sexta-feira, 12 de dezembro de 2025

O poder da palavra

Não Sei Nada

"Conheço as palavras pelo dorso.

Outro, no meu lugar,

 diria que sou um domador de palavras.

 Mas só eu - eu e os meus irmãos - sei em que medida sou eu que sou domado por elas.

 A iniciativa pertence-lhes.

 São elas que conduzem o meu trenó sem chicote,

 nem rédeas, nem caminho determinado antes da grande aventura.

Sim, conheço as palavras.

 Tenho um vocabulário próprio.

 O que sofri, o que vim a saber com muito esforço fez inchar,

 rolar umas sobre as outras as palavras

. As palavras são seixos que rolo na boca antes de as soltar.

 São pesadas e caem.

 São o contrário dos pássaros, embora "pássaros" seja uma das palavras.

A minha vida passou para o dicionário que sou.

 A vida não interessa.

 Alguém que me procure tem que começar - e de se ficar - pelas palavras.

 Através das várias relações de vizinhança,

 entre elas estabelecidas no poema,

talvez venha a saber alguma coisa.

 Até não saber nada, como eu não sei."

 Ruy Belo

Encontrei este poema em prosa, por isso  a conversa para poesia não está correta. Mas conta a intenção.

Adorei este poema por falar na palavra e na espontaneidade com elas surgem quando a inspiração inala em nós e deixamos que as palavras fluam num texto. 

Diariamente tenho a ambição de conseguir soltar as palavras que tenho em mim e fazer um belo texto. Procuro inspiração embora muitas vezes não o consiga. Escrever exala em mim um prazer e uma tranquilidade natural.

A carta do Benfica

 O Duarte tem andado muito entusiasmado com o ténis. Gosta imenso dos treinos com o Luís. Ontem teve uma consulta com o pediatra Frederico e disse-lhe que o que gostava de ser quando fosse grande era tenista profissional. 

Ontem recebemos uma carta do Benfica relativa a assinatura do jornal. Ele todo entusiasmado associou a um possível pedido para um contato para ir jogar ténis para o Benfica. Leu a carta atentamente e percebeu que o seu desejo não se concretizara no entanto o entusiasmo por termos recebido uma carta do benfica não esmoreceu. O sonho comanda a vida. 

quinta-feira, 4 de dezembro de 2025

O Duarte ia fazer queixa à Câmara

 Estiveram a fazer uma obras ao pé do estacionamento de nossa casa e deixaram uns montes nos lugares de estacionamento que impedia que os carros lá estacionassem convenientemente.

O Duarte ontem disse que não viessem cá tirar os montes até ao Natal ele ia fazer queixa à câmara. 

Hoje vieram cá tirar os montes de terra, ao que o Duarte disse. Se calhar tiveram medo.

O Duarte quer ser famoso

 Hoje o Duarte disse que queria ser ao que eu interroguei porquê.

Ele respondeu que queria descobrir qualquer coisa mas que já não havia nada para descobrir. Já inventaram a lua.

Eu disse-lhe que há sempre descobertas novas a fazer. 

O Duarte respondeu vou inventar carros voadores ou então comida invisível.

O desejo de aprender continua vivo naquela cabecinha pequenina mas muito curiosa

segunda-feira, 1 de dezembro de 2025

A importância de um poema

Arte Poética

Escrever um poema

é como apanhar um peixe

com as mãos

nunca pesquei assim um peixe

mas posso falar assim

sei que nem tudo o que vem às mãos

é peixe

o peixe debate-se

tenta escapar-se

escapa-se

eu persisto

luto corpo a corpo

com o peixe

ou morremos os dois

ou nos salvamos os dois

tenho de estar atenta

tenho medo de não chegar ao fim

é uma questão de vida ou de morte

quando chego ao fim

descubro que precisei de apanhar o peixe

para me livrar do peixe

livro-me do peixe com o alívio

que não sei dizer

 

Adília Lopes, in 'Um Jogo Bastante Perigoso'

Ouvir o podcast "o poema ensina a cair" é uma terapia que recorro sempre que preciso de estar comigo próprio. Este poema recordar a luta que eu travei  para concluir um artigo cientifico para a pós graduação de Ensino Especial que estou a realizar.  Para mim era algo inatingível até eu começar a estruturar o artigo e rescreve-lo com base na informação lida. 

