sexta-feira, 12 de dezembro de 2025

O poder da palavra

Não Sei Nada

"Conheço as palavras pelo dorso.

Outro, no meu lugar,

 diria que sou um domador de palavras.

 Mas só eu - eu e os meus irmãos - sei em que medida sou eu que sou domado por elas.

 A iniciativa pertence-lhes.

 São elas que conduzem o meu trenó sem chicote,

 nem rédeas, nem caminho determinado antes da grande aventura.

Sim, conheço as palavras.

 Tenho um vocabulário próprio.

 O que sofri, o que vim a saber com muito esforço fez inchar,

 rolar umas sobre as outras as palavras

. As palavras são seixos que rolo na boca antes de as soltar.

 São pesadas e caem.

 São o contrário dos pássaros, embora "pássaros" seja uma das palavras.

A minha vida passou para o dicionário que sou.

 A vida não interessa.

 Alguém que me procure tem que começar - e de se ficar - pelas palavras.

 Através das várias relações de vizinhança,

 entre elas estabelecidas no poema,

talvez venha a saber alguma coisa.

 Até não saber nada, como eu não sei."

 Ruy Belo

Encontrei este poema em prosa, por isso  a conversa para poesia não está correta. Mas conta a intenção.

Adorei este poema por falar na palavra e na espontaneidade com elas surgem quando a inspiração inala em nós e deixamos que as palavras fluam num texto. 

Diariamente tenho a ambição de conseguir soltar as palavras que tenho em mim e fazer um belo texto. Procuro inspiração embora muitas vezes não o consiga. Escrever exala em mim um prazer e uma tranquilidade natural.

A carta do Benfica

 O Duarte tem andado muito entusiasmado com o ténis. Gosta imenso dos treinos com o Luís. Ontem teve uma consulta com o pediatra Frederico e disse-lhe que o que gostava de ser quando fosse grande era tenista profissional. 

Ontem recebemos uma carta do Benfica relativa a assinatura do jornal. Ele todo entusiasmado associou a um possível pedido para um contato para ir jogar ténis para o Benfica. Leu a carta atentamente e percebeu que o seu desejo não se concretizara no entanto o entusiasmo por termos recebido uma carta do benfica não esmoreceu. O sonho comanda a vida. 

quinta-feira, 4 de dezembro de 2025

O Duarte ia fazer queixa à Câmara

 Estiveram a fazer uma obras ao pé do estacionamento de nossa casa e deixaram uns montes nos lugares de estacionamento que impedia que os carros lá estacionassem convenientemente.

O Duarte ontem disse que não viessem cá tirar os montes até ao Natal ele ia fazer queixa à câmara. 

Hoje vieram cá tirar os montes de terra, ao que o Duarte disse. Se calhar tiveram medo.

O Duarte quer ser famoso

 Hoje o Duarte disse que queria ser ao que eu interroguei porquê.

Ele respondeu que queria descobrir qualquer coisa mas que já não havia nada para descobrir. Já inventaram a lua.

Eu disse-lhe que há sempre descobertas novas a fazer. 

O Duarte respondeu vou inventar carros voadores ou então comida invisível.

O desejo de aprender continua vivo naquela cabecinha pequenina mas muito curiosa

segunda-feira, 1 de dezembro de 2025

A importância de um poema

Arte Poética

Escrever um poema

é como apanhar um peixe

com as mãos

nunca pesquei assim um peixe

mas posso falar assim

sei que nem tudo o que vem às mãos

é peixe

o peixe debate-se

tenta escapar-se

escapa-se

eu persisto

luto corpo a corpo

com o peixe

ou morremos os dois

ou nos salvamos os dois

tenho de estar atenta

tenho medo de não chegar ao fim

é uma questão de vida ou de morte

quando chego ao fim

descubro que precisei de apanhar o peixe

para me livrar do peixe

livro-me do peixe com o alívio

que não sei dizer

 

Adília Lopes, in 'Um Jogo Bastante Perigoso'

Ouvir o podcast "o poema ensina a cair" é uma terapia que recorro sempre que preciso de estar comigo próprio. Este poema recordar a luta que eu travei  para concluir um artigo cientifico para a pós graduação de Ensino Especial que estou a realizar.  Para mim era algo inatingível até eu começar a estruturar o artigo e rescreve-lo com base na informação lida. 

