O novo governo já mexe. As leituras em relação ao seu desempenho futuro estão evidentemente condicionadas pelos pontos de vista do observador porque as decisões tomadas reflectem opções decorrentes de uma certa forma de encarar o mundo. E a deste governo é inequivocamente neoliberal e anarcocapitalista. Não só pelo entusiasmo em relação à linha da chamada troika e FMI, aquilo que gosto de designar como FMI feliz, mas, sobretudo, pelos nomes escolhidos para incumbentes nos ministérios. Victor Gaspar é, como dizia uma jornalista do i, um falcão liberal. Hipnotizado por Friedman, sempre se entusiasmou com a rigidez monetarista que preside à arquitectura do Euro. Dito de outra forma, a política que pôs as economias numa camisa de forças é a mesma que supostamente nos vai tirar dela. Animador? A coisa só melhora: para a economia está mais um brilhante académico fundamentalista dos mercados que se propõe a liberalizar os despedimentos e a baixar em mais de 10% a Taxa Social Única, compensando com um aumento dos escalões intermédios do IVA. Quer isto dizer que para que os srs. empreendedores não paguem impostos, carrega-se o consumo que todos os cidadãos fazem. Virá aí um surto de iniciativa empreserial e de criação de emprego, certamente! (Ou uma quebra ainda mais acentuada no consumo...).
Na Saúde está um brilhante gestor (que fez um bom trabalho na máquina fiscal, é verdade) ligado aos grupos rentistas privados. Esteve nos seguros privados e agora vai para o Público. Só dá confiança, não é? (Há coisa de um ou dois anos uma representante do sector privado da saúde disse que negócio melhor que o da saúde só o das armas.)
Na Educação está um homem superiormente inteligente mas com uma visão mercantil do sector. Entendamo-nos: não me aflige a denúncia do facilitismo, do eduquês, do psicologismo e da Sociologia Educativa do Coitadinho do Aluno (vi esta expressão no blogue de Paulo Guinote, A Educação do Meu Umbigo), aflige-me a degradação notória da educação pública. Mas as propostas de Crato estão longe de me descansarem: aferição do desempenho de escolas e professores pelos resultados dos exames dos alunos (os rankings) com consequências ao nível do financiamento, o que abre (ou acentua) as portas a uma lógica concorrencial entre escolas públicas e destas com as privadas, eliminando a noção de serviço público. uma outra consequência possível desta linha é o financiamento público de um ensino para elites em meia dúzia de escolas; fim dos concursos de professores.
O tempo dirá se estamos perante uma mudança de paradigma social mas não faltam a este governo «jovens turcos» com gula de mercado e impecáveis credenciais de darwinismo social e encantamento pelo casino.
1 comentário:
Opinião muito bem sustentada, e elaborada que nos faz reflectir, um dos principais objectivos deste blogue.
Parabéns!!
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