Este poema fala do peixe que eu não estava a conseguir agarrar com persistência e muito trabalho consegui agarra-lo e livrei-me com o alívio que não sei que dizer. 

Sinto que daqui para a frente muitos mais peixes terei que apanha-lo quando estiver realizado e crente de que fiz o melhor de mim. 

domingo, 2 de novembro de 2025

O jogo do monopólio

Ontem joguei monopólio com o Duarte, já não o fazia há muito tempo. Ainda me lembro quando a partir dos 5 anos comecei a jogar monopólio com o Duarte ainda lhe tinha de ler as frases da sorte ou da caixa da comunidade, ele aos pouco foi decorando os nomes dos jogadores (monopólio da seleção nacional), os números o Duarte desde muito cedo conseguiu identificar devido às muitas cadernetas que fomos preenchendo a partir dos 4, 5 anos de idade. Aos poucos foi aprendendo a fazer os trocos. Passávamos ali largas horas a comprar e a vender jogadores e aprender os números, a fazer trocos e a ler, inicialmente só a partir da memorização, mas à medida que foi entrando na escola primária foi aprendendo devagar a descodificar as letras. Desde cedo se percebeu o talento para os números, cálculo mental. Tudo com o monopólio. Ontem jogámos e o Duarte já dominou todas as regras do monopólio. Pela primeira vez jogámos o monopólio incluído dentro do escalão etário definido pelo jogo + de oito anos. O Duarte desta vez ao contrário do que acontecia com 4, 5, 6 anos, 7 anos, demonstrou maior impaciência e incapacidade de estar quieto, reflexo de uma idade onde os estímulos são muitos e capacidade de concentração já não está tão apurada.


sexta-feira, 16 de maio de 2025

Ter a coragem de dizer o que sinto

 Olho à minha volta e vejo tempo livre. Estou de baixa há três meses e a mim parece-me que passaram três anos. Nunca pensei que ocupar o tempo fosse tão difícil. Saber lidar com uma depressão e com o cansaço extremo. Ter vergonha de o dizer aos outros. Lidar com a necessidade de desligar da minha atividade profissional mas não o conseguir. Observar apenas o lado negativo, constatar que não quero mais ser professor, pois já passei por muito, não consegui aliviar a pressão, cedi aos alunos e não fui claro na exposição dos conteúdos, deixei crescer um monstro e não consegui combate-lo. Fui vencido pelos pensamentos que entroncavam no pânico, na incapacidade de interagir e partilhar o que sinto, os meus problemas a minha ansiedade.

A minha vida sempre oscilou numa luta interior entre o eu mais irreverente e o mais introvertido. Entre o professor mais autoritário e o mais afável e desleixado. O querer fazer coisas e o aquele que se acomoda à letargia de cumprir o mínimo. Lembro-me das duas vezes que me envolvi em projetos fui incentivado por colegas professores. Também já tive casos que em que fui incapaz de responder a reptos e propostas de trabalho em conjunto por estar embrenhado em trabalho e ter medo de me envolver, pois não me sentia confortável. Nas minha oscilações de personalidade é muito difícil encontrar o bem estar, é difícil ter coragem para tomar de decisões e acreditar nelas. Já aconteceu mas por norma privilegio decisões fáceis de tomar, prefiro seguir caminhos onde sei à partida que tenho sucesso. 


sexta-feira, 4 de abril de 2025

Interpretação do poema "Comigo me desavim"

COMIGO ME DESAVIM

Comigo me desavim,

Sou posto em todo perigo;

Não posso viver comigo

Nem posso fugir de mim.


Com dor da gente fugia,

Antes que esta assi crecesse:

Agora já fugiria

De mim, se de mim pudesse.

Que meio espero ou que fim

Do vão trabalho que sigo,

Pois que trago a mim comigo

Tamanho imigo de mim?