Este poema fala do peixe que eu não estava a conseguir agarrar com persistência e muito trabalho consegui agarra-lo e livrei-me com o alívio que não sei que dizer. 

Sinto que daqui para a frente muitos mais peixes terei que apanha-lo quando estiver realizado e crente de que fiz o melhor de mim. 

domingo, 2 de novembro de 2025

O jogo do monopólio

Ontem joguei monopólio com o Duarte, já não o fazia há muito tempo. Ainda me lembro quando a partir dos 5 anos comecei a jogar monopólio com o Duarte ainda lhe tinha de ler as frases da sorte ou da caixa da comunidade, ele aos pouco foi decorando os nomes dos jogadores (monopólio da seleção nacional), os números o Duarte desde muito cedo conseguiu identificar devido às muitas cadernetas que fomos preenchendo a partir dos 4, 5 anos de idade. Aos poucos foi aprendendo a fazer os trocos. Passávamos ali largas horas a comprar e a vender jogadores e aprender os números, a fazer trocos e a ler, inicialmente só a partir da memorização, mas à medida que foi entrando na escola primária foi aprendendo devagar a descodificar as letras. Desde cedo se percebeu o talento para os números, cálculo mental. Tudo com o monopólio. Ontem jogámos e o Duarte já dominou todas as regras do monopólio. Pela primeira vez jogámos o monopólio incluído dentro do escalão etário definido pelo jogo + de oito anos. O Duarte desta vez ao contrário do que acontecia com 4, 5, 6 anos, 7 anos, demonstrou maior impaciência e incapacidade de estar quieto, reflexo de uma idade onde os estímulos são muitos e capacidade de concentração já não está tão apurada.


sexta-feira, 16 de maio de 2025

Ter a coragem de dizer o que sinto

 Olho à minha volta e vejo tempo livre. Estou de baixa há três meses e a mim parece-me que passaram três anos. Nunca pensei que ocupar o tempo fosse tão difícil. Saber lidar com uma depressão e com o cansaço extremo. Ter vergonha de o dizer aos outros. Lidar com a necessidade de desligar da minha atividade profissional mas não o conseguir. Observar apenas o lado negativo, constatar que não quero mais ser professor, pois já passei por muito, não consegui aliviar a pressão, cedi aos alunos e não fui claro na exposição dos conteúdos, deixei crescer um monstro e não consegui combate-lo. Fui vencido pelos pensamentos que entroncavam no pânico, na incapacidade de interagir e partilhar o que sinto, os meus problemas a minha ansiedade.

A minha vida sempre oscilou numa luta interior entre o eu mais irreverente e o mais introvertido. Entre o professor mais autoritário e o mais afável e desleixado. O querer fazer coisas e o aquele que se acomoda à letargia de cumprir o mínimo. Lembro-me das duas vezes que me envolvi em projetos fui incentivado por colegas professores. Também já tive casos que em que fui incapaz de responder a reptos e propostas de trabalho em conjunto por estar embrenhado em trabalho e ter medo de me envolver, pois não me sentia confortável. Nas minha oscilações de personalidade é muito difícil encontrar o bem estar, é difícil ter coragem para tomar de decisões e acreditar nelas. Já aconteceu mas por norma privilegio decisões fáceis de tomar, prefiro seguir caminhos onde sei à partida que tenho sucesso. 


sexta-feira, 4 de abril de 2025

Interpretação do poema "Comigo me desavim"

COMIGO ME DESAVIM

Comigo me desavim,

Sou posto em todo perigo;

Não posso viver comigo

Nem posso fugir de mim.


Com dor da gente fugia,

Antes que esta assi crecesse:

Agora já fugiria

De mim, se de mim pudesse.

Que meio espero ou que fim

Do vão trabalho que sigo,

Pois que trago a mim comigo

Tamanho imigo de mim?


