sexta-feira, 4 de abril de 2025

Interpretação do poema "Comigo me desavim"

COMIGO ME DESAVIM

Comigo me desavim,

Sou posto em todo perigo;

Não posso viver comigo

Nem posso fugir de mim.


Com dor da gente fugia,

Antes que esta assi crecesse:

Agora já fugiria

De mim, se de mim pudesse.

Que meio espero ou que fim

Do vão trabalho que sigo,

Pois que trago a mim comigo

Tamanho imigo de mim?


Francisco Sá de Miranda (poeta fins do século XV)


Ouvi este poema no episódio com Djaimilia Pereira de Almeida do podcast o poema ensina a cair. Recorro a este podcast sempre que pretendo um equilíbrio. Não me canso de o ouvir. 


Neste poema me revejo., parafraseando Djaimilia " descreve os meus dias"


Citando a interpretação do poema por Djaimilia:


"Estamos destinados a nós, cada um está destinado a si próprio e isso às vezes é um aborrecimento. Por exemplo  Isto acontece quem esteja a falar de um jovem de 14 anos ou de um capitão nos últimos anos de vida é sempre Djaimila"


Ela quando se refere à sua prosa e à descrição das suas personagens refere-se sempre às vivências e às leituras dela própria 


Continuando a soletrar Djaimilia este refere ao fotógrafo Norte Americano Garry Winogrand que a certa altura diz "Estou preso a mim, por mais que eu fotografe nunca posso ter um ponto de vista que não seja o meu." Djamilia diz que literatura é a mesma coisa pois ela é todas as personagens. 


Isabel Marinho (apresentadora do podcast) começa por soletrar os últimos dois versos "pois trago a mim comigo; também inimigo de mim, isso dá-nos uma visão um bocadinho desalentada no sentido em que não há grande saída.


A Djaimilia sobre esses dois últimos versos refere o seguinte:


"Eu à vezes transporto essa inimiga e ao mesmo tempo é como ver-me ao espelho e parecer que não sou a pessoa mais triste do mundo. Escrever é uma das coisas que me ajuda nisso. Escrever ajuda-me a fazer as pazes comigo, a resignar-me e encontrar aquilo que me dá esperança, encontrar o lado mais bonito das coisas. É importante relevar as pessoas amigas que não querem saber disso, não querem saber da inimizade interna e que gostam de nós como nós somos e nos estão sempre a mostrar o que nós temos de mais bonito. 


A análise do poema continua com conclusão que todos nós temos um inimigo dentro de nós. 

Continuando a soletrar Djaimilia esta diz que às vezes ter um autoinimigo dá jeito pois este desafia-me e eu escrevo contra ele muitas vezes.

Isabel pega na ideia parafraseado no paragrafo anterior fazendo referência aos seus livros onde Djaimilia diz que se desconhece a si mesmo. De procurarmos esse caminho não o que é o conhecimento absoluto mas de nos permitirmos ir por lugares menos conhecidos nossos. Tem a ver com essa inimizade interna também?

Djamilia responde não sei se é mesmo isso, mas tem a ver com a importância de mantermos uma cerimónia connosco mesmos. Às vezes pelo menos a mim dá jeito. Quando estou a escrever dá-me jeito.Às vezes não há fuga possível. Quanto mais escrevo menos percebo quem sou.