Francisco Sá de Miranda (poeta fins do século XV)


Ouvi este poema no episódio com Djaimilia Pereira de Almeida do podcast o poema ensina a cair. Recorro a este podcast sempre que pretendo um equilíbrio. Não me canso de o ouvir. 


Neste poema me revejo., parafraseando Djaimilia " descreve os meus dias"


Citando a interpretação do poema por Djaimilia:


"Estamos destinados a nós, cada um está destinado a si próprio e isso às vezes é um aborrecimento. Por exemplo  Isto acontece quem esteja a falar de um jovem de 14 anos ou de um capitão nos últimos anos de vida é sempre Djaimila"


Ela quando se refere à sua prosa e à descrição das suas personagens refere-se sempre às vivências e às leituras dela própria 


Continuando a soletrar Djaimilia este refere ao fotógrafo Norte Americano Garry Winogrand que a certa altura diz "Estou preso a mim, por mais que eu fotografe nunca posso ter um ponto de vista que não seja o meu." Djamilia diz que literatura é a mesma coisa pois ela é todas as personagens. 


Isabel Marinho (apresentadora do podcast) começa por soletrar os últimos dois versos "pois trago a mim comigo; também inimigo de mim, isso dá-nos uma visão um bocadinho desalentada no sentido em que não há grande saída.


A Djaimilia sobre esses dois últimos versos refere o seguinte:


"Eu à vezes transporto essa inimiga e ao mesmo tempo é como ver-me ao espelho e parecer que não sou a pessoa mais triste do mundo. Escrever é uma das coisas que me ajuda nisso. Escrever ajuda-me a fazer as pazes comigo, a resignar-me e encontrar aquilo que me dá esperança, encontrar o lado mais bonito das coisas. É importante relevar as pessoas amigas que não querem saber disso, não querem saber da inimizade interna e que gostam de nós como nós somos e nos estão sempre a mostrar o que nós temos de mais bonito. 


A análise do poema continua com conclusão que todos nós temos um inimigo dentro de nós. 

Continuando a soletrar Djaimilia esta diz que às vezes ter um autoinimigo dá jeito pois este desafia-me e eu escrevo contra ele muitas vezes.

Isabel pega na ideia parafraseado no paragrafo anterior fazendo referência aos seus livros onde Djaimilia diz que se desconhece a si mesmo. De procurarmos esse caminho não o que é o conhecimento absoluto mas de nos permitirmos ir por lugares menos conhecidos nossos. Tem a ver com essa inimizade interna também?

Djamilia responde não sei se é mesmo isso, mas tem a ver com a importância de mantermos uma cerimónia connosco mesmos. Às vezes pelo menos a mim dá jeito. Quando estou a escrever dá-me jeito.Às vezes não há fuga possível. Quanto mais escrevo menos percebo quem sou. 

sexta-feira, 3 de janeiro de 2025

Boas memórias

 Gosto de aprender e acima de tudo ensinar. Recordo-me de um dia em Vendas Novas uma aluna do 7º ano ter perguntado com um sorriso. O que é que vamos dar a seguir? Eu respondi vão aprender, aprender é mesmo incrível. Quando eu consigo entrar nos conteúdos sentir-me confortável naquilo que vou dizer o sentimento de bem estar transparece nos alunos e vejo-os felizes. 

O sentimento de reconhecimento do meu trabalho senti-o na reunião final do ano letivo 2022/23, quando me despedi dos pais da minha direção de turma em Vendas Novas. Enquanto diretor de turma tenho muitas lacunas, não tenho perfil para ser diretor de turma. Acumulo problemas, sobre problemas e acabo por não os resolver. No entanto no meu segundo ano em Vendas Novas fiz de tudo para amenizar os meus erros. Trabalhei muito e foquei-me naquilo que interessa e no final do ano letivo quando dei por concluída a minha última reunião de pais, estranhamente vi os pais dirigirem-se a mim a agradecer o meu trabalho, fiquei comovido. Nunca me irei esquecer daquele gesto. Após a última reunião do meu Conselho de turma senti-me leve e com a sensação que cumpri bem as minhas funções. Sabe bem quando vemos o nosso trabalho recompensado. Nessa altura senti que o meu coração derreteu e quebrou-se o gelo que muitas vezes o assola

segunda-feira, 30 de dezembro de 2024

Um desabafo

 texto escrito a  14 de Dezembro (Sábado)

O passado é um fardo que me aporta e me impede de serenar. Quando estou bem relaxo estou bem, quero viver tudo, penso que nunca mais voltarei a ficar mal e facilito, desleixo-me. Aconteceu que na semana passada caí com estrondo e não me consegui ainda levantar. No sábado passado estava bem queria corrigir os testes do 7ºano. Estava feliz porque estava convencido que os testes estavam bons, tinha conseguido lecionar as coordenadas geográficas e sabia que a mensagem tinha passado. Sentia vontade de ver o meu filho jogar em mais um torneio de hóquei, na minha opinião estava tudo sobre controlo. A serenidade latejava e eu estava feliz. Num abrir e fechar de olhos cambaleei, deixei-me vencer pelo cansaço. As aulas começaram a correr a mal, os alunos a comportarem-se mal e eu tornei-me apático e sem reação. Progressivamente fui-me fechando, deixei de interagir, passei a não ter capacidade de resolver problemas e estes avolumaram-se. Não consegui preparar aulas do 7º ano, 9º.

Olho para o dia de ontem e observo o prazer que tive em dar aula ao 7ºC. Tinha a estrutura da aula na cabeça e descrita numa folha de papel. Quando sentia que aula estava a descarrilar agi de forma afirmativa e consegui que a minha mensagem passasse. Na aula do 7ºC tive prazer em expressar os meus conhecimentos, pois percebi que a maior parte dos alunos estava lá pronto a ouvir-me. Isso nem sempre é assim, há alturas que consequência do cansaço perdemos confiança.

Eu luto avidamente pela perfeição pelos sorrisos, sentir que os alunos me acarinham e gostam de mim. Quero à força que isso aconteça e quando penso assim, isso dificilmente acontece. Recordo-me de imensas coisas que eu me agarrei par serenar em todas elas acreditei e em todas acabei por não ver nenhum resultado. Agarrei-me ao desporto. Há uns tempos jogava ténis frequentemente  na esperança  de melhorar, para poder participar em torneios e ganha-los. Em tempos socorri-me da música pois acreditava que era ela a minha saída. Queria saber um número infindável de músicos para me tornar melómano. Acabei por me esgotar e desisti da música tal como desisti do ténis.

A minha procura por saídas para a minha ansiedade esbarra no meu querer alcançar a perfeição. Alcançar a perfeição enquanto docente é o que me tem esgotado mais.  É a profissão que eu desempenho há mais tempo. Insisto em não desfrutar dela e quero de forma insistente idealizar o professor perfeito.

Estamos na fase final do primeiro período e luto contra o tempo para avaliar os trabalhos e dar as notas dos meus alunos sem que hajam dúvidas. Esbarro nos meus erros e dúvidas e insisto em dizer que não consigo  e que não presto. Passo a mensagem de fraqueza à Cecília e até já o disse em frente ao meu filho. Todas essas fraquezas transmitidas a quem está mais próximo de mim deitam-me ainda mais a baixo. Levantar a cabeça é difícil. Encarar de frente os trabalhos do 10º ano  que tenho de corrigir e elaborar as tabelas dos quizizzz realizados pelo 11º ano tornam-se tarefas árduas que eu não tenho forças para vencer. Pôr mãos à obra e deixar o semblante carregado não é uma tarefa fácil, mas quero acreditar que consigo.   


terça-feira, 11 de junho de 2024

A minha visita à minha avó

 Ir ver a minha avó ao lar a Aldeia das Dez são momentos que eu exploro de várias maneiras. 

Gosto de ver a minha avó de olhos abertos a olhar e a falar para mim. Não gosto quando ela está a maior parte do tempo de olhos fechados. Quando a questiono sobre o porquê de ela estar de olhos fechados ela diz-me que gosta de ver o escuro. Eu acabo por respeitar embora não goste. 

Nesta duas últimas visitas trouxe-lhes histórias do Duarte para lhe ler. Eu adoro pegar em coisas para 2 e 3 histórias e interagir com a minha avó , já o fazia em casa da minha mãe. 

A história que lhe li na primeira visita foi " Mia e o balão" enquanto que hoje trouxe um livro da Rita Ferro "As caras da Mãe" 


Consegui perceber pelos olhos que gostou desta nova experiência, consegui que ela saboreasse aquele tempo à sua maneira com entusiasmo.

Quando lhe mostrei a história procurei que ela visse as imagens e as interpretasse à maneira dela, foi muito interessante perceber o que ia na cabeça dela e perceber o que ela estava a entender. 

Na visita de hoje levei-lhe um brinquedo do Duarte, para ela treinar o cérebro e a motricidade das mãos.


Há uns meses já lhe tinha levado este brinquedo, hoje notei-a menos expedita na colocação das peças.


Gostei de estar com a minha avó, apesar de magra sinto que o cérebro ainda reage bem quando estimulado. 

quinta-feira, 25 de abril de 2024

A nossa celebração do 25 de abril em Coimbra

 Hoje fomos a Coimbra celebrar os 50 anos do 25 de abril. 

Saímos a meio da manhã de Oliveira do Hospital, e chegámos a Coimbra, já eram quase 13h. Almoçámos e fomos para a praça da República desfrutar do início da festa e da marcha em direção ao pátio da inquisição. 


Após termos visto a prima Paula Pontes e tomado café com o meu pai descemos em direção ao pátio da inquisição.




 
Estava muita gente e não foi possível ir ao Pátio da Inquisição.
Ainda fomos passear um pouco na baixa até que decidimos voltar para casa. 
Foi uma visita rápida a Coimbra para participar na marcha do 25 de abril.  

sexta-feira, 5 de abril de 2024

POEMA EM LINHA RETA


Nunca conheci quem tivesse levado porrada.

Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.


E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,

Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,

Indesculpavelmente sujo,

Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,

Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,

Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das

etiquetas,

Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,

Que tenho sofrido enxovalhos e calado,

Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;

Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,

Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,

Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,

Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado

Para fora da possibilidade do soco;

Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,

Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.


Toda a gente que eu conheço e que fala comigo

Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,

Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...


Quem me dera ouvir de alguém a voz humana

Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;

Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!

Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.

Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?

Ó príncipes, meus irmãos,


Arre, estou farto de semideuses!

Onde é que há gente no mundo?


Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?


Poderão as mulheres não os terem amado,

Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!

E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,

Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?

Eu, que venho sido vil, literalmente vil,

Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.


Álvaro de Campos  



Uma visita à Terra de Besteiros

 Hoje o plano foi ir para terras de Besteiros e fomos visitar a cidade de Tondela. 

Uma cidade que gira em torno das suas principais tradições locais  como a Olaria e o fiar do linho. Tondela não está muito virada para o turismo é uma cidade mais de passagem e não tanto de pemanecer por lá. 

No passado dia 30 de Março foi nesta cidade que decorreu a peça de teatro acompanhada por uma orquestra intitulada o "Rebentar do Judas". Uma iniciativa cultural fantástica que os meus pais tiveram a sorte de assistir. Foi pena a chuva.

 Quando chegámos a Tondela visitámos o museu municipal que nos deu uma visão muito boa da história do concelho de Tondela. É um museu muito organizado e com uma muito boa apresentação dos temas e com boa conciliação entre o digital e o espólio do museu. 

Depois de almoço fomos passear pelo parque verde da cidade e marcámos o momento com uma fotografia.


Ainda fomos às termas de Sangemil, no entanto ficámos um pouco surpreendidos por um desmazelo que latia sobre aquele local. O rio dão estava com um leito muito bem composto. 



Após esse passeio fomos para Oliveira do Hospital serpenteando o planalto Beirão

quinta-feira, 4 de abril de 2024

Alberto Caeiro II

 Quando vier a primavera,

Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
as árvores não serão menos verdes que na primavera passada.
A realidade não precisa de mim.
Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma.
Se soubesse que amanhã morria
E a primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.
Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é.
Alberto Caeiro in Poemas inconjuntos

Alberto Caeiro

 Adoro este poema de Alberto Caeiro

Se eu pudesse trincar a terra toda
Se eu pudesse trincar a terra toda
E sentir-lhe um paladar,
E se a terra fosse uma coisa para trincar
Seria mais feliz um momento...
Mas eu nem sempre quero ser feliz.
É preciso ser de vez em quando infeliz
Para se poder ser natural...
Nem tudo é dias de sol,
E a chuva, quando falta muito, pede-se.
Por isso tomo a infelicidade com a felicidade
Naturalmente, como quem não estranha
Que haja montanhas e planícies
E que haja rochedos e erva...
O que é preciso é ser-se natural e calmo
Na felicidade ou na infelicidade,
Sentir como quem olha,
Pensar como quem anda,
E quando se vai morrer, lembrar-se de que o dia morre,
E que o poente é belo e é bela a noite que fica...
Assim é e assim seja..
Alberto Caeiro

quarta-feira, 3 de abril de 2024

Uma visita à serra da Estela.

 Planeámos ir à serra da estrela. No dia 2 de Março choveu muito e só conseguimos desfrutar de neve a sério na Lagoa Comprida 


Na lagoa  comprida almoçámos, bebemos um café e deleitámo-nos com as vistas. Antes de ir à Lagoa comprida passámos nos vale do Rossim onde o leito da lagoa era muito maior do que aquele que nos banhamos no verão. Infelizmente a neve naquele local era pouca e decidimos subir mais uns metros em altitude. A estrada para chegar ao vale do rossim encontrava-se em muito mau estado. 

Após o almoço subimos mais uns metros e pudemos desfrutar de uma bela meia hora a descer e subir uma vertente mais inclinada.



Subimos à torre, mas devido ao caos que por lá estava decidimos descer para Manteigas para lanchar não sem antes parar no Covão da'metade para tirar uma fotografia. 


Descemos a Manteigas a partir do vale glaciar, lanchamos e fomos para Oliveira do Hospital.




terça-feira, 2 de abril de 2024

O poema ensina a cair

  Volto ao podcast o poema ensina a cair quando preciso de um momento para parar e gerir a turbulência que reina à minha volta.

Cito o poema de Daniel Faria:
Houvesse um sinal a conduzir-nos
E unicamente ao movimento de crescer nos guiasse. Termos das árvores
A incomparável paciência de procurar o alto
A verde bondade de permanecer
E orientar os pássaros
Ouvi a entrevista da Carminho e este poema fixou-me e fez-me pensar. A importância da serenidade e de procurarmos pilares que nos dão estabilidade.

domingo, 14 de janeiro de 2024

O nosso domingo

 Hoje o dia de domingo o Duarte teve inúmeras ideias para preencher o seu tempo.

Após ter deixado o tablet sentei-me junto dele na sala e ele disse:

Pai vou esconder os cromos, depois tens de os encontrar.

Enquanto +procurava fiquei deliciado com a memória que ele teve para esconder 15 cromos em sítios diferentes e lembrar-se onde estavam.

Após esconder cromos decidiu esconder vogais. Depois inverteram-se os papeis e fui eu a esconder. 

sábado, 13 de janeiro de 2024

Uma aula caótica

 Eu tenho uma turma onde os alunos são bons a muito bons a nível de aprendizagem mas portam-se muito mal em contexto sala de aula.

Nesta aula chateei-me várias vezes com eles, parei várias vezes a aula os resultados foram baixos.

Fiz uma aula pausada por várias momentos pois era constantemente interrompido. 

Não dei tudo o que tinha pensado.

Acabei a aula deixando no ar um tema. Grande parte dos alunos da turma saiu no entanto vieram dois  no final e disseram-me o seguinte:

O primeiro disse-me: Aquele lado da sala portou-se muito mal mas nós não 

O segundo: Professor o que é que ia dizer quando a aula foi interrompida pelo toque de saída?

Com este testemunho quero dar a entender que vale tentar e não desistir, e que haverá sempre gente que não nos quer ouvir, mas sabe bem quando ouvimos mimos destes dos alunos, sobretudo quando percebemos que são verdadeiros.