Francisco Sá de Miranda (poeta fins do século XV)


Ouvi este poema no episódio com Djaimilia Pereira de Almeida do podcast o poema ensina a cair. Recorro a este podcast sempre que pretendo um equilíbrio. Não me canso de o ouvir. 


Neste poema me revejo., parafraseando Djaimilia " descreve os meus dias"


Citando a interpretação do poema por Djaimilia:


"Estamos destinados a nós, cada um está destinado a si próprio e isso às vezes é um aborrecimento. Por exemplo  Isto acontece quem esteja a falar de um jovem de 14 anos ou de um capitão nos últimos anos de vida é sempre Djaimila"


Ela quando se refere à sua prosa e à descrição das suas personagens refere-se sempre às vivências e às leituras dela própria 


Continuando a soletrar Djaimilia este refere ao fotógrafo Norte Americano Garry Winogrand que a certa altura diz "Estou preso a mim, por mais que eu fotografe nunca posso ter um ponto de vista que não seja o meu." Djamilia diz que literatura é a mesma coisa pois ela é todas as personagens. 


Isabel Marinho (apresentadora do podcast) começa por soletrar os últimos dois versos "pois trago a mim comigo; também inimigo de mim, isso dá-nos uma visão um bocadinho desalentada no sentido em que não há grande saída.


A Djaimilia sobre esses dois últimos versos refere o seguinte:


"Eu à vezes transporto essa inimiga e ao mesmo tempo é como ver-me ao espelho e parecer que não sou a pessoa mais triste do mundo. Escrever é uma das coisas que me ajuda nisso. Escrever ajuda-me a fazer as pazes comigo, a resignar-me e encontrar aquilo que me dá esperança, encontrar o lado mais bonito das coisas. É importante relevar as pessoas amigas que não querem saber disso, não querem saber da inimizade interna e que gostam de nós como nós somos e nos estão sempre a mostrar o que nós temos de mais bonito. 


A análise do poema continua com conclusão que todos nós temos um inimigo dentro de nós. 

Continuando a soletrar Djaimilia esta diz que às vezes ter um autoinimigo dá jeito pois este desafia-me e eu escrevo contra ele muitas vezes.

Isabel pega na ideia parafraseado no paragrafo anterior fazendo referência aos seus livros onde Djaimilia diz que se desconhece a si mesmo. De procurarmos esse caminho não o que é o conhecimento absoluto mas de nos permitirmos ir por lugares menos conhecidos nossos. Tem a ver com essa inimizade interna também?

Djamilia responde não sei se é mesmo isso, mas tem a ver com a importância de mantermos uma cerimónia connosco mesmos. Às vezes pelo menos a mim dá jeito. Quando estou a escrever dá-me jeito.Às vezes não há fuga possível. Quanto mais escrevo menos percebo quem sou. 

sexta-feira, 3 de janeiro de 2025

Boas memórias

 Gosto de aprender e acima de tudo ensinar. Recordo-me de um dia em Vendas Novas uma aluna do 7º ano ter perguntado com um sorriso. O que é que vamos dar a seguir? Eu respondi vão aprender, aprender é mesmo incrível. Quando eu consigo entrar nos conteúdos sentir-me confortável naquilo que vou dizer o sentimento de bem estar transparece nos alunos e vejo-os felizes. 

O sentimento de reconhecimento do meu trabalho senti-o na reunião final do ano letivo 2022/23, quando me despedi dos pais da minha direção de turma em Vendas Novas. Enquanto diretor de turma tenho muitas lacunas, não tenho perfil para ser diretor de turma. Acumulo problemas, sobre problemas e acabo por não os resolver. No entanto no meu segundo ano em Vendas Novas fiz de tudo para amenizar os meus erros. Trabalhei muito e foquei-me naquilo que interessa e no final do ano letivo quando dei por concluída a minha última reunião de pais, estranhamente vi os pais dirigirem-se a mim a agradecer o meu trabalho, fiquei comovido. Nunca me irei esquecer daquele gesto. Após a última reunião do meu Conselho de turma senti-me leve e com a sensação que cumpri bem as minhas funções. Sabe bem quando vemos o nosso trabalho recompensado. Nessa altura senti que o meu coração derreteu e quebrou-se o gelo que muitas vezes o assola