um caminho alternativo onde o alcatrão aparecia espontaneamente. Tenho a perfeita noção da dureza daquele troço de poucos quilómetros que pareciam uma eternidade. (ver imagem 3 percurso verde). A primeira viagem coincidiu com uma tenebrosa manhã de nevoeiro onde observei um coelho que insistiu em permanecer no meio da estrada ignorando por completo a presença de um veículo estranho por aquelas paragens. Vi-me na consequente necessidade de tornear por momentos a minha rota para não contrapor a rotina matinal de um corpo, onde afinal, eu é que era estranho.
Após as primeiras semanas observei a existência de um caminho mais longo, mas sem dúvida mais confortável e rápido (ver mapa percurso a vermelho).(3)
3- O trajecto Ourique- Sabóia
Durante o percurso os povoados apareciam espaçadamente, sendo necessário calcorrear vários quilómetros para observar pessoas, ou usufruir de rede de telemóvel.
A beleza do percurso dependia da disposição que me acolhera no momento, no entanto, haviam sempre coisas novas que se observavam a cada passagem, tais como o transbordar dos ribeiros durante o Inveno, a diversidade de castanhos do Outono, o florir da Primavera e o amarelecer do Verão Todas estas vicissitudes tornavam cada viagem diferente.
A beleza do percurso dependia da disposição que me acolhera no momento, no entanto, haviam sempre coisas novas que se observavam a cada passagem, tais como o transbordar dos ribeiros durante o Inveno, a diversidade de castanhos do Outono, o florir da Primavera e o amarelecer do Verão Todas estas vicissitudes tornavam cada viagem diferente.
No percurso de Ourique para Sabóia as particularidades de cada local foram crescendo à medida que fui tendo um maior conhecimento dos dispersos povoados:
Saindo de Ourique a chegada a São Martinho das Amoreiras, simbolizava o primeiro contacto com um Alentejo, abandonado, menos conhecido, onde a ligação com Portimão os aproxima da cidade mais próxima, que em muitos casos se contrapõe a Beja, sede de distrito que dista a cerca de hora e meia, percorrida em estradas que por vezes não apresentam as melhores condições.(1)
A partir de São Martinho das Amoreiras a instabilidade do relevo propícia uma maior sinuosidade havendo um constante “subir e descer” que termina na povoação de Luzianes, localidade que nasceu e se expandiu devido à linha de caminho de ferro que foi construída em 1884 entre Amoreiras Gare e Sabóia.(4)
Passando Luzianes o caminho piora, as obras avolumam-se na ténue esperança de conter as vertentes abruptas que insistem em contrariar a vontade humana, impedindo a normal circulação automóvel.
Após cerca de 10kms chegamos a Santa Clara à Velha, uma aldeia que cresceu em torno do rio mira .Na década de 60 em pleno Estado Novo foi construída uma barragem com o intuito de controlar o caudal do rio que transbordava durante o Inverno, propiciando ainda a implementação de uma agricultura de regadio.(5)
Após Santa Clara à Velha prosseguimos cerca de 5 kms, chegamos finalmente a Sabóia. A viagem tem a duração de cerca de 50minutos, percorrendo uma distância de 45kms. Vicissitudes do interior do país.(6).
6. Sabóia em 1940, um povoado que não dista muito da realidade. Fonte Quaresma, António; Terras do Médio Mira: Notas Históricas, Odemira, 2011.
4. Entrada de Luzianes
Passando Luzianes o caminho piora, as obras avolumam-se na ténue esperança de conter as vertentes abruptas que insistem em contrariar a vontade humana, impedindo a normal circulação automóvel.
Após cerca de 10kms chegamos a Santa Clara à Velha, uma aldeia que cresceu em torno do rio mira .Na década de 60 em pleno Estado Novo foi construída uma barragem com o intuito de controlar o caudal do rio que transbordava durante o Inverno, propiciando ainda a implementação de uma agricultura de regadio.(5)
5- Cheias do rio mira (anos 60)- Fonte Quaresma, António; Terras do Médio Mira: Notas Históricas, Odemira, 2011
Após Santa Clara à Velha prosseguimos cerca de 5 kms, chegamos finalmente a Sabóia. A viagem tem a duração de cerca de 50minutos, percorrendo uma distância de 45kms. Vicissitudes do interior do país.(6).
6. Sabóia em 1940, um povoado que não dista muito da realidade. Fonte Quaresma, António; Terras do Médio Mira: Notas Históricas, Odemira, 2011.
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