Uma escola deve ser um espaço embelezado essencialmente pelos alunos. Este ano letivo no Agrupamento de escolas de Vendas Novas, recordo-me perfeitamente nos primeiros dias andar "a partir pedra" de modo a que me apresentassem os cantos à casa. Assim do nada e com muita sorte deparei-me com uma pessoa muito simpática que me mostrou o Agrupamento de Escolas nº 1 de Vendas Novas. Subi as escadas e deparei-me com dois ou três magníficos quadros na parede da escola que me fizeram por momentos parar, deixar de a ouvir e contemplar a beleza daquelas obras de arte feita por alunos. Pedi-lhe desculpa em consequência de por breves instantes deixar de ouvir mas foi mais forte do que eu.
Gosto muito da minha escola pela forma bonita como está embelezada por dentro. Na minha opinião a arte permite aumentar a criatividade dos alunos.
Trabalhar na escola de hoje é um desafio diário, pois a heterogeneidade dos alunos é cada vez maior e temos de saber lidar como imensos alunos com profundas dificuldades. Por vezes não é fácil mas improvisamos à nossa maneira.
Lembro-me que o Duarte pergunta por muitas vezes o significado da morte à maneira dele. Nós tentamos sempre suavizar e dizer-lhe que está a dormir.
Para fazer a ligação entre a arte, as dificuldades de aprendizagens e o Duarte vou citar um excerto do II diário escrito por Fernando Alva designado "Pedra após pedra". O Renato Nunes autor do livro que criou o pseudónimo Fernando Alva enquanto narrador das suas peripécias enquanto professor de Ensino Especial nos Açores.
Cito a pág. 120 " ...Vivo em função dos outros. Falta-me um equilíbrio suficiente para me esquecer de mim.
Hoje, fui à escola, talvez a minha segunda casa, pedi a um menino com Perturbação do Espectro do Autismo que folheasse uma obra sobre Rembrant, pintor do século XVII, da designada escola realista. Ao ver "A descida da cruz", os olhos do jovem condoeram-se com o cenário dantesco. Depois de chocar com a mãe de Jesus deitada no chão, quis saber se estava morta e respondi-lhe que por certo havia apenas desmaiado. Senti-o mais tranquilo, mas os seus olhos rapidamente regressaram ao corpo martirizado de Messias, magro, barbudo e cabeludo....Que turbilhão de emoções terão atravessado a poderosa armadura daquele menino habituado a desviar o olhar?
Um colega de trabalho (não digo a profissão ressalve-se), vendo esta minha teimosia em expor "estes jovens" (para mim são apenas jovens) às mais nobres revelações artísticas, riu-.se sobranceiramente e jurou-me que não valia a pena.
Não sei se, na verdade, o faço mais por eles do que por mim próprio. Mas tenho a certeza absoluta que vale a pena. Quase todas as armaduras para não dizer todas têm um calcanhar de Aquiles e arte pode destruir muitas barreiras.
Van Gogh, Da Vinci, Rembrandt ... decisivamente, eu irei continuar